Cidade
do Vaticano (RV) – Armênia, Bento XVI, Lutero, Reino Unido, homossexuais e
mulheres diaconisas: estes foram alguns dos temas que fizeram parte da coletiva
de imprensa que o Papa Francisco concedeu no voo que o trouxe de volta ao
Vaticano, depois de três dias de viagem à Armênia.
Abaixo, a íntegra das perguntas e respostas, na tradução da redação brasileira.
***
Arménia
Arthur Grygorian, televisão pública armênia.
Abaixo, a íntegra das perguntas e respostas, na tradução da redação brasileira.
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Arménia
Arthur Grygorian, televisão pública armênia.
(Em
inglês) Santo Padre, todos sabem que o senhor tem amigos armênios. Já mantinha
contato com as comunidades armênias na Argentina. No decorrer dos últimos três
dias, o Senhor – por assim dizer – chegou a tocar o espírito armênio. Quais são
os seus sentimentos, as suas impressões, e qual é a mensagem para o futuro, as
suas orações para nós armênios?
Papa
Francisco: Bem, pensemos no futuro e depois voltamos ao passado. Eu desejo a
este povo a justiça e a paz. E rezo por isto, porque é um povo corajoso. E rezo
para que encontre a justiça e a paz. Eu sei que tantos trabalham para isto e eu
também fiquei muito contente, na semana passada, quando vi uma fotografia do
presidente Putin com os presidentes armênio e azerbaidjano: ao menos conversam.
E
também com a Turquia: o presidente da República [Armênia] no seu discurso de
boas-vindas falou claro. Teve coragem de dizer “entremos em consenso,
perdoemo-nos e olhemos ao futuro”. Mas esta é uma grande coragem! Um povo que
sofreu tanto, não? O ícone do povo armênio – e isso me veio hoje enquanto
rezava um pouco – uma vida de pedra e uma ternura de mãe.
Próxima
viagem
Jeanine
Paloulian, “Nouvelles d’Armenie”:
(Em
francês) Obrigado, Santo Padre. Ontem à noite, no encontro ecumênico de oração,
o senhor pediu aos jovens para serem artífices da reconciliação com a Turquia e
com o Azerbaidjão. Gostaria simplesmente de perguntar – dado que em poucas
semanas o senhor irá ao Azerbaidjão – o que o Senhor, o que a Santa Sé, podem
fazer concretamente para nos ajudar, para nos ajudar a proceder. Quais são os
sinais concretos. O senhor fez alguns na Armênia: quais são os sinais que o
senhor dará, amanhã, no Azerbaidjão?
Papa
Francisco: Eu falarei aos azerbaidjanos da verdade, daquilo que vi, daquilo que
sinto. E também os encorajarei. Encontrei o presidente azerbaidjano e falei com
ele. E direi também que não fazer as pazes por um pedacinho de terra – porque
não é grande coisa – significa algo de obscuro, não? Mas eu digo a todos, isso:
aos armênios e aos azerbaidjanos. Também não entram em consenso sobre as
modalidades para fazer as pazes, e sobre isso se deve trabalhar. Além disso,
não sei o que dizer. Direi aquilo que no momento me vier ao coração, mas sempre
de modo positivo, procurando encontrar soluções que sejam viáveis, que sigam
adiante.
"Genocídio"
Jean-Louis
de la Vaissière, France Presse:
Santo
Padre, antes de tudo gostaria de agradecê-lo, de minha parte e da parte de
Sébastien Maillard de “La Croix”: nós deixaremos Roma e gostaríamos de coração
de agradecer por este sopro de primavera que sopra sobre a Igreja. Então, temos
uma pergunta: porque o senhor decidiu acrescentar abertamente a palavra genocídio
no seu discurso no Palácio presidencial? Sobre um tema doloroso como este,
pensa que seja útil para a paz nesta região complicada?
Papa
Francisco: Obrigado. Na Argentina, quando se falava do extermínio armênio,
sempre se usava a palavra genocídio. Eu não conhecia outra. E na catedral de
Buenos Aires, no terceiro altar à esquerda, colocamos uma cruz de pedra
recordando “o genocídio armênio”. Veio o arcebispo – os dois arcebispos
armênios, o católico e o apostólico, e a inauguraram...
