(RV) - Foi publicada hoje a mensagem do Papa Francisco para o XXVI Dia Mundial do Doente. Eis na íntegra, o texto do Papa:
Mater Ecclesiae: «“Eis o teu filho! (…) Eis a tua mãe!”
E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua»(Jo 19, 26-27)
Queridos irmãos e irmãs!
O serviço da Igreja aos doentes e a quantos cuidam deles deve
continuar, com vigor sempre renovado, por fidelidade ao mandato do
Senhor (cf. Lc 9, 2-6, Mt 10, 1-8; Mc 6, 7-13) e seguindo o exemplo
muito eloquente do seu Fundador e Mestre.
Este ano, o tema do Dia do Doente é tomado das palavras que Jesus, do
alto da cruz, dirige a Maria, sua mãe, e a João: «“Eis o teu filho! (…)
Eis a tua mãe!” E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-A como sua»
(Jo 19, 26-27).
1. Estas palavras do Senhor iluminam profundamente o mistério da
Cruz. Esta não representa uma tragédia sem esperança, mas o lugar onde
Jesus mostra a sua glória e deixa amorosamente as suas últimas vontades,
que se tornam regras constitutivas da comunidade cristã e da vida de
cada discípulo.
Em primeiro lugar, as palavras de Jesus dão origem à vocação materna
de Maria em relação a toda a humanidade. Será, de uma forma particular, a
mãe dos discípulos do seu Filho e cuidará deles e do seu caminho. E,
como sabemos, o cuidado materno dum filho ou duma filha engloba tanto os
aspetos materiais como os espirituais da sua educação.
O sofrimento indescritível da cruz trespassa a alma de Maria (cf. Lc
2, 35), mas não a paralisa. Pelo contrário, lá começa para Ela um novo
caminho de doação, como Mãe do Senhor. Na cruz, Jesus preocupa-Se com a
Igreja e toda a humanidade, e Maria é chamada a partilhar esta mesma
preocupação. Os Atos dos Apóstolos, ao descrever a grande efusão do
Espírito Santo no Pentecostes, mostram-nos que Maria começou a
desempenhar a sua tarefa na primeira comunidade da Igreja. Uma tarefa
que não mais terá fim.
2. O discípulo João, o amado, representa a Igreja, povo
messiânico. Ele deve reconhecer Maria como sua própria mãe. E, neste
reconhecimento, é chamado a recebê-La, contemplar n’Ela o modelo do
discipulado e também a vocação materna que Jesus Lhe confiou incluindo
as preocupações e os projetos que isso implica: a Mãe que ama e gera
filhos capazes de amar segundo o mandamento de Jesus. Por isso a vocação
materna de Maria, a vocação de cuidar dos seus filhos, passa para João e
toda a Igreja. Toda a comunidade dos discípulos fica envolvida na
vocação materna de Maria.
3. João, como discípulo que partilhou tudo com Jesus, sabe que o
Mestre quer conduzir todos os homens ao encontro do Pai. Pode
testemunhar que Jesus encontrou muitas pessoas doentes no espírito,
porque cheias de orgulho (cf. Jo 8, 31-39), e doentes no corpo (cf. Jo
5, 6). A todos, concedeu misericórdia e perdão e, aos doentes, também a
cura física, sinal da vida abundante do Reino, onde se enxugam todas as
lágrimas. Como Maria, os discípulos são chamados a cuidar uns dos
outros; mas não só: eles sabem que o Coração de Jesus está aberto a
todos, sem exclusão. A todos deve ser anunciado o Evangelho do Reino, e a
caridade dos cristãos deve estender-se a todos quantos passam
necessidade, simplesmente porque são pessoas, filhos de Deus.
4. Esta vocação materna da Igreja para com as pessoas
necessitadas e os doentes concretizou-se, ao longo da sua história
bimilenária, numa série riquíssima de iniciativas a favor dos enfermos.
Esta história de dedicação não deve ser esquecida. Continua ainda hoje,
em todo o mundo. Nos países onde existem sistemas de saúde pública
suficientes, o trabalho das congregações católicas, das dioceses e dos
seus hospitais, além de fornecer cuidados médicos de qualidade, procura
colocar a pessoa humana no centro do processo terapêutico e desenvolve a
pesquisa científica no respeito da vida e dos valores morais cristãos.
