01 maio, 2015

(CNRCC) - Encontro Regional de Formação - Fátima 01.MAI.2015

Para ampliar clique na imagem


REPORTAGEM FOTOGRÁFICA


CNRCC- ERF - 01.05.15 - Report. Fotogr.

1.º ENSINAMENTO

O Grupo de Oração ‘Verdade e Vida’ - Ota, entendeu como importante, assumir (dentro do possível) a responsabilidade da passagem a texto, do conteúdo das suas gravações relativas aos ensinamentos deste Encontro Regional de Formação, introduzindo apenas algumas e necessárias adaptações textuais (sem alteração do sentido) e essencialmente, eliminando tudo o que entender como de foro pessoal neles constantes, para então poder concretizar o objetivo: Partilhá-los convosco.
Obviamente, este é um trabalho moroso (essencialmente por não possuirmos qualquer forma de passagem de som a texto), pelo que pedimos a vossa compreensão.
Assim, damos início ao 1.º ensinamento:
«O Espírito Santo é o Amor em pessoa, é o Amor do Pai que ama, que gera, é o Amor do Filho amado que é gerado e é esta corrente de Amor que liga o Pai ao Filho e o Filho ao Pai que é o Espírito Santo.
O Espírito Santo não é o que Ama, nem é o que é Amado. Ele é simplesmente Amor.
Quando falamos nas três Pessoas, falamos do Amante que é aquele que é a Fonte do Amor e é o Pai; falamos do Amado que é Aquele que desde sempre é destinatário do Amor que vem da Fonte, que é o Filho, e falamos do Amor, que é O que ama e O que é amado, e é portanto, o Amor unificante que é o Espírito Santo, e é este amor em pessoa que nos faz filhos no Filho que depois gera em nós aqueles gemidos inefáveis, fazendo-nos aclamar Ábba, Pai.
De facto é este Amor em pessoa que é capaz de gerar em nós uma vida diferente e nova, quando nos deixamos conduzir por Ele, porque quando nos deparamos com este mistério do Espírito Santo, temos sempre muitas dificuldades em nos exprimirmos por palavras humanas.
Os próprios autores bíblicos se depararam também com esta dificuldade e tentaram exprimir a sua fé, recorrendo a muitas expressões e todas elas verdadeiras, sem dúvida.
Há aproximadamente cinquenta títulos atribuídos ao Espírito Santo, ao longo de toda a Bíblia e cada um deles nos revela um aspeto da Sua pessoa e da Sua ação, porque cada um destes títulos nos revela a forma como Ele age e também, como Ele é.
Não vamos entrar por aqui, porque não é esta a finalidade deste ensinamento, contudo deixa-se duas palavras muito queridas que aparecem variadíssimas vezes na evocação inicial dos nossos grupos de oração.
A primeira palavra, ‘ESPÍRITO’ é a tradução do antigo testamento da palavra hebraica ‘Ruah’, e no Novo Testamento, da palavra, ‘PNEUMA’ e estas palavras muitas vezes também são traduzidas, como o ‘Sopro’, o ‘Vento’ e isto porquê? Por nos dizer a nós, quando O evocamos no início de uma oração, no grupo de oração, é o Espírito que vem do alto e que impele para o alto, é o sopro de Deus que levanta. Não é o sopro de Deus que nos amarra e que nos deita abaixo, pelo contrário, Ele levanta-nos.
Se repararmos, foi inventado um método de trazer à superfície os objetos que estão depositados no fundo do mar, e este é um método muito simples consistindo apenas em colocar ar dentro deles, e este ar vai desprendê-los do fundo e pouco depois irá empurrá-los para a superfície.
Ora, é um pouco isto, quando evocamos este Sopro, no início da oração e é este o Sopro que nos levanta da profundezas da nossa existência, dos problemas do nosso dia a dia que muitas vezes nos leva a chegar ao grupo, carregados de dificuldades, de dores, de sofrimento, e que à vezes, até já trazem muita coisa, para pedir, para dizer, portanto, já vamos para o grupo com muita carga dentro de nós; emoções, palavras, ideias, conceitos, e é preciso de facto desprender-nos dessas profundezas, do que há de mais humano em nós, para irmos para o alto, para podermos estar em contacto mais íntimo, com Deus, na pessoa de Jesus Cristo, na força e no poder do Espírito Santo.
