Daca
(RV) - Realizou-se, nesta sexta-feira (1º/12), no Arcebispado de Daca,
em Bangladesh, o encontro inter-religioso e ecuménico pela paz, no
âmbito da 21ª viagem apostólica do Papa Francisco.
Antes do discurso do Pontífice, houve danças tradicionais, hinos, a
saudação do Arcebispo de Daca, Cardeal Patrick D'Rozario, e de cinco
representantes das comunidades religiosas e da sociedade civil, e também
o canto pela paz. “O desejo de harmonia, fraternidade e paz encarnado
nos ensinamentos das religiões do mundo”, caracterizou esse momento como
apontado pelo Papa Francisco.
O Papa agradeceu ao Cardeal D'Rozario, pelas suas amáveis palavras de
boas-vindas e a todos que o acolheram calorosamente em nome das
comunidades muçulmana, hinduísta, budista, cristã, e da sociedade civil.
Francisco agradeceu ainda ao Bispo anglicano de Daca, às várias
comunidades cristãs e a todos aqueles que tornaram possível este
encontro.
“O nosso encontro, disse Francisco, que reúne os representantes das
diversas comunidades religiosas deste país, constitui um momento muito
significativo da minha visita a Bangladesh. Reunimo-nos para aprofundar a
nossa amizade e para exprimir o desejo comum do dom duma paz genuína e
duradoura”, disse o Pontífice em seu discurso.
“Que o nosso encontro desta tarde seja um sinal claro dos esforços
empreendidos pelos líderes e seguidores das religiões presentes neste
país para viverem juntos no respeito mútuo e na boa vontade. Em
Bangladesh, onde o direito à liberdade religiosa é um princípio
fundamental, que este compromisso seja um apelo respeitoso, mas firme,
para quem procura fomentar divisão, ódio e violência em nome da
religião.”
Segundo o Papa, “constitui um sinal particularmente reconfortante dos
nossos tempos o fato de os fiéis e pessoas de boa vontade se sentirem
cada vez mais chamados a cooperar na formação duma cultura do encontro,
diálogo e colaboração a serviço da família humana. Isto requer, observou
o Pontífice, mais do que uma simples tolerância; estimula-nos a
estender a mão ao outro numa atitude de mútua confiança e compreensão,
para construir uma unidade que considere a diversidade, não como ameaça,
mas como potencial fonte de enriquecimento e crescimento. Anima a
exercitar-nos na abertura do coração, para ver os outros como um caminho
e não como um obstáculo.”
A seguir, Francisco citou algumas características essenciais dessa
«abertura do coração», condição essencial para uma cultura do encontro.
A primeira, “é uma porta”. “Não é uma teoria abstracta, mas uma
experiência vivenciada. Permite-nos empreender, não um mero intercâmbio
de ideias, mas um diálogo de vida. Requer boa vontade e acolhimento, mas
não deve ser confundida com a indiferença ou a hesitação em exprimir as
nossas convicções mais profundas. Comprometer-se frutuosamente com o
outro significa partilhar as nossas diferentes identidades religiosas e
culturais, mas sempre com humildade, honestidade e respeito.”
Segundo o Papa, “a abertura do coração é semelhante também a uma
escada que alcança o Absoluto. Por isso, sublinhou ainda o Papa, ao
lembrar esta dimensão transcendente da nossa atividade, damo-nos conta
da necessidade de purificar os nossos corações, para podermos ver todas
as coisas na sua verdadeira perspectiva. Passo a passo, tornar-se-á mais
clara a nossa visão e receberemos a força para perseverar no
compromisso de compreender e valorizar os outros e o seu ponto de vista.
Assim, encontraremos a sabedoria e a força necessárias para estender a
todos a mão da amizade”.
Por fim, “a abertura do coração é também um caminho, que leva à busca
da bondade, justiça e solidariedade. Induz a procurar o bem do nosso
próximo. Assim exortou São Paulo, na sua carta aos cristãos de Roma:
«Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem». Trata-se,
acrescentou o Pontífice, de um sentimento que todos nós podemos imitar.
A solicitude religiosa pelo bem do nosso próximo, que brota dum
coração aberto, flui como um grande rio, irrigando as terras áridas e
desertas do ódio, da corrupção, da pobreza e da violência que lesa
imensamente as vidas humanas, divide as famílias e desfigura o dom da
criação.”
Segundo Francisco, “as várias comunidades religiosas de Bangladesh
abraçaram de modo particular este caminho no compromisso pelo cuidado da
terra, nossa casa comum, e na resposta aos desastres naturais que
afligiram a nação nos últimos anos. Penso também, disse, na manifestação
colectiva de pesar, oração e solidariedade que se seguiu ao trágico
desabamento do Ramna Plaza, que permanece gravado na mente de todos.
Nestas expressões, vemos como o caminho da bondade leva à cooperação no
serviço aos outros”.
Mas entretanto, Francisco alerta que “um mero espírito de abertura,
aceitação e cooperação entre os fiéis não é simplesmente mais uma
contribuição para uma cultura de harmonia e de paz; é o seu coração
pulsante.
Quanto necessita o nosso mundo que este coração bata com força, para
contrastar o vírus da corrupção política, as ideologias religiosas
destrutivas, a tentação de fechar os olhos às necessidades dos pobres,
dos refugiados, das minorias perseguidas e dos mais vulneráveis! Quanta
abertura é necessária para acolher as pessoas ao nosso redor,
especialmente os jovens que às vezes se sentem sozinhos e confusos na
busca do sentido da vida!”
O Papa concluiu o seu discurso, agradecendo aos líderes religiosos
pelos esforços na promoção da cultura do encontro, e reza para que todos
os fiéis possam ser ajudados a crescer na “sabedoria e na santidade e a
colaborarem na construção de um mundo cada vez mais humano, unido e
pacífico”.
Sem comentários:
Enviar um comentário