(RV) Deixemos que o
olhar de Cristo “nos devolva a alegria, a esperança”: foi a exortação
do Papa Francisco na Missa desta segunda-feira, celebrada em Holguín,
terceira cidade de Cuba por número de habitantes, na qual o Pontífice,
atendo-se ao Evangelho do dia, reflectiu sobre a conversão do apóstolo e
evangelista São Mateus.
Ressaltando que celebramos a história de uma conversão, o Santo Padre
evidenciou que é o próprio apóstolo e evangelista a contar-nos o
encontro que marcou a sua vida, introduzindo-nos numa “troca de olhares”
que pode transformar a história.
Francisco observou que Mateus era um publicano, ou seja, era um
cobrador de impostos: cobrava os impostos dos judeus para os entregar
aos romanos.
“Os publicanos eram mal vistos e até considerados pecadores, pelo que
viviam separados e eram desprezados pelos outros. Com eles, não se
podia comer, falar nem rezar. Eram considerados pelo povo como
traidores: tiravam da sua gente para dar aos outros. Os publicanos
pertenciam a esta categoria social.”
Diversamente, Jesus parou, não passou ao largo acelerando o passo,
olhou-o sem pressa, com calma. Olhou-o com olhos de misericórdia;
olhou-o como ninguém o fizera antes. “E este olhar abriu o seu coração,
fê-lo livre, curou-o, deu-lhe uma esperança, uma nova vida, como a
Zaqueu, a Bartimeu, a Maria Madalena, a Pedro e também a cada um de
nós”, frisou o Pontífice.
“Ainda que não ousemos levantar os olhos para o Senhor, Ele é o
primeiro a olhar-nos. É a nossa história pessoal – continuou –; tal como
muitos outros, cada um de nós pode dizer: eu também sou um pecador,
sobre quem Jesus pousou o seu olhar.”
“O seu amor precede-nos, o seu olhar antecipa-se à nossa necessidade.
Jesus sabe ver para além das aparências, para além do pecado, do
fracasso ou da nossa indignidade. Sabe ver para além da categoria social
a que possamos pertencer. Para além de tudo isso, Ele vê a dignidade de
filho, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no fundo da
nossa alma. Veio precisamente à procura de todos aqueles que se sentem
indignos de Deus, indignos dos outros. Deixemo-nos olhar por Jesus,
deixemos que o seu olhar percorra as nossas veredas, deixemos que o seu
olhar nos devolva a alegria, a esperança.”
O olhar de Jesus gera uma actividade missionária, de serviço, de
entrega. “O seu amor cura as nossas miopias e incita-nos a olhar mais
além, a não nos determos nas aparências ou no politicamente correto”,
continuou Francisco.
“Jesus vai à frente, precede-nos, abre o caminho e convida-nos a
segui-Lo.” Convida-nos a ir superando lentamente os nossos preconceitos,
as nossas resistências à mudança dos outros e até de nós mesmos.
Desafia-nos dia a dia com a pergunta, propôs o Pontífice: “Crês tu?
Crês que é possível que um cobrador de impostos se transforme num
servidor? Crês que é possível um traidor transformar-se num amigo? Crês
que é possível o filho de um carpinteiro ser o Filho de Deus? O seu
olhar transforma os nossos olhares, o seu coração transforma o nosso
coração. Deus é Pai que procura a salvação de todos os seus filhos.”
Antes de concluir, o Papa fez uma nova exortação: “Aprendamos a olhar
como Ele nos olha. Partilhemos a sua ternura e misericórdia pelos
doentes, os presos, os idosos e as famílias em dificuldade. Uma vez mais
somos chamados a aprender de Jesus, que sempre olha o que há de mais
autêntico em cada pessoa, isto é, a imagem de seu Pai”.
Por fim, o Papa voltou o seu olhar para a realidade eclesial na Ilha
caribenha dizendo saber do grande esforço e sacrifício com que a Igreja
em Cuba trabalha para levar a todos, mesmo nos lugares mais remotos, a
Palavra e a presença de Cristo.
Menção especial merecem aqui as chamadas “casas de missão”,
acrescentou, “que permitem a muitas pessoas, dada a escassez de templos e
sacerdotes, ter um espaço para a oração, a escuta da Palavra, a
catequese e a vida comunitária”. São pequenos sinais da presença de Deus
nesta terra, conclui o Pontífice. (BS/RL)
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