Além
disso, o arcebispo apostólico na igreja católica de São Bartolomeu, uma outra,
fez um altar em memória de São Bartolomeu... Mas sempre, eu não conhecia uma
outra palavra. Eu venho com esta palavra. Quando chego a Roma, escuto uma outra
palavra, “O Grande Mal” ou “a tragédia terrível”, mas em armênio, que não sei
dizer. E me dizem que não, que aquela é ofensiva, aquela do “genocídio”, que se
deve dizer esta.
Eu
sempre falei dos três genocídios do século passado: sempre, três. O primeiro, o
armênio, depois aquele de Hitler e o último, Stalin. Os três. Existem outros
menores, há um outro na África [Ruanda]. Mas na órbita das duas grandes
guerras, são estes três. E perguntei por que. Disse: “Mas, alguns dizem que não
é verdade, que não houve genocídio”; um outro me dizia, um advogado me disse
isso, que me interessou muito: “A palavra genocídio é uma palavra técnica, é
uma palavra que tem uma tecnicidade, que não é sinônimo de extermínio. Pode-se
dizer extermínio, mas declarar um genocídio comporta ações de reparação e
coisas...”. Isto um advogado me disse.
No
ano passado, quando preparava o discurso, vi que São João Paulo II usou esta
palavra: usou ambas, “O Grande Mal” e genocídio. E eu o citei entre aspas. E
não caiu bem, o governo turco emitiu uma declaração, a Turquia em poucos dias
chamou o embaixador a Ancara – que é um bom homem, um embaixador de luxo, nos
enviou a Turquia! – e voltou dois, três meses depois. Um jejum “embaixatorial”
[ri], mas tem o direito: o direito a protestar todos nós temos, não? E neste
discurso, no início não havia a palavra: isso é verdade, eh? Respondo porque
acrescentei: depois de ter escutado o tom do discurso do presidente, e também
com o meu passado com esta palavra, e ter dito esta palavra ano passado em São
Pedro, publicamente, teria soado estranho não dizer o mesmo, ao menos.
Mas
eu queria destacar uma outra coisa, e creio – se não erro – que disse: “Neste
genocídio, como nos outros dois, as grandes potências internacionais olhavam
para o outro lado”. E esta foi a acusação. Na Segunda Guerra Mundial, algumas
potências tinham as fotografias das ferrovias que levavam a Auschwitz: teriam
tido a possibilidade de bombardear, e não o fizeram. Um exemplo: no contexto da
Primeira Guerra, quando houve o problema dos armênios, e no contexto da Segunda
Guerra, quando houve o problema de Hitler e Stalin e depois Yalta, os campos de
concentração e tudo aquilo, ninguém fala?
Deve-se
sublinhar isso, e fazer a pergunta histórica: porque não fizeram isso? Vocês,
potências – não acuso, faço uma pergunta... É curioso: se olhava, sim, à
guerra, a tantas coisas, mas aquele povo... E não sei se é verdade, mas eu
gostaria de ver se é verdade, que quando Hitler perseguia os judeus, uma das
coisas que ele teria dito é: “Mas quem se lembra hoje dos armênios? Façamos o
mesmo com os judeus!”. Não sei se é verdade, talvez seja uma fofoca, mas eu
ouvi dizer isto. Os historiadores pesquisem e vejam se é verdade. Acredito que
respondo. Mas esta palavra eu nunca a disse com ânimo ofensivo, e sim
objetivamente.
Dois
Papas?
Elisabetta
Piqué, La Nación:
(Em
espanhol) Parabéns, antes de tudo, pela viagem. Gostaria de perguntar: sabemos
que o senhor é o Papa, mas que há também o Papa Bento, o Papa emérito.
Ultimamente houve vozes, uma declaração do Prefeito da Casa Pontifícia, Mons.
Georg Gänswein, que teria dito que existiria um Ministério Petrino
compartilhado – se não me equivoco – com um Papa ativo e um outro contemplativo.