Esta é a ideia central, é o poder do Invisível, o Espírito Santo, e o estudo do Espírito Santo de Deus é importante, devido a quem É e o que Ele fez e fará, e Isto constitui algo que nós, continuamente temos que fazer, esse estudo, de quem Ele é, o que é que Ele faz, o que é, e o que é que Ele fará ainda de novo na vida de cada um de nós, na vida de todos.
Concretamente este é um dos principais objetivos desta formação, que é o reconhecimento da presença e da ação do Espírito Santo na vida da Igreja, na vida dos nossos grupos de oração, na vida de todos, de cada um e de cada um de nós.
Não temos dúvida que quando estamos a evocar o Espírito Santo, no início das nossas orações, no início de uma formação estamos a fazê-lo porque Ele nos faz filhos do Pai, filho0s do Filho do Pai, como foi referido atrás, somos filhos no Pai, Pai de eterna bondade, e de facto, nós temos aquela passagem bonita da Carta aos Romanos, em que S. Paulo nos diz “haveis de seguir o Espírito de filhos adotivos e por Ele aclamamos Abba Pai”
Anastácio diz uma coisa muito bonita que é, ‘por meio do Espírito Santo, todos nós somos chamados a participantes de Deus, a começar a fazer parte da natureza Divina, mediante a participação do Espírito’, e por isso, quando entramos no grupo de oração, evocamos o Espírito Santo. Há quem diga, “para quê evocar o Espírito Santo, se todos nós já O recebemos?”, mas temos que ter esta consciência de que Ele está em mim, que me fez filho, no Filho, que me fez filho no Pai e que é através dEle que eu vou aclamar Abba Pai e que me vai descentrar de mim, das minhas coisas, das minhas preocupações, e por isto, já não sou eu, mas sou eu nessa Família, sou eu já filho do Pai, não sou eu individualmente, não sou eu, enquanto pessoa que ali estou. Já sou um membro dessa Família, e a presença do Espírito pode chamar-se então, esta graça santificante, porque se é certo que somos part9icipantes da natureza Divina, como diz S. Pedro, na 2.ª Carta, 1, 4 ‘isto só é possível mediante a santificação do Espírito Santo’.
Nós, pelo Espírito, subimos até ao Filho e através do Filho, chegamos ao Pai. Diz Santo Irineu: “tornamo-nos filhos no Filho” e esta consciência é extremamente importante para termos outra relação com Deus, nos nossos grupos de oração; já não sou eu sozinho, somos todos, já não sou as minhas coisas, a minha história e o meu problema, mas já sou eu, nesta relação com o Filho que me faz filho do Pai.
O Espírito santo não só nos torna filhos do Filho, mas também favorece esta relação, esta experiência, concedendo-nos estes sentimentos filiais.
Portanto, eu tenho a consciência, quando evoco o Espírito Santo de que sou o filho, mas não chega só isto, é que o Espírito Santo também favorece esta experiência de conceder os sentimentos filiais, e assim, eu não um qualquer, um órfão, que ali está, que chega ali ao grupo com as suas coisas, os seus pedidos, com a sua forma de querer rezar daquela maneira, de querer dizer aquilo, mas o próprio Espírito me concede destes sentimentos filiais, para eu ter uma relação muito mais intensa, muito mais profunda, muito mais espontânea, com o Pai, e libertar-nos também de muito tipo de oração mecânica, porque nós não estamos profundamente relacionados com Deus.
Uma grande parte de nós tem uma ideia errada de Deus. Muitos de nós ainda não O vemos como Pai, e portanto, como é que nos podemos considerar filhos, como é que podemos ter esta relação íntima com Ele. Muitas vezes, nós estamos pro-batizados, às vezes até, com relações com o nosso próprio pai e que nos projeta também depois, para não termos a relação íntima com Deus, como Pai.
Temos que pedir a Deus que nos vá libertando de muitos traumas que fomos adquirindo ao longo da nossa vida; às vezes um pai mais austero, mais prepotente, autoritário, e portanto, nós temos muita dificuldade.
