(RV) Para Francisco o dia iniciou com a Santa
Missa privada, depois da qual deixou a Nunciatura Apostólica, de carro,
rumo à "Casa de Madre Teresa" (no Bairro de Tejgaon), no complexo
paroquial da Igreja do Santo Rosário, que compreende a antiga Igreja
portuguesa e também abriga dois cemitérios cristãos.
Tejgaon é o coração missionário de Bangladesh, onde em 1580 os padres
agostinianos portugueses obtiveram do governador imperial, a permissão
para construir uma igreja e lojas para os comerciantes portugueses.
O Papa abençoou os túmulos onde repousam muitos missionários e,
dentro da Casa das Irmãs de Madre Teresa, abraçou e saudou alguns
internados, órfãos e doentes. Em seguida, a passagem para a Igreja do
Santo Rosário para o encontro com cerca de 1500 religiosos, sacerdotes,
consagrados, seminaristas e noviços, a quem Francisco deu os seus
conselhos para uma boa vida comunitária.
Antes do pronunciamento do Santo Padre, um sacerdote, um missionário,
uma religiosa, um religioso e um seminarista haviam dado os seus
testemunhos. “A vocação é uma semente que se deve tratar e fazer crescer
com ternura, prestando atenção ao diabo que semeia joio e rezando para
distinguir a boa semente da semente má”, foram algumas das palavras do
Pontífice que falou, espontaneamente e em espanhol, tendo entregue aos
presentes o discurso preparado.
Nas vossas comunidades de bispos, sacerdotes, religiosos e
religiosas, seminaristas, estejam atentos, prosseguiu o Papa, atentos à
divisão causada pelas fofocas, inimigas da harmonia, e se tendes algo a
dizer a um confrade, fazei-o face a face – enfatizou Francisco. E,
finalmente, concluiu, nada de rostos tristes, mesmo na dor e nas
dificuldades, buscai a paz e encontrai a alegria, foi o encorajamento do
Papa.
Apresentamos a seguir, na íntegra, o discurso preparado e entregue pelo Papa aos consagrados:
Amados irmãos e irmãs!
Sinto-me muito feliz por estar convosco. Agradeço ao Arcebispo Moses
[Costa] a calorosa saudação que me fez em vosso nome. Estou
especialmente agradecido a quantos ofereceram os seus testemunhos e
partilharam connosco o seu amor a Deus. Expresso a minha gratidão também
ao Padre Mintu [Palma] por ter composto a oração que, em breve,
recitaremos a Nossa Senhora. Como sucessor de Pedro, é meu dever
confirmar-vos na fé. Mas gostaria que soubésseis que hoje, através das
vossas palavras e da vossa presença, também vós me confirmais na fé e me
dais uma grande alegria.
A Comunidade católica no Bangladesh é pequena. Mas sois como o grão
de mostarda que Deus, no tempo devido, fará árvore perfeita (cf. Mt 13,
31-32). Alegro-me por ver como cresce este grão e por ser testemunha
direta da fé profunda que Deus vos deu. Penso nos missionários dedicados
e fiéis que plantaram e cuidaram deste grão de fé durante quase cinco
séculos. Em breve, visitarei o cemitério e rezarei por estes homens e
mulheres que serviram, com tanta generosidade, esta Igreja local.
Pousando os olhos em vós, vejo missionários que continuam esta santa
obra. Vejo também muitas vocações nascidas nesta terra: são um sinal das
graças com que o Senhor a está a abençoar. Uma alegria particular me
dão as irmãs de clausura com a sua presença entre nós e as suas orações.
É significativo que o nosso encontro tenha lugar nesta antiga Igreja
do Santo Rosário. O Rosário é uma meditação magnífica sobre os mistérios
da fé que são a seiva vital da Igreja; uma oração que forja a vida
espiritual e o serviço apostólico. Quer sejamos sacerdotes, religiosos,
consagrados, seminaristas ou noviços, a oração do Rosário incentiva-nos a
dar as nossas vidas completamente a Cristo, em união com Maria.
Convida-nos a participar na solicitude de Maria para com Deus no momento
da Anunciação, na compaixão de Cristo por toda a humanidade quando está
pregado na cruz e na alegria da Igreja quando recebe, do Senhor
ressuscitado, o dom do Espírito Santo.
A solicitude de Maria. Terá havido, ao longo da história, uma pessoa
tão solícita como Maria no momento da Anunciação? Deus preparou-A para
aquele momento e Ela respondeu com amor e confiança. Assim também o
Senhor preparou cada um de nós e nos chamou pelo nome. Responder a tal
chamada é um processo que dura toda a vida. Cada dia, somos chamados a
aprender a ser mais solícitos para com o Senhor na oração, meditando as
suas palavras e procurando discernir a sua vontade. Sei que o trabalho
pastoral e o apostolado exigem muito de vós e que muitas vezes as vossas
jornadas são longas e vos deixam cansados. Mas não podemos levar o nome
de Cristo ou participar na sua missão, sem sermos antes de tudo homens e
mulheres radicados no amor, inflamados pelo amor, através do encontro
pessoal com Jesus na Eucaristia e nas palavras da Sagrada Escritura.
