02 dezembro, 2017

Papa aos jovens de Bangladesh: aprendei a acolher quem pensa diferente


(RV)

“Caros jovens, caros amigos,  boa noite…”

Tal como no Mianmar, também no Bangladesh foram os jovens a receber os últimos olhares do Papa Francisco, nas horas finais desta sua 3ª visita ao sudeste asiático.

O local do encontro foi o Colégio Notre Dame, de Daca, fundado pela Congregação Santa Cruz, em 1949. Aberto a estudantes de todas as confissões religiosas, a instituição transferiu-se para o bairro actual, em 1954.

O Papa foi acolhido pelo encarregado da Pastoral Juvenil, o Bispo de Barisal, Dom Subroto Howlader, pelo Reitor da Universidade e pelo Director da Escola Notre Dame, ambas mantidas pela Congregação Santa Cruz.

O Papa abençoou a pedra fundamental do novo prédio “Notre Dame University of Bangladesh” e uma placa comemorativa.

Sete mil jovens esperavam pelo Papa no campo desportivo da instituição. O palco, muito simples, foi montado com um material muito comum na região: o bambu.

Francisco foi recebido com dança e cânticos de um coro. Depois de ouvir testemunhos de dois jovens, dirigiu algumas palavras ao presentes em italiano, com tradução simultânea em bengali numa tela.

Ao dirigir-se aos jovens, Francisco agradeceu pelas palavras-chave por eles  sublinhadas nos seus testemunhos, como “sabedoria” e “esperança”.

Ao comentar as palavras da jovem Upasana, Francisco referiu-se a um conhecido escritor bengalês, Kazi Nazrul Islam, que definiu a juventude do país como «arrojada», «habituada a arrancar a luz do ventre das trevas», e observou:

Os jovens estão sempre prontos para avançar, fazer com que as coisas aconteçam e correr riscos. Encorajo-vos a avançar com este entusiasmo nas circunstâncias boas e nas más. Avançar, especialmente nos momentos em que vos sentis oprimidos pelos problemas e pela tristeza e, olhando para fora, parece que Deus não Se faz ver no horizonte”.

Mas ao avançar – advertiu Francisco -  “certificai-vos que estais a escolher o caminho certo”. Isto significa  - explicou – “saber viajar na vida, não vagar sem rumo. A nossa não é uma vida sem direcção; tem um objectivo, que nos foi dado por Deus. Ele guia-nos, orientando-nos com a sua graça”.

É como se tivesse colocado dentro de nós um software, que nos ajuda a discernir o seu programa divino e a responder-lhe livremente. Mas, como qualquer software, também este precisa de ser constantemente actualizado. Mantenham actualizado o vosso programa, prestando ouvidos ao Senhor e aceitando o desafio de fazer a sua vontade”.

O testemunho do jovem Anthony, ofereceu ao Papa uma outra palavra-chave:  “sabedoria”, sabedoria que nasce da fé, não a falsa sabedoria deste mundo:

É a sabedoria que se vislumbra nos olhos dos pais e dos avós, que puseram a sua confiança em Deus.”

E é justamente esta sabedoria – disse o Santo Padre - que nos ajuda a identificar e rejeitar as promessas falsas de felicidade:

Uma cultura que faz promessas falsas não pode libertar; conduz apenas a um egoísmo que enche o coração de escuridão e amargura. Pelo contrário, a sabedoria de Deus ajuda-nos a saber como acolher e aceitar aqueles que agem e pensam de forma diferente de nós. É triste quando começamos a fechar-nos no nosso pequeno mundo e nos retraímos em nós próprios. Então adoptamos o princípio «ou é como digo eu, ou não se faz nada», acabando enredados, fechados em nós mesmos”.

Quando um povo, uma religião ou uma sociedade se tornam um «pequeno mundo» - observou o Papa - perdem o melhor que têm e precipitam numa mentalidade presunçosa, que faz dizer «eu sou bom, tu és mau».

Neste sentido – explicou Francisco  - “a sabedoria de Deus abre-nos aos outros. Ajuda-nos a olhar para além das nossas comodidades pessoais e das falsas seguranças que nos deixam cegos perante os grandes ideais que tornam a vida mais bela e digna de ser vivida”.

Em um país onde os católicos são minoria, 0,2% da população, Francisco expressou a sua alegria pela presença no encontro de “amigos muçulmanos e de outras religiões”, sinal de que estão determinados – observou o Papa – a promover um clima de harmonia, onde se estende a mão aos outros, apesar das diferenças religiosas.

O Papa disse depois aos jovens que a cultura do Bangladesh ensina a respeitar os idosos, e teceu considerações à volta do valor dos anciãos na sociedade, exortando os jovens a falar com os pais e avós e a não passarem o dia inteiro com o celular, ignorando o mundo ao seu redor!.

Por fim, o Papa falou de outra palavra-chave presente nos dois testemunhos: a esperança:
“A sabedoria de Deus fortalece em nós a esperança e ajuda-nos a enfrentar o futuro com coragem. Nós, cristãos, encontramos esta esperança no encontro pessoal com Jesus na oração e nos Sacramentos, e no encontro concreto com Ele nos pobres, doentes, atribulados e abandonados. Em Jesus, descobrimos a solidariedade de Deus, que caminha constantemente ao nosso lado”.

E concluiu assegurando aos jovens a sua oração para que continuem a crescer no amor de Deus e do próximo. Pedindo orações para ele, o Papa  abençoou o país todo na língua bengalesa “Isshór Bangladeshké ashirbád Korun".

(DA)

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