(RV) Na Declaração
os dois chefes religiosos sublinham a necessidade de caminhar juntos
com vista no melhoramento das relações entre as duas Igrejas. Alargam
também o olhar a toda a humanidade, esperançosos de que a fé comum em
Cristo os ajudará a contribuir para um mundo melhor.
São quatro páginas de agradável leitura e reflexão e em que Francisco
e Kerekin II começam por dar graças a Deus pela “crescente proximidade
na fé e no amor entre a Igreja Apostólica Arménia e a Igreja Católica no
seu testemunho comum da mensagem do Evangelho da salvação do mundo
dilacerado por conflitos e desejoso de conforto e esperança”.
Recordam, depois, os grandes momentos nesta senda: a visita de João
Paulo II à Arménia em 2001 por ocasião dos 1700 anos da proclamação do
cristianismo como religião do país, e a solene liturgia na Basílica de
São Pedro em Roma no dia 12 de Abril de 2015, onde as duas Igrejas se
empenharam a continuar na linha expressa pela precedente Declaração
conjunta de 2001 assinada pelo Papa João Paulo II e pelo Catholicos, ou
seja: opor-se “a toda a forma de discriminação e violência” e comemorar
as vítimas daquilo que essa Declaração assinalara como “o extermínio de
um milhão e meio de cristãos arménios, naquele que geralmente é referido
como o primeiro genocídio do século XX”.
Satisfeitos por a fé cristã ter voltado a vibrar na Arménia,
Francisco e Kerekin II chamam, todavia, a atenção para a tragédia imensa
dos nossos dias de contínuos conflitos de vária natureza no mundo
inteiro, e de modo particular no Médio Oriente, com a consequência de
minorias étnicas e religiosas voltarem a ser alvo de perseguição diária.
Mártires pertencentes a todas as Igrejas e cujo sofrimento é um
“ecumenismo de sague” que transcende as divisões históricas entre os
cristãos, convidando, assim, a promover a unidade.
Empenhando-se nesta linha, os dois líderes religiosos imploram também
os líderes das nações “a ouvir o apelo de milhões de seres humanos que
anseiam pela paz e a justiça no mundo, que pedem respeito pelos direitos
dados por Deus, que têm necessidade de pão, não de armas”.
Denunciam igualmente o uso fundamentalista da religião e dos valores
religiosos para “justificar a difusão do ódio, discriminação e
violência”. Isto – frisam – “é inaceitável”, porque “Deus não um Deus de
desordem, mas de paz”. E o respeito pelas diferenças religiosas é
condição necessária para a convivência pacífica”. Como cristãos somos
chamados a procurar e a implementar caminhos para a reconciliação e a
paz – sublinham, manifestando a esperança de uma “resolução pacífica das
questões em torno do Nagorno-Karabakh”.
No espírito cristão de acolhimento e ajuda, pedem aos fiéis de ambas
as Igreja para abrirem os corações e as mãos às vítimas da guerra e do
terrorismo, aos refugiados e suas famílias. Reconhecendo o que está a
ser feito, sublinham, contudo, que é preciso que os líderes políticos e a
comunidade internacional façam muito mais para garantir o direito de
todos a viver em paz e na segurança.
Outro aspecto que preocupa tanto o Papa Francisco como o Catholicos
Karekin II é a crise da família em muitos países. Declaram ter a mesma
visão da família fundada no matrimónio entre um homem e uma mulher.
A Declaração conjunta hoje assinada pelo Papa e Kerekin II faz ainda
notar, com prazer, que “apesar das divisões que subsistem entre os
cristãos” há uma mais clara percepção de que o que os “une é muito mais”
do que aquilo que os “divide”.
Na linha das palavras evangélicas “que todos sejam um”, é enaltecida
“a nova fase” que se tem vindo a criar entre a Igreja Apostólica Arménia
e a Igreja Católica, graças às orações e aos esforços comuns no sentido
de ultrapassar os desafios contemporâneos. E mostram-se convictos da
“importância crucial de avançar nesta relação, promovendo uma
colaboração mais profunda e decisiva, não só na área da teologia, mas
também na oração e na cooperação activa a nível das comunicadas locais,
com o objectivo de compartilhar a comunhão plena e expressões concretas
de unidade”.