Existem dois Papas?
Papa
Francisco: (Em espanhol) Havia uma época na Igreja em que havia três! Em um
tempo, na Igreja, havia três! [ri]. Eu não li aquela declaração porque não tive
tempo, estas coisas... Bento é o Papa emérito. Ele disse claramente, naquele 11
de fevereiro, que renunciaria a partir de 28 de fevereiro, que sairia para
ajudar a Igreja com a oração. E Bento está no monastério, rezando. Fui visit-lo
muitas vezes, ou por telefone... Outro dia me escreveu uma carta, ainda assina
com aquela sua assinatura, desejando-me uma boa viagem...
E
uma vez – não uma vez: muitas vezes – eu disse que é uma graça ter em casa o
avô sábio. Também pessoalmente eu o disse, e ele ri. Mas ele para mim é o Papa
emérito, é o avô sábio, é o homem que me cobre as costas com a sua oração.
Nunca esqueço aquele discurso que nos fez, aos cardeais, em 28 de fevereiro.
“Entre vocês seguramente está meu sucessor. Prometo obediência”, e o fez.
Além
disso, ouvi dizer, mas não sei se é verdade isso, eh? – sublinho: ouvi dizer,
talvez serão fofocas, mas vão bem com o seu caráter, que alguns foram lá se
lamentar porque este novo Papa... e os expulsou, eh? Com o melhor estilo
bávaro: educado, mas os expulsou. Se não é verdade, é bem-vindo, porque este
homem é assim: um homem de palavra, um homem reto, reto, reto, eh?, o Papa
emérito.
Não
sei se se recorda, que eu agradeci publicamente – não sei quando, mas acredito
que em um voo – Bento por ter aberto a porta aos Papas eméritos. Mas, 70 anos
atrás os bispos eméritos não existiam; hoje existem. Com este prolongar-se da
vida, mas é possível manter uma Igreja a uma certa idade com achaques ou não? E
ele, com coragem – com coragem! – e com oração, e também com ciência, com
teologia, decidiu de abrir esta porta. E acredito que isto seja bom para a Igreja.
Mas há somente um Papa. O outro... ou talvez serão como os bispos eméritos: não
digo tantos, mas talvez poderão ser dois ou três... serão eméritos.
Foram
[Papa], [agora] são eméritos. Depois de amanhã, celebra-se o aniversário de 65
anos de sua ordenação episcopal. Perdão, sacerdotal. Estará presente seu irmão
Jorge, porque eles foram ordenados juntos. Acontecerá um pequeno ato, ali, com
os chefes dos dicastérios e poucas pessoas, porque ele prefere uma coisa...
aceitou muito modestamente, e também estarei lá. Direi algo a este grande homem
de oração, de coragem que é o Papa emérito, não o segundo Papa, que é fiel à
sua palavra e que é um homem de Deus. É muito inteligente, e para mim é o avô
sábio em casa.
Ortodoxos
Alexej
Bukalov – Itar-Tass:
A
minha pergunta sai um pouco deste argumento: eu sei que o Senhor encorajou
muito este Concílio Pan-ortodoxo, até mesmo no encontro com o Patriarca Kirill
em Cuba foi mencionado como auspício. Agora, que o Senhor pensa deste fórum?
Papa
Francisco: Um juízo positivo! Foi feito um passo avante: não 100%, mas um passo
avante. As coisas que justificaram – entre aspas – são sinceras para eles, são
coisas que com o tempo podem ser resolvidas. Esses quatro que não participaram
queriam fazê-lo mais para frente. Mas creio que o primeiro passo se faz como se
pode. Como as crianças, quando dão o primeiro passo, fazem como podem: os
primeiros como os gatos, e depois os primeiros passos.
Eu
estou feliz. Falaram de tantas coisas. Creio que o resultado seja positivo.
Somente o fato de que essas Igrejas autocéfalas tenham se reunido, em nome da
ortodoxia, para olhar-se face a face, para rezar juntos e falar e talvez fazer
algum comentário, isso é muito positivo. Eu agradeço ao Senhor. No próximo serão
mais numerosos. Abençoado seja o Senhor.