Nos países onde os sistemas de saúde são insuficientes ou inexistentes, a
Igreja esforça-se por oferecer às pessoas o máximo possível de cuidados
da saúde, por eliminar a mortalidade infantil e debelar algumas
pandemias. Em todo o lado, ela procura cuidar, mesmo quando não é capaz
de curar. A imagem da Igreja como «hospital de campo», acolhedora de
todos os que são feridos pela vida, é uma realidade muito concreta,
porque, nalgumas partes do mundo, os hospitais dos missionários e das
dioceses são os únicos que fornecem os cuidados necessários à população.
5. A memória da longa história de serviço aos doentes é motivo de
alegria para a comunidade cristã e, de modo particular, para aqueles
que atualmente desempenham esse serviço. Mas é preciso olhar o passado
sobretudo para com ele nos enriquecermos. Dele devemos aprender: a
generosidade até ao sacrifício total de muitos fundadores de institutos
ao serviço dos enfermos; a criatividade, sugerida pela caridade, de
muitas iniciativas empreendidas ao longo dos séculos; o empenho na
pesquisa científica, para oferecer aos doentes cuidados inovadores e
fiáveis. Esta herança do passado ajuda a projetar bem o futuro. Por
exemplo, a preservar os hospitais católicos do risco duma mentalidade
empresarial, que em todo o mundo quer colocar o tratamento da saúde no
contexto do mercado, acabando por descartar os pobres. Ao contrário, a
inteligência organizativa e a caridade exigem que a pessoa do doente
seja respeitada na sua dignidade e sempre colocada no centro do processo
de tratamento. Estas orientações devem ser assumidas também pelos
cristãos que trabalham nas estruturas públicas, onde são chamados a dar,
através do seu serviço, bom testemunho do Evangelho.
6. Jesus deixou, como dom à Igreja, o seu poder de curar: «Estes
sinais acompanharão aqueles que acreditarem: (...) hão de impor as mãos
aos doentes e eles ficarão curados» (Mc 16, 17.18). Nos Atos dos
Apóstolos, lemos a descrição das curas realizadas por Pedro (cf. At 3,
4-8) e por Paulo (cf. At 14, 8-11). Ao dom de Jesus corresponde o dever
da Igreja, bem ciente de que deve pousar, sobre os doentes, o mesmo
olhar rico de ternura e compaixão do seu Senhor. A pastoral da saúde
permanece e sempre permanecerá um dever necessário e essencial, que se
há de viver com um ímpeto renovado começando pelas comunidades
paroquiais até aos centros de tratamento de excelência. Não podemos
esquecer aqui a ternura e a perseverança com que muitas famílias
acompanham os seus filhos, pais e parentes, doentes crónicos ou
gravemente incapacitados. Os cuidados prestados em família são um
testemunho extraordinário de amor pela pessoa humana e devem ser
apoiados com o reconhecimento devido e políticas adequadas. Portanto,
médicos e enfermeiros, sacerdotes, consagrados e voluntários, familiares
e todos aqueles que se empenham no cuidado dos doentes, participam
nesta missão eclesial. É uma responsabilidade compartilhada, que
enriquece o valor do serviço diário de cada um.
7. A Maria, Mãe da ternura, queremos confiar todos os doentes no
corpo e no espírito, para que os sustente na esperança. A Ela pedimos
também que nos ajude a ser acolhedores para com os irmãos enfermos. A
Igreja sabe que precisa duma graça especial para conseguir fazer frente
ao seu serviço evangélico de cuidar dos doentes. Por isso, unamo-nos
todos numa súplica insistente elevada à Mãe do Senhor, para que cada
membro da Igreja viva com amor a vocação ao serviço da vida e da saúde. A
Virgem Maria interceda por este XXVI Dia Mundial do Doente, ajude as
pessoas doentes a viverem o seu sofrimento em comunhão com o Senhor
Jesus, e ampare aqueles que cuidam delas. A todos, doentes, agentes de
saúde e voluntários, concedo de coração a Bênção Apostólica.
Vaticano, 26 de novembro – Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo – de 2017.
Franciscus
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