Com esta convicção e clarividência Francisco e Kerekin II exortam os
seus “fiéis a trabalhar harmoniosamente pela promoção na sociedade dos
valores cristãos que contribuam efectivamente para construir uma
civilização de justiça, paz e solidariedade humana”
(DA)
A seguir a Declaração na íntegra
VISITA APOSTÓLICA DO SANTO PADRE À ARMÉNIA
DECLARAÇÃO COMUM
DE SUA SANTIDADE FRANCISCO
E DE SUA SANTIDADE KAREKIN II
NA SANTA ETCHMIADZIN, REPÚBLICA DA ARMÉNIA
Hoje na Santa Etchmiadzin, centro
espiritual de Todos os Arménios, nós, o Papa Francisco e o Catholicos de
Todos os Arménios Karekin II, elevamos as nossas mentes e corações em
ação de graças ao Todo-Poderoso pela progressiva e crescente proximidade
na fé e no amor entre a Igreja Apostólica Arménia e a Igreja Católica
no seu testemunho comum à mensagem do Evangelho da salvação num mundo
dilacerado por conflitos e desejoso de conforto e esperança. Louvamos a
Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, por ter permitido que
nos reunamos na terra bíblica de Ararat, que permanece como uma memória
de que Deus será para sempre a nossa proteção e salvação. Grande prazer
espiritual nos dá lembrar que, em 2001, por ocasião dos 1700 anos da
proclamação do cristianismo como religião da Arménia, São João Paulo II
visitou a Arménia e foi testemunha duma nova página nas relações
calorosas e fraternas entre a Igreja Arménia Apostólica e a Igreja
Católica. Estamos gratos pela graça que tivemos de estar juntos numa
solene liturgia na Basílica de São Pedro em Roma no dia 12 de abril de
2015, onde empenhamos a nossa vontade de nos opor a toda a forma de
discriminação e violência, e comemoramos as vítimas daquele que a
Declaração Comum de Sua Santidade João Paulo II e Sua Santidade Karekin
II assinala como «o extermínio de um milhão e meio de cristãos arménios,
naquele que geralmente é referido como o primeiro genocídio do século
XX» (27 de Setembro de 2001).
Louvamos ao Senhor por a fé cristã ser, hoje, novamente uma realidade
vibrante na Arménia e por a Igreja Arménia exercer a sua missão com
espírito de colaboração fraterna entre as Igrejas, sustentando os fiéis
na construção dum mundo de solidariedade, justiça e paz.
Infelizmente, porém, estamos a ser testemunhas duma tragédia imensa
que se desenrola diante dos nossos olhos: inúmeras pessoas inocentes que
são mortas, deslocadas ou forçadas a um exílio doloroso e incerto
devido a contínuos conflitos por motivos étnicos, económicos, políticos e
religiosos no Médio Oriente e noutras partes do mundo. Em consequência,
minorias religiosas e étnicas tornaram-se alvo de perseguição e
tratamento cruel, a ponto de o sofrimento por uma crença religiosa se
tornar uma realidade diária. Os mártires pertencem a todas as Igrejas e o
seu sofrimento é um «ecumenismo de sangue» que transcende as divisões
históricas entre os cristãos, convidando-nos a todos a promover a
unidade visível dos discípulos de Cristo. Juntos rezamos, por
intercessão dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, Tadeu e Bartolomeu, por
uma mudança de coração em todos aqueles que cometem tais crimes e
naqueles que estão em posição de acabar com a violência. Imploramos aos
líderes das nações que ouçam o apelo de milhões de seres humanos que
anseiam pela paz e a justiça no mundo, que pedem respeito pelos seus
direitos dados por Deus, que têm necessidade urgente de pão, não de
armas. Infelizmente, estamos a ser testemunhas duma apresentação
fundamentalista da religião e dos valores religiosos, usando tal forma
para justificar a difusão de ódio, discriminação e violência. A
justificação de tais crimes com base em conceções religiosas é
inaceitável, porque «Deus não é um Deus de desordem, mas de paz» (I
Coríntios 14, 33). Além disso, o respeito pelas diferenças religiosas é
condição necessária para a convivência pacífica de diferentes
comunidades étnicas e religiosas. Precisamente por sermos cristãos,
somos chamados a buscar e implementar caminhos para a reconciliação e a
paz. A propósito, expressamos também a nossa esperança duma resolução
pacífica das questões em torno de Nagorno-Karabakh.