Brexit
Edward
Pentin – National Catholic Register:
Santo
Padre, como João Paulo II, o senhor parece ser um encorajador da União
Europeia: elogiou o projeto europeu quando recentemente venceu o Prêmio Carlos
Magno. O Senhor está preocupado com o fato de que Brexit pode levar à
desintegração da Europa e eventualmente à guerra?
Papa
Francisco: A guerra já existe na Europa! Há ainda uma atmosfera de divisão e
não somente na Europa, mas nos próprios países. Lembre-se da Catalunha, a
Escócia no ano passado.... Essas divisões não digo que sejam perigosas, mas
devemos estudá-las bem e antes de fazer um passo avante por uma divisão, falar
bem entre nós e buscar soluções viáveis.
Eu
realmente não sei, não estudei quais sejam os motivos para que o Reino Unido
tenha tomado esta decisão. Mas existem decisões – e creio que já disse isso uma
vez; não sei onde, mas disse... – de independência que se fazem por
emancipação: por exemplo, todos os nossos países latino-americanos, inclusive
os países da África, se emanciparam das coroas de Madri, de Lisboa; também na
África de Paris, Londres, Amsterdã, Indonésia sobretudo…
A
emancipação é mais compreensível, porque há por trás uma cultura, um modo de
pensar. Ao invés, a secessão de um país – ainda não estou falando do Brexit – e
pensemos na Escócia, é algo que deu o nome – e isso o digo sem ofender, usando
aquela palavra que os políticos usam – de “balcanização”, sem falar dos Bálcãs,
eh! É um pouco uma secessão, não é emancipação e por trás há histórias,
culturas, mal-entendidos; mesmo tanta boa vontade em outros. É preciso ter isso
bem claro.
Para
mim, a unidade é sempre superior ao conflito: sempre! Mas existem várias
maneiras de unidade e também de fraternidade – e aqui chego na União Europeia –
é melhor do que a inimizade ou das distâncias. Das distâncias – digamos – é
melhor a fraternidade. E as pontes são melhores do que os muros. Tudo isso deve
nos fazer refletir.
Um
país é verdadeiro: “Mas eu estou na União Europeia, quero ter certas coisas que
são minhas, da minha cultura” e o passo – e aqui me refiro ao Prêmio Carlos
Magno – que deve dar a União Europeia para reencontrar a força que teve nas
suas raízes é um passo de criatividade e também de “desunião saudável”: isto é,
dar mais independência, dar mais liberdade aos países da União.
Pensar
outra forma de união: ser criativos. E criativos nos locais de trabalho, na
economia. Há uma economia líquida hoje na Europa que faz – por exemplo na
Itália – com que a juventude abaixo dos 25 anos não tenha emprego: 40%! Tem
alguma coisa que não funciona naquela União maciça, mas não joguemos a criança
com a água suja pela janela...
Procuremos
resgatar as coisas e recriar, porque a re-criação das coisas humanas –
inclusive da nossa personalidade – é um percurso e sempre deve ser feito. Um
adolescente não é o mesmo que uma pessoa adulta ou um idoso: é o mesmo, mas não é o mesmo, se re-cria
continuamente. E isso lhe dá vida e vontade de viver e dá fecundidade. E
destaco isso: hoje, a palavra, as duas palavras-chave para a União Europeia são
criatividade e fecundidade. É o desafio. Não sei, penso assim.
A
Reforma
Tilmann
Kleinjung – Adr:
O
Senhor hoje falou dos dons compartilhados pelas Igrejas, juntas. O Senhor irá –
daqui quatro meses – a Lund para comemorar os 500 anos da Reforma. Penso talvez
que este seja o momento certo, também para não recordar somente as feridas de
ambas as partes, mas também reconhecer os dons da Reforma e talvez também – e
esta é uma pergunta herética – para anular ou retirar a excomunhão de Martin Lutero
ou de alguma reabilitação.