Se calhar às vezes é mais fácil dirigir-nos ao Espírito Santo e andarmos sempre à sua volta, e o Pai é assim uma figura mais distante: ficas aí, mas o Espírito leva-nos, por e pelo Filho, ao Pai, de maneira que, outra razão de evocarmos o Espírito Santo, no início, é que de facto, Ele é o mestre interior que nos faz conhecer o próprio Pai.
Nós só somos filhos no Filho e para sermos filhos de facto, para sermos na totalidade, temos que conhecer o Filho, o Filho verdadeiro que é Jesus Cristo, para depois nos identificarmos à Sua imagem e semelhança, e é o Espírito, o Paráclito que nos ensinará e nos recordará tudo o que Ele nos disser, diz Jesus Cristo, através de S. João, 15, 26, e portanto, o facto do Espírito Santo, ao evocarmos, vir em nosso auxílio, nós descentramo-nos de nós próprios e centramos no verdadeiro Filho que é Aquele que nós queremos ser também, como diz S. Paulo, “até alcançarmos a estatura de Cristo, para sermos um verdadeiro filho, para estarmos em comunhão absoluta com o Pai”. Neste momento, também não nos é revelado tudo, ainda não conseguimos tudo, mas o Espírito já faz grandes coisas em nós, através dos tais gemidos inefáveis e que só através dEle é que podemos dirigir-nos ao Pai, mas temos que conhecer este Filho, para sermos como Ele, para ouvirmos mais tarde e seguirmos com o mandato que Ele nos dá, com a força e com o poder do Espírito, Curar os enfermos, libertar os cativos, dar vista aos cegos, fazer andar os paralíticos, mas só conhecendo o Filho, depois da força do Espírito Santo, podemos ser a Sua verdadeira imagem e semelhança, ser como Ele e ser filhos do Pai.
Muitas vezes refugiamo-nos nesta imagem do filho adotivo e que nos serve em alguns momentos de adotivo, mas vejamos noutra perspetiva, o filho adotivo é o filho que é o filho amado, porque nós vemos o filho adotivo como algo de estranho, quando lemos estas passagens do filho adotivo.
Felizmente e graças a Deus não aconteceu com nenhum de vós, mas há muita gente que foi fruto do acaso, não foram desejados, aconteceu, mas aquele que é adotado, é desejado, porque ninguém adota algo que não deseja, e é nesta perspetiva que nós somos muito queridos, muito desejados por Deus, porque Ele fez de nós, filhos no Filho.
Mas este Espírito, também quando O evocamos no início das nossas orações, no início da manhã, quando fazemos a nossas orações pessoais, é o Espírito que dá a vida. A carne não aproveitar nada, diz S. João, Cap. 6, 63, e de facto, se repararmos há uma expressão muito bonita que naquele momento da Cruz, a expressão ‘entregou o Espírito’, em que este entregar do Espírito tem sempre um duplo significado, tem um significado muito natural que significa, deu o último suspiro, morreu, mas depois tem um significado mais místico que é, deu o Espírito Santo, e o último suspiro de Jesus, é o primeiro suspiro da Igreja, porque Ela começa a partir daí, daquele momento, porque simboliza a água e o sangue que é derramado, brotando do lado de Jesus Cristo.
Façam esta analogia também. Hoje há muitas, mas a espiritualidade ange algo de extraordinário e hoje só vos vou contar duas.
Lembram-se de Nicodemos: ‘como é que eu sou velho posso nascer de novo’ (Jo 3, 4), renascer da água e do Espírito. Ora este último suspiro, esta dádiva do Espírito Santo, a morte de Jesus Cristo, é o início de uma nova vida para nós.