Conscientes do que Jesus ensinou aos seus discípulos, quando disse:
«Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era
peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me que vestir, adoeci e
visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo» (Mateus 25, 35-36),
pedimos aos fiéis das nossas Igrejas que abram os seus corações e mãos
às vítimas da guerra e do terrorismo, aos refugiados e suas famílias. Em
causa está o próprio sentido da nossa humanidade, da nossa
solidariedade, compaixão e generosidade, que só pode ser devidamente
expresso numa imediata partilha prática de recursos. Reconhecemos tudo o
que já se está a fazer, mas insistimos que é necessário muito mais, por
parte dos líderes políticos e da comunidade internacional, em ordem a
garantir o direito de todos a viver em paz e segurança, para defender o
estado de direito, proteger as minorias religiosas e étnicas, combater o
tráfico de seres humanos e o contrabando.
A secularização de amplos setores da sociedade, a sua alienação das
ligações espirituais e divinas leva inevitavelmente a uma visão
dessacralizada e materialista do homem e da família humana. A este
respeito, estamos preocupados com a crise da família em muitos países. A
Igreja Apostólica Arménia e a Igreja Católica compartilham a mesma
visão da família, fundada no matrimónio como ato de livre doação e de
amor fiel entre um homem e uma mulher.
Temos o prazer de confirmar que, apesar das divisões que subsistem
entre os cristãos, percebemos mais claramente que aquilo que nos une é
muito mais do que aquilo que nos divide. Esta é a base sólida sobre a
qual será manifestada a unidade da Igreja de Cristo, de acordo com as
palavras do Senhor: «que todos sejam um só» (João 17, 21). Na últimas
décadas, a relação entre a Igreja Apostólica Arménia e a Igreja Católica
entrou com êxito numa nova fase, fortalecida pelas nossas orações
comuns e mútuos esforços a fim de superar os desafios contemporâneos.
Hoje estamos convencidos da importância crucial de avançar nesta
relação, promovendo uma colaboração mais profunda e decisiva, não
somente na área da teologia, mas também na oração e na cooperação activa
no nível das comunidades locais, com o objetivo de compartilhar a
comunhão plena e expressões concretas de unidade. Exortamos os nossos
fiéis a trabalhar harmoniosamente pela promoção na sociedade dos valores
cristãos que contribuam efetivamente para construir uma civilização de
justiça, paz e solidariedade humana. Diante de nós está a senda da
reconciliação e da fraternidade. Possa o Espírito Santo, que nos guia
para a verdade completa (cf. João 16, 13), sustentar todo o esforço
genuíno por construir pontes de amor e comunhão entre nós.
Da Santa Etchmiadzin, apelamos a todos os nossos fiéis para se
juntarem a nós nesta oração feita com as palavras de São Nerses o
Gracioso: «Glorioso Senhor, aceitai as súplicas dos vossos servos e,
graciosamente, atendei os nossos pedidos, pela intercessão da Santa Mãe
de Deus, João Batista, o primeiro mártir Santo Estêvão, São Gregório
nosso Iluminador, os Santos Apóstolos, Profetas, Teólogos, Mártires,
Patriarcas, Eremitas, Virgens e todos os vossos Santos no céu e na
terra. E a Vós, Santa e Indivisível Trindade, seja glória e adoração por
todo o sempre. Ámen».
Santa Etchmiadzin, 26 de junho de 2016.
Sua Santidade Francisco Sua Santidade Karekin II
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