(RV) Pouco
depois das 9 da manhã em Filadélfia (15 horas de Roma) o Papa Francisco
teve encontro, no Seminário S. Carlos Borromeu, com os Bispos
presentes no Encontro Mundial das Famílias. No seu discurso, Francisco
fez uma reflexão sobre a família que, para a Igreja, disse, não é motivo
de preocupação, mas a feliz confirmação da bênção de Deus à obra-prima
da criação. A Igreja tem motivos para se alegrar – disse - pelo dom das
numerosas famílias que, mesmo nas mais duras provas, honram as promessas
e guardam a fé. E assim, a desafiadora transição de época que estamos a
viver, requer dos pastores um reconhecimento desta realidade:
“A estima e a gratidão devem
prevalecer sobre o lamento, apesar de todos os obstáculos que
enfrentamos. A família é o lugar fundamental da aliança da Igreja com a
criação de Deus. Sem a família, a Igreja também não existiria: não
poderia ser aquilo que deve ser, isto é, sinal e instrumento da unidade
do género humano”
Mas existe, adverte Francisco, uma
profunda transformação do contexto actual, que incide sobre a cultura
social e legal dos laços familiares e que nos afecta a todos, crentes e
não-crentes. E o cristão não está «imune» das mudanças do seu tempo:
“Em tempos passados, vivíamos num
contexto social em que as afinidades entre a instituição civil e o
sacramento cristão eram substanciais e compartilhadas: os dois estavam
interligados e apoiavam-se mutuamente. Agora já não é assim”.
E, para descrever a situação actual,
Francisco usa duas imagens típicas da sociedade de hoje: as lojas ou
pequenos negócios e os grandes supermercados. Ao clima de confiança e
proximidade que antes havia substituiu-se um outro em que o próximo
deixou de ser importante:
“O mundo parece que se tornou um
grande supermercado, onde a cultura adquiriu uma dinâmica competitiva.
Já não se vende a crédito, não se pode confiar nos outros. Não há
ligação pessoal, relação de vizinhança … E isto também a nível
religioso. O consumo é que determina o que é importante hoje. Consumir
relações, consumir amizades, consumir religiões, consumir, consumir...
Um consumo que não gera ligações e pouco tem a ver com as relações
humanas … o próximo, com o seu rosto, com a sua história, com os seus
afectos, deixou de ser importante”
Este comportamento, continua o Papa,
gera uma cultura que descarta tudo aquilo que já «não serve» ou «não
satisfaz» os gostos do consumidor, e isto provoca uma grande ferida, uma
solidão radical a que se vêem forçadas muitas pessoas nesta sociedade
contemporânea.
Mas seria erro, adverte o Papa, se interpretássemos a desafeição que a
cultura do mundo actual tem pelo matrimónio e a família só em termos de
puro e simples egoísmo. Será que os jovens deste tempo se tornaram
todos irremediavelmente medrosos, frágeis, inconsistentes? – se pergunta
o Papa. Muitos jovens – explica Francisco - no quadro desta cultura,
interiorizaram uma espécie de medo inconsciente que os paralisa
relativamente aos impulsos mais belos e mais altos, e também mais
necessários. Há muitos que adiam o matrimónio à espera de condições
ideais de bem-estar:
“No Congresso há alguns dias dizia
que estamos a viver numa cultura que impulsiona e convence os jovens a
não fundar uma família, uns por falta de meios materiais para fazê-lo e
outros por terem tantos meios que estão muito cómodos assim. Mas esta é a
tentação: não fundar uma família”.
Mas nós pastores, sublinhou
Francisco, seguindo os passos do Pastor, somos convidados a procurar,
acompanhar, erguer, curar as feridas do nosso tempo. Como pastores,
somos chamados a reunir as forças e a relançar o entusiasmo pelo
nascimento de famílias que correspondam mais plenamente à bênção de
Deus, segundo a sua vocação. E o Papa exortou os bispos a investir
energias não tanto para explicar os defeitos da actual condição hodierna
e os valores do cristianismo, quanto sobretudo para convidar com
audácia os jovens a serem ousados na opção do matrimónio e da família. O
pastor deve mostrar que o «Evangelho da família» é verdadeiramente a
«boa notícia» num mundo em que a atenção para consigo mesmo parece
reinar soberana, reiterou Francisco.
E a terminar o Papa disse que, na
perspectiva da fé, o tema da família é precioso e que o mistério dos
bispos tem necessidade de desenvolver a aliança da Igreja e da família,
caso contrário, definha e a família humana distanciar-se-á
irremediavelmente da boa notícia dada por Deus. – “A família é o nosso
aliado, a nossa janela aberta para o mundo, a evidência duma bênção
irrevogável de Deus destinada a todos os filhos desta história difícil e
maravilhosa da criação que Deus nos pediu para servir!” – concluiu o
Papa. (BS)
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