Ao evocarmos o Espírito, no início da oração, eu tenho a noção de que estou a renascer. Naquele momento, são as minhas feridas que estão a ser curadas, são aqueles traumas mais longínquos que estão a ser pacificados, porque não tenham dúvidas, o passado não pode ser apagado mas, ele faz parte da nossa história, e nós somos totais, somos o nosso passado, somos o nosso presente, e não podemos pegar ali em algumas páginas da nossa história e arranca-las, destruí-las, como se elas não existissem, porque vamos ser sempre amputados de algo e nunca seremos felizes. Por isso, o que é que se pretende, o que é que Deus nos disse com isto ‘nascer de novo’, ‘renascer’? É poder ficar livre das cadeias do passado que nos foi ao longo do tempo criando medos, vergonhas, complexos e que este passado não tem interferência na nossa vida do presente, pelo que, é preciso necessário renascer, ser uma nova criatura, mas atenção porque aqui há uma coisa extraordinária, até porque isto não é recauchutar, é sim, renascer uma criatura nova, com este sopro do Espírito Santo. Ele pode-nos fazer criaturas novas, purificadas com a nossa história do nosso passado, vivendo o nosso presente, livres de todas estes constrangimentos, vivendo em plenitude, vivendo a vida e a vida em abundância, e isto é tão ou mais importante porque mesmo nos grupos de oração, mesmo na nossa oração, porque ela é também o reflexo do nosso dia a dia.
Se chegarem a tempos, aos verbos, se estiverem atentos às ideias porque passamos, vão ver que a maior parte daquilo que dizemos, daquilo que sentimos e daquilo que vivemos está no passado.
Nós vivemos agarrados ao passado: “Antigamente é que era bom!”, “não havia nada disto!”…, depois vivemos algum tempo no futuro (para aí 24%): “E se fico desempregado!”, “Está-me a dar uma dor e se calhar isto é cancro!”, “Ai os meus filhos, o que é que será deles!, “não ter emprego e se se vão separar, coitadinhos dos meus netinhos!”,  e estamos a sofrer lá à frente e as coisas não aconteceram, mas estamos a sofrer por antecipação, e provavelmente vivemos 1% no presente, quando este Espírito quer que vivamos o presente, o aqui e agora, nesta relação íntima com o Pai, em Jesus Cristo, por isso Aquele que ressuscitou Jesus Cristo de entre os mortos dará também a vida aos vossos corpos mortais, porque o seu Espírito habita em nós, diz S. Paulo, na Carta aos Romanos, 8, 11, e de facto é isto que acontece meus irmãos, o Espírito Santo já foi derramado em nós mas lamentavelmente verificamos que a maior parte de nós não O manifestámos, ou ainda, não fizemos esta experiência arrebatadora da ação do Espírito Santo nas nossas vidas; o poder do Espírito ainda não foi libertado; revelado nas nossas vidas.
Lembremos como exemplo, a chávena de café, em que se põe açúcar mas não o mexemos e quando se vai a tomar, é uma desilusão, porque está amargo, por não ter sido mexido com a colher, e a solução não é introduzir-lhe mais um pacote, mas sim, mexer o líquido na chávena.
A chávena é como a Igreja, como o grupo de oração, o líquido somos nós, o açúcar é o Espírito Santo que é preciso mexer para que Ele dê um novo sabor à nossa vida.
O que nós vemos muitas vezes, são pessoas que não mexem este açúcar; são sem sabor, nem estão quentes nem estão frias, nem vão para a esquerda ou para a direita, porque ainda não estão disponíveis a fazer esta experiência da ação do Espírito Santo, porque é o Espírito que está em nós que gere, é como uma semente de vida que pouco a pouco, com a nossa colaboração se desenvolve até nos transformar noutro Cristo, até sermos o verdadeiro filho; até chegarmos à estatura do Filho, mas é com a nossa colaboração.
O Espírito Santo não se vai impor a nós, e ao evoca-lo, estamos de certa forma a dizer: eu estou aqui, eu quero, conta comigo, vem, vem ajudar-me a tornar-me outro Cristo, sua imagem e semelhança, e é pois pelo Espírito Santo que nos vamos transformando, sempre nessa imagem mais resplandecente, pela Sua ação, e quando isto acontece, vamos tornando esta imagem mais resplandecente e saímos do grupo, com os olhos a brilhar, os olhos proféticos, com um sorriso rasgado.