Papa
Francisco: Creio que as intenções de Martin Lutero não estivessem erradas: era
um reformador, talvez alguns métodos não fossem certos, mas naquele tempo, se
lermos a história do Pastor, por exemplo, -– um alemão luterano que depois se
converteu quando viu a realidade daquele tempo e se fez católico – vemos que a
Igreja não era propriamente um modelo a imitar: havia corrupção na Igreja,
havia mundanidade, havia apego ao dinheiro e ao poder. E por isso ele
protestou. Depois era inteligente e fez um passo avante justificando o porquê
fazia isso. E hoje luteranos e católicos, protestantes e todos, estamos de
acordo sobre a doutrina da justificação: sobre este ponto tão importante ele
não errou.
Ele
proporcionou um remédio para a Igreja, depois este remédio se consolidou num
estado de coisas, numa disciplina, num modo de acreditar, num modo de fazer, de
modo litúrgico. Mas não era só ele: havia Zwingli, havia Calvino e quem estava
atrás deles? Os princípios, “cuius regio eius religio”. Devemos nos inserir na
história daquele tempo: é uma história difícil de entender. Não é fácil. Depois
as coisas prosseguiram.
Hoje,
o diálogo é muito bom e aquele documento sobre a justificação acredito que seja
um dos documentos ecumênicos mais ricos, mais ricos e mais profundos, não? É de
acordo. Existem divisões, mas dependem também das Igrejas. Em Buenos Aires,
havia duas igrejas luteranas: uma pensava de um modo e a outra de outro modo,
mesmo na própria Igreja luterana não há unidade. Respeitam-se, se amam…
A
diversidade é aquilo que talvez nos tenha feito tanto mal a todos e hoje buscamos
retomar o caminho para nos encontrar depois de 500 anos. Eu acredito que
devemos rezar juntos: rezar! Por isso a oração é importante. Segundo: trabalhar
pelos pobres, pelos perseguidos, por tantas pessoas que sofrem, pelos
refugiados. Trabalhar juntos e rezar juntos. E que os teólogos estudem juntos,
buscando… Mas este é um caminho longo, longuíssimo.
Uma
vez, disse brincando: “Eu sei quando será o dia da plena unidade” – “Qual?” –
“Um dia depois da vindo do Filho do Homem! Porque não se sabe… O Espírito Santo
fará esta graça. Mas enquanto isso rezar, nos amar e trabalhar juntos,
sobretudo pelos pobres, pelas pessoas que sofrem, pela paz e tantas outras
coisas, não? Contra a exploração das pessoas... Tantas coisas pelas quais se
está trabalhando conjuntamente.
Mulheres
diaconisas
Cècile
Chambraud, "Le Monde"
(Em
espanhol) Santo Padre, há algumas semanas, o senhor falou de uma Comissão para
refletir sobre o tema das mulheres diaconisas. Gostaria de saber se esta
Comissão já existe e quais serão as questões sobre as quais refletirá? Enfim,
por vezes, uma Comissão serve para se esquecer dos problemas: eu gostaria de
saber se este é o caso?
Papa
Francisco: Havia um presidente da Argentina que dizia e aconselhava os
presidentes de outros países: “Quando você quer que algo não se resolva, crie
uma comissão”. O primeiro a ser surpreendido por esta notícia fui eu, porque o
diálogo com as religiosas, que foi gravado e, em seguida, publicado no
“L'Osservatore Romano” era outra coisa, nesta linha, mas ... “Ouvimos dizer que
nos primeiros séculos havia diaconisas. Se poderia estudar sobre isso? Fazer
uma Comissão?”. Nada mais ela pediram: foram educadas e não apenas educadas,
mas também as amantes da Igreja. Mulheres consagradas. Eu disse que conhecia um
sírio, um teólogo sírio que morreu, aquele que fez a edição crítica de Santo
Éfrem em italiano. Uma vez, falando de diaconisas – quando eu vinha, eu me
hospedava na Rua della Scrofa e ele morava ali – no café da manhã, ele me
disse: “Sim, mas não se sabe bem o que eram, se elas tinham a ordenação”.
