Basílica de São Pedro, Noite de Natal com o Papa e o Menino Jesus (@Vatican Media) |
A caridade que não se habitua à injustiça como se fosse algo natural, mas tem a coragem, no meio de tensões e conflitos, de se fazer «casa do pão», terra de hospitalidade”, disse Francisco na homilia.
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Cristiane Murray - Cidade do Vaticano
A Basílica Vaticana ficou pequena na noite deste domingo (24/12) para
acolher os fiéis na missa da vigília de Natal presidida pelo Papa Francisco.
Telões instalados na Praça São Pedro possibilitaram a participação, apesar do frio, de milhares de pessoas.
A homilia do Papa, inspirada do Evangelho de Lucas, começou com a
reflexão sobre aquela narração simples do acontecimento que mudou para
sempre a nossa história. Tudo, naquela noite, na manjedoura, se tornava
fonte de esperança: Maria deu à Luz”.
Esperanças no meio de incertezas e perigos
Francisco recordou a trajetória de Maria e José, obrigados a partir
deixando os parentes, a sua casa, a sua terra, numa viagem nada confortável
nem fácil para um casal jovem que estava para ter um bebé: foram
forçados a deixar a sua terra. E o pior, quando chegaram a Belém,
sentiram que era uma terra onde não havia lugar para eles.
“Mas foi precisamente lá, naquela realidade que se revelava um
desafio, que Maria nos presenteou com o Emanuel, lá acende-se a centelha
revolucionária da ternura de Deus. Em Belém, criou-se uma pequena
abertura para aqueles que perderam a terra, a pátria, os sonhos; mesmo
para aqueles que sucumbiram à asfixia produzida por uma vida fechada”.
Nos passos de José e Maria, escondem-se tantos passos
O Papa Francisco lembrou aquela realidade confrontando-a com os factos
do presente: “Nos passos de José e Maria, vemos hoje as pegadas de
famílias inteiras que são obrigadas a partir, milhões de pessoas que
não escolhem partir, mas são obrigadas a separarem-se dos seus entes
queridos, são expulsas da sua terra”.
Afirmando que “em muitos casos, esta partida está carregada de
esperança, carregada de futuro”; ressaltou que “em tantos outros, a
partida tem apenas um nome: sobrevivência".
“Maria e José, para quem não havia lugar, são os primeiros a abraçar
Aquele que nos vem dar a todos o documento de cidadania; Aquele que, na
sua pobreza e pequenez, denuncia e mostra que o verdadeiro poder e a
autêntica liberdade são os que honram e socorrem a fragilidade do mais
fraco”, reiterou Francisco.
Pastores não observavam as prescrições rituais de purificação religiosa
Descrevendo ainda o contexto daquela época em Belém, o Papa mencionou
a figura dos pastores, homens e mulheres que viviam à margem da
sociedade, eram considerados impuros pela cor de sua pele, as roupas, o
odor, o modo de falar, a origem: neles tudo gerava desconfiança. Mas foi
a eles que o anjo anunciou o nascimento do Salvador, eles foram os
primeiros destinatários da Boa Notícia.
A fé impele-nos a abrir espaço a uma nova imaginação social
“Eis a alegria a que somos convidados a partilhar, celebrar e anunciar
nesta noite. A alegria com que Deus, na sua infinita misericórdia, nos
abraçou a nós, pagãos, pecadores e estrangeiros, e nos impele a fazer o mesmo”.
“Ele está no visitante indiscreto, muitas vezes irreconhecível, que
caminha pelas nossas cidades, pelos nossos bairros, viajando nos nossos
transportes públicos, batendo às nossas portas.”
E como pedido final da homilia, disse:
“Não tenhamos medo de experimentar novas formas de relacionamento;
Natal é tempo para transformar a força do medo em força da caridade, em
força para uma nova imaginação da caridade. A caridade que não se
habitua à injustiça como se fosse algo natural, mas tem a coragem, no
meio de tensões e conflitos, de se fazer «casa do pão», terra de
hospitalidade”.
Deus vem ao nosso encontro para nos tornar protagonistas da vida que nos rodeia
Citando a primeira homilia do Pontificado de São João Paulo II,
Francisco exortou: «Não tenham medo! Abram, ou, escancarem as portas a
Cristo».
“Menino pequenino de Belém, pedimo-Vos que o vosso choro nos desperte
da nossa indiferença, abra os olhos perante quem sofre. A vossa ternura
desperte a nossa sensibilidade e nos faça sentir convidados a
reconhecer-Vos em todos aqueles que chegam às nossas cidades, às nossas
histórias, às nossas vidas. Que a vossa ternura revolucionária nos
persuada a sentirmo-nos convidados a cuidar da esperança e da ternura do
nosso povo”, concluiu.
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