Quando não fazemos esta experiência, saímos do grupo de oração como se fosse de uma Missa de sétimo dia, não há brilho, não há sinal profético, não há esperança, e por isso o Espírito quando O evocamos, também fortalece esta nossa vida interior, porque segundo a riqueza da Sua glória nos conceda ser poderosamente fortalecidos no homem interior, pelo seu Espirito, diz S. Paulo, na Carta aos Efésios, 3, 16. Ele transforma-nos em criaturas novas e por isso diz-nos no 1.º livro de Samuel, 10, 6 ”Invadir-se-á então o Espírito de Avé e terá mudado em outro homem”, serás outro homem, se tiveres este Espírito de Avé, e nós mudamos a partir de dentro, a partir do interior, embora o mundo nos queira dizer que é ao contrário, que é através das plásticas, que é através das dietas, que é através da ginástica, que é através não sei de quê que se muda, que nos tornamos mais belos, que nos tornamos diferentes, mas a mudança começa a partir de, através do homem interior que depois transmite ao homem exterior, mas muitas vezes nós não queremos que esta mudança comece no interior, porque ouvimos inúmeras vezes as censuras do nosso coração, ouvimos as censuras da nossa consciência, porque esta mudança nos confronta e às vezes vem esta voz de censura do interior, porquê? Porque pelo Espírito, Deus sabe tudo o que acontece e Ele é Amor, Ele é pois, muito mais perspicaz e muito mais indulgente do que a nossa própria consciência, porque Ele é maior do que o nosso amor.
Eu posso ser muito masoquista, gostar muito de mim, colocar-me à frente de tudo e de todos, mas Ele ainda é muito maior do que o meu amor. Eu posso amar alguém desesperadamente, ao ponto de dar a vida por ele, mas Deus ainda é muito maior do que este amor, do que este coração.
Lembram-se que David foi de certa forma mimadamente honesto, quando pediu ao Senhor, ‘quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que são ocultas. Salmo 19, 13, e ninguém consegue discernir totalmente os seus erros, mas ao darmos ouvidos à voz do Espírito, nós seguimos a Sua direção, as áreas da nossa vida que são invisíveis para nós, serão refinadas e sublimadas pelo Espírito.
Porque é que eu vos digo isto?
Porque isto é extremamente importante quando evocam o Espírito Santo, porque muitas vezes nós fazemos uso do Espírito Santo para fazermos a nossa vontade, para fazermos o que queremos e continuamos no erro porque dizemos: foi o Espírito que me inspirou; é o Espírito que me diz para fazer isto; é o Espírito que me inspira para dizer aquilo, e provavelmente estamos a insistir no erro e precisamos que este Espírito então venha a estas áreas mais invisíveis da nossa vida, aquelas que nos estão às vezes ocultas, porque muitas vezes a nossa personalidade, a nossa maneira de ser, os nossos quadros mentais têm muito a ver com as experiencias que fizemos, com a vida que tivemos, com a educação que tivemos e por isso podemos pensar que estamos certos e não estás, mas teimosamente permanecemos no erro e precisamos, tal como aquele líquido que se põe nas fotografias e que faz com que a imagem vá aparecendo, precisamos que o Espírito Santo vá revelando-nos também estas áreas mais ocultas, para podermos também nos libertar desses erros, dessas falhas, para seguirmos num caminho de perfeição e aceitarmos às vezes com humildade, que não é aquilo que o Espírito quer naquele momento de oração, se calhar não é aquele cântico mas é o cântico do irmão que está ao lado, se calhar não é o momento que eu queria até profetizar, mas não é a minha profecia, é a profecia do que está ao meu lado, se calhar não é meter a toda a força o meu pedido, mas se calhar até é um pedido do meu irmão que é muito mais importante que seja feito e que tenha (…) de todos.
Por isso, como afirma S. Paulo, ‘todos nós, com o rosto descoberto refletimos a glória de Deus’, que como um espelho somos transformados de glória em glória na Sua própria imagem, com um esplendor cada vez maior, porque é o Espírito que o realiza (2 Cor 3, 18); é o Espírito Santo que ao invocá-lo, reza em nós e connosco; é o Espírito Santo que nos leva à união da alma com Deus.
Nós, por nós próprios, até podemos pronunciar palavras e é o que acontece muitas vezes na oração, em que pronunciamos apenas palavras, mas isto não é rezar, é pronunciar, é debitar palavras.
Por exemplo, a oração enquanto busca união com Deus, é sempre um Dom do próprio Deus, e também aqui se exige a nossa colaboração, porque na fraqueza, na incerteza, nós experimentamos (todos vocês, eu próprio) muitas dificuldades na oração. Desconhecemos o que devemos pedir, mas nem por isso, nem o medo, nem o desânimo, nem a incerteza nos pode levar a desistir.