Certamente,
havia estas mulheres que ajudaram o bispo e ajudaram em três coisas: a
primeira, no Batismo de mulheres, porque há o Batismo por imersão; a segunda,
nas unções pré e pós-batismal das mulheres; e o terceiro – isto faz-me rir –
quando havia uma esposa, que ia até o bispo para reclamar porque o marido lhe
batia: o bispo chamava uma dessas diaconisas, que viam o corpo da mulher para
encontrar contusões que provassem essas coisas.
Eu
disse isso, sim: “Mas se pode estudar? Sim, eu vou dizer à Doutrina da Fé que
faça esta Comissão”. No dia seguinte: “A Igreja abre as portas às diaconisas”.
Realmente? Eu fiquei um pouco irritado com a mídia, porque isso não é dizer a
verdade das coisas às pessoas. Falei com o Prefeito da Doutrina da Fé, que me
disse: “Olha, há um estudo que fez a Comissão Teológica Internacional na década
de 1980. Depois eu falei com o presidente e eu lhe disse: “Por favor, faça-me
uma lista de pessoas que o senhor acredita possam fazer parte desta Comissão”.
E ele me enviou a lista, também o prefeito me enviou a lista e agora elas estão
ali na minha mesa, para fazer esta Comissão.
Acredito
que se estudou muito sobre o assunto na década de 1980 e não vai ser difícil
esclarecer este tema. Mas há algo mais: um ano e meio atrás, eu fiz uma
comissão de mulheres teólogas que trabalharam com o Cardeal Rylko, e fizeram um
bom trabalho, porque é muito importante o pensamento da mulher.
Para
mim, a função da mulher não é tão importante quanto o pensamento da mulher: a
mulher pensa de outra maneira em relação a nós, os homens. E não se pode tomar
uma decisão boa e justa sem ouvir as mulheres. Às vezes, em Buenos Aires, eu
fazia uma consulta com os meus consultores e os ouvia sobre um tema: em
seguida, chamava algumas mulheres e elas viam as coisas sob uma luz diferente e
isso enriquecia tanto, tanto.
E
depois a decisão era muito, muito, muito fecunda, muito boa. Eu tenho que
encontrar essas mulheres teólogas, que fizeram um bom trabalho, que no entanto
foi interrompido: por quê? Porque o dicastério para os leigos muda agora. Será
feito, e eu espero um pouco que se faça para continuar este segundo trabalho,
sobre as diaconisas. Outra coisa: as mulheres teólogas – é isto eu gostaria de
enfatizar – é mais importante o modo de entender, de pensar, de ver coisas das
mulheres, do que a funcionalidade da mulher. E repito sempre: a Igreja é
mulher... e não é uma mulher solteirona, é uma mulher casada com o Filho de
Deus, o seu Esposo é Jesus Cristo. Pense sobre isso e depois me diga o que você
pensa...
Gays
Cindy
Wooden, "CNS"
Obrigada
Santidade. Nos últimos dias, o Cardeal alemão Marx, falando durante uma grande
conferência muito importante em Dublin, sobre a Igreja no mundo moderno, disse
que a Igreja Católica deve pedir desculpas à comunidade gay por ter
marginalizado essas pessoas. Nos dias seguintes ao massacre de Orlando, muitos
disseram que a Comunidade cristã tem algo a ver com este ódio contra essas pessoas:
o que o senhor acha disso?
Papa
Francisco: Vou repetir o mesmo que eu disse na primeira viagem e repito também
o que diz o Catecismo da Igreja Católica: que não devem ser discriminados, que
devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente. Se podem condenar, não por
razões ideológicas, mas por motivos – digamos – de comportamento político,
certas manifestações um pouco muito ofensivas para os outros. Mas essas coisas
não têm nada a ver com o problema: se o problema for uma pessoa que tem essa
condição, que tem boa vontade e que busca Deus, quem somos nós para julgá-la?
Devemos
acompanhar bem, de acordo com o que diz o Catecismo. O Catecismo é claro!