Isto mesmo nos lembraste, Padre Abel, quando falaste da importância de
intensificar uma relação íntima com Jesus, porque nela experimentamos a
sua misericórdia e dela recebemos uma nova energia para servir os
outros.
A solicitude pelo Senhor permite-nos ver o mundo através dos olhos
d’Ele e, deste modo, tornar-nos mais sensíveis às necessidades daqueles a
quem servimos. Começamos a entender as suas esperanças e alegrias, os
medos e pesos, vemos de forma mais clara os numerosos talentos, carismas
e dons que trazem para construir a Igreja na fé e na santidade. Irmão
Lawrence, ao falares do teu eremitério, ajudaste-nos a compreender a
importância de cuidar das pessoas procurando saciar a sua sede
espiritual. Que todos vós possais, na grande variedade dos vossos
serviços de apostolado, ser uma fonte de restauração espiritual e de
inspiração para aqueles que servis, tornando-os capazes de partilhar
cada vez mais plenamente os seus dons entre eles, promovendo a missão da
Igreja.
A compaixão de Cristo. O Rosário introduz-nos na meditação da paixão e
morte de Jesus. Penetrando mais profundamente nestes mistérios
dolorosos, chegamos a conhecer a sua força salvífica e sentimo-nos
confirmados na vocação de tomar parte neles com as nossas vidas, com a
compaixão e o dom de nós mesmos. O sacerdócio e a vida religiosa não são
carreiras. Não são veículos para avançar. São um serviço, uma
participação no amor de Cristo que Se sacrifica pelo seu rebanho.
Configurando-nos diariamente Àquele que amamos, chegamos a apreciar o
facto de que as nossas vidas não nos pertencem. Já não somos nós que
vivemos, mas é Cristo que vive em nós (cf. Gal 2, 20).
Encarnamos esta compaixão quando acompanhamos as pessoas,
especialmente nos seus momentos de sofrimento e provação, ajudando-as a
encontrar Jesus. Obrigado, Padre Franco, por teres colocado este aspeto
em primeiro plano: cada um de nós é chamado a ser um missionário,
levando o amor misericordioso de Cristo a todos, especialmente a quantos
estão nas periferias das nossas sociedades. Sinto-me particularmente
agradecido, porque muitos de vós estão comprometidos, de tantos modos,
nos campos do serviço social, da saúde e da educação, atendendo às
necessidades das vossas comunidades locais e dos numerosos migrantes e
refugiados que chegam ao país. O vosso serviço à comunidade humana mais
alargada, especialmente àqueles que estão mais necessitados, é precioso
para construir uma cultura do encontro e da solidariedade.
A alegria da Igreja. Por fim, o Rosário enche-nos de alegria pelo
triunfo de Cristo sobre a morte, pela sua ascensão à direita do Pai e a
efusão do Espírito Santo sobre o mundo. Todo o nosso ministério tem em
vista proclamar a alegria do Evangelho. Na vida e no apostolado, todos
estamos bem cientes dos problemas do mundo e dos sofrimentos da
humanidade, mas nunca perdemos a confiança no facto que a força do amor
de Cristo prevalece sobre o mal e sobre o Príncipe da mentira, que nos
procura enganar. Nunca vos deixeis desanimar pelas vossas falhas ou
pelos desafios do ministério. Se permanecerdes solícitos para com o
Senhor na oração e perseverardes na oferta da compaixão de Cristo aos
vossos irmãos e irmãs, então o Senhor encherá certamente os vossos
corações com a alegria reconfortante do seu Espírito Santo.
Irmã Mary Chandra, partilhaste connosco a alegria que brota da tua
vocação religiosa e do carisma da tua Congregação. Marcelius, também tu
nos falaste do amor que tu e os teus companheiros do Seminário tendes
pela vocação ao sacerdócio. Lembrastes-nos, ambos, que todos somos
chamados dia-a-dia a renovar e aprofundar a nossa alegria no Senhor,
esforçando-nos por imitá-Lo cada vez mais plenamente. Ao princípio, isto
pode parecer árduo, mas enche os nossos corações de alegria espiritual.
Com efeito, cada dia torna-se uma oportunidade para começar mais uma
vez, responder de novo ao Senhor. Nunca desanimeis, porque a paciência
do Senhor é para nossa salvação (cf. 2 Ped 3, 15). Alegrai-vos sempre no
Senhor!
Queridos irmãos e irmãs, agradeço a vossa fidelidade em servir a
Cristo e à sua Igreja, através do dom da vossa vida. Asseguro a minha
oração por todos vós e peço a vossa por mim. Voltemo-nos agora para
Nossa Senhora, para a Rainha do Santo Rosário, pedindo-Lhe que nos
obtenha, a todos, a graça de crescer em santidade e ser testemunhas
sempre mais alegres da força do Evangelho, para levar cura,
reconciliação e paz ao nosso mundo.
Daca, Igreja do Santo Rosário, 2 de dezembro de 2017
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