Porquê?
Porque o Espírito vem em ajuda da nossa fraqueza. Nós não sabemos pedir como nos convém, mas o próprio Espírito intercede com gemidos inefáveis, porque Ele conhece os nossos corações, Ele sabe quais são as nossas aspirações, e o Espírito intercede em nosso favor, segundo o próprio Deus, como diz S. Paulo na sua Carta aos Romanos, 8, 26-27, e quando O invocamos, nós temos a certeza que a partir daquele momento, é o Espírito que ora em nós e connosco; já não somos nós a debitar palavras, a debitar coisas que ao longo da semana fomos fazendo.
Graças a Deus não está aqui ninguém daqueles que até escrevem ao longo da semana aquilo que irão dizer (há pessoas que até escrevem). Há quem já saiba e que afirma no seu íntimo, ‘eu vou ter que dizer isto.’, e é engraçado porque ficam num alvoroço enquanto não o dizem, e até pode ser um pedido, e entretanto acham que vai ter de entrar nem que seja num momento de louvor, portanto descontextualizado, por estar fora do momento, mas a pessoa estava tão ansiosa e até já tinha aquilo preparado há não sei quantos dias, alvoroçada, ao surgir um silêncio, “pás, aí vai ele!...”. Isto são palavras.
A partir do momento em que o Espírito Santo está connosco, então é Ele que reza em nós e reza connosco.
Ninguém pode dizer Jesus Cristo, senão através do Espírito Santo.
Qualquer forma de oração, seja oração de louvor, seja oração de ação de graças, de súplica, de cura, de libertação, todas elas são feitas no Espírito Santo, e só assim nos tornaremos autênticos adoradores em espírito e verdade, como diz Jesus Cristo à samaritana (Jo 4, 24), evitando orar como os pagãos.
Só assim nós seremos filhos no Filho.
Lembram-se do hino Veni Creator? É extraordinário também o que aconteceu a partir daí. Há quem considere, e eu também, que é aqui que nasce o Renovamento com este hino de entrega ao Espírito Santo no século XX, esta entrega, esta doação ao Espírito e o Espírito fês coisas indescritíveis que foi para além do que podíamos imaginar.
A própria imposição das mãos quando nós rezamos e impomos as mãos, que tem um valor altamente simbólico, não é um valor de tocar a pessoa, claro que em termos humanos o toque é importante porque envolvemo-nos também com a pessoa, mas se estamos a rezar pela pessoa e não a tocamos, até dá a sensação que ela pediu qualquer coisa. Não tem lepra, porque já não há mas há qualquer coisa; parece que às vezes há qualquer coisa que repulsa, e nós temos que mostrar à pessoa que estamos com ela. O toque, a carícia é extremamente importante, porque nós gostamos de tocar uns nos outros, uns mais, outros menos e aqueles que são menos, se calhar tivemos problemas também com o próprio corpo e por aí fora, mas é este ato de imposição de mãos, não é tanto por aí, embora seja importante a pessoa sentir-se tocada, sentir-se acolhida, mas é altamente simbólico porque nos recorda a imagem de Jesus Cristo que nos cobre com a sua sombra, como diz S. Lucas 1, 35 - “cobriu Maria com a sua sombra”, lembra também que o Espírito pairava sobre as águas, no Livro do Genesis 1, 2 e portanto, no original o termo traduzido por ‘pairar’, ‘pairar sobre as águas’, significa cobrir com as próprias asas.
O que é que significa isto, ‘cobrir com as suas próprias asas’? No fundo é o chocar, é o que a galinha fás com os seus pintainhos, por isso é que recorda a expressão “ser mãe galinha”, é de cobrir, é Deus como mãe que nos cobre quando nós evocamos o Espírito e é o Espírito que vem e que nos cobre, como nós cobrimos aquele que mais precisa, sobre quem estamos a rezar naquele momento e por isso, Tertuliano tem uma expressão muito bonita em que diz: “A carne recebe a sombra da imposição das mãos, para que a alma seja iluminada pelo Espírito”; cobre-nos com a sombra para que a alma seja iluminada pelo Espírito.
Isto parece um paradoxo, então como é que a sombra vai iluminar! Mas esta imposição das mãos ilumina a sombra. É como a nuvem que seguiu o Povo eleito, no Êxodo, como aquela que envolve também os discípulos no Tabor, a nuvem luminosa que os cobriu e que nos cobre também a nós com a sua sombra.
Por isso, cada vez que o Espírito Santo entra na nossa vida, Ele produz esta mudança. É uma sombra que nos cobre mas que nos ilumina a partir do interior; nos ilumina a alma através do Espírito Santo e por isso seremos resplandecentes também, e esta luz ao descobrir depois no grupo, se manifesta por exemplo, para quem anima o grupo através da sabedoria para poder liderá-lo, através da alegria, para animar com os cânticos. Deus vem em auxílio, depois da nossa fraqueza, porque nos cobre e nos ilumina, e mesmo o Espírito que nos inspirou a Palavra e é a Palavra que dá o Espírito (de que falaremos da parte da tarde), mas Ele inspira a Palavra e depois é a própria Palavra que dá o Espírito Santo, e por vezes, um novo poder de louvor se manifesta nos nossos grupos, através das línguas, num louvor intenso e profundo, uma nova capacidade de anunciar e de entender a Palavra de Deus e depois, através dEle, também somos chamados a não ficar só no grupo, mas a sair do grupo e levá-Lo, anunciando Jesus Cristo, e aqui deixem-me dizer-vos, temos que renunciar quando evocamos o Espírito Santo; renunciamos ao individualismo religioso, renunciamos a ser o maior discípulo, renunciamos a ser o melhor servidor, renunciamos a ter o melhor grupo de oração, porque prejudica e nos coloca numa posição de concorrência com os outros e esta concorrência afeta a unidade, afeta a comunhão e por isso é que às vezes há coisas que não correm bem, há ciúmes espirituais, há ciúmes de carismas, há ciúmes dos grupos: aquele tem tanta gente e o nosso não tem ninguém…
Somos todos membros do Corpo de Cristo e ao mesmo tempo, membros uns dos outros. Não tenhamos aquela ideia de que só somos membros de Cristo. Cristo é a cabeça mas nós também somos membros uns dos outros.
Assim, como eu preciso de todos no grupo, todos no grupo precisam de mim e mediante o poder e a força do Espírito, depois, aquilo que se passa no grupo de oração chega a todas as direções; chega ao local de trabalho, chega à família, porque no fundo, é um pouco isto, vejam o Pentecostes, o que é que o Pentecostes fás? O Espírito Santo vence medos, transforma vidas e por isso Pedro que era um medroso, prega a Palavra e converte três mil duma vês, e depois tem a coragem para levar até ao fim o projeto de Deus.
Isto que nós ouvimos é uma passagem muito bonita: ‘Isto que nós ouvimos, isto que nós vimos com os nossos próprios olhos, isto que as nossas mãos tocaram, isto mesmo também anunciamos.’
É através do Espírito Santo que nós depois fazemos isto nos nossos locais de trabalho, na nossa família e é o Espírito que outorga os discípulos à imagem e semelhança de Deus, e é por isso que nós recebemos este mandato de Deus, para, na força e no poder do Espírito Santo, curar enfermos, libertar os cativos, dar vista aos cegos, fazer andar os paralíticos e ser portadores da Paz.
Lembram-se do que o Senhor disse a Moisés, “Ungirás Araão e os seus filhos, consagrá-lo-ás ao meu ministério”, Livro do Êxodo 30, 30.
Isto é também um pouco daquilo que o Espírito nos pede, quando animadores dos nossos grupos: confirmar os carismas de todos os membros e motivá-los ao seu exercício, não só em exercício dos carismas no grupo de oração, mas em todo o momento, com discernimento e retendo sempre aquilo que é bom, sem extinguir o fogo do poder do Espírito Santo. É por isso é que quando evocamos o Espírito Santo nos nossos grupos, nas nossas orações, este Espírito faz-nos viver com alegria e esperança. Naquela hora Jesus sentiu-se invadido de gozo no Espírito e disse “”Eu te bendigo ó Pai” Lucas 10, 21, sentiu-se invadido de gozo no Espírito; os frutos do Espírito que nós conhecemos, a paz, o amor, a alegria. S. Paulo fala-nos naqueles nove, na