Depois, há tradições em alguns países, em algumas culturas que têm uma
mentalidade diferente sobre este problema. Eu creio que a Igreja não só deve
pedir desculpas – como disse aquele cardeal "marxista" ... [risos] –
a essa pessoa que é gay, que ofendeu, mas também deve pedir desculpas aos
pobres, às mulheres e às crianças exploradas no trabalho; deve pedir desculpas
por ter abençoado tantas armas.
A
Igreja deve pedir desculpas por não ter se comportado tantas e tantas vezes – e
quando digo "Igreja" entendo os cristãos; a Igreja é santa, os
pecadores somos nós! – os cristãos devem pedir desculpas por ter acompanhado
tantas escolhas, tantas famílias.
Lembro-me
quando era criança da cultura de Buenos Aires, a cultura católica fechada: Eu
venho de lá... em uma família divorciada não se podia entrar na casa: eu estou
falando cerca de 80 anos atrás. A cultura mudou e graças a Deus, como cristãos,
devemos pedir tantas desculpas, não só sobre isso: o perdão e não apenas
desculpas! “Perdão Senhor”!, é uma palavra que nos esquecemos. Agora eu sou um
pastor e faço o sermão... Não, isso é verdade! Muitas vezes o "padre
patrão" e não o "padre pai": o padre que bate e não o padre que
abraça, perdoa, consola. Mas há muitos, muitos capelães de hospitais, capelães
de prisioneiros: tantos santos, hein! Mas esses não são vistos, porque a
santidade é "pudorosa" [tem pudor], está escondida.
Em
vez disso, é um pouco sem vergonha a falta de pudor: é flagrante e se faz ver.
Muitas organizações com pessoas boas e não tão boas: ou pessoas às quais você
dá uma "bolsa" um pouco grande e olha para o outro lado, como as
potências internacionais com os três genocídios.
Também
nós, cristãos – sacerdotes, bispos – fizemos isso: mas nós cristãos temos
também uma Teresa de Calcutá e muitas Teresas de Calcutá; temos muitas irmãs na
África, muitos leigos, muitos matrimônios santos. O trigo e o joio; o trigo e o
joio... não devemos nos escandalizar de sermos assim. Devemos rezar para que o
Senhor possa fazer que esse joio acabe e que haja mais trigo. Mas esta é a vida
da Igreja. Não se pode colocar um limite. Todos nós somos santos, porque todos
nós temos o Espírito Santo dentro, mas somos – todos nós – pecadores. Eu por
primeiro. De acordo? Obrigado. Eu não sei se respondi... Não só desculpa, mas
perdão!
Jornada
Mundial da Juventude na Polónia
Padre
Lombardi (Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé)
Santo
Padre, permito-me fazer uma última pergunta e depois deixamos o senhor em paz
... É sobre a próxima viagem à Polônia, à qual já começamos a nos preparar. E o
senhor dedicará o mês de julho a essa preparação. O senhor pode nos diz algo
sobre os sentimentos com os quais vai para esta Jornada Mundial da Juventude,
neste Jubileu da Misericórdia. E outro ponto, um pouco mais específico, é este:
nós visitamos com o senhor o Memorial de Tzitzernak, durante a visita à Armênia
e o senhor também vai visitar Auschwitz e Birkenau, durante a viagem à Polônia.
Ouvi dizer que o senhor quer viver estes momentos mais com silêncio do que com
as palavras, como fez aqui, talvez também em Birkenau. Então, eu queria
perguntar, se o senhor quiser nos dizer, se fará ali um discurso, ou se
prefere, em vez disso, ter um momento de oração silenciosa com uma sua
motivação específica ...
Papa
Francisco: Dois anos atrás, em Redipuglia eu fiz o mesmo para comemorar o
centenário da Grande Guerra. Em Redipuglia fui em silêncio. Em seguida, houve a
missa e na Missa eu fiz a homilia, mas era outra coisa... O silêncio... Eu
gostaria de ir naquele lugar de horror sem discursos, sem pessoas, apenas as
poucas necessárias... mas os jornalistas com certeza estarão... Mas sem cumprimentar
este, aquele... não, não! Sozinho. Entrar, rezar e que o Senhor me dê a graça
de chorar...
(RB-BF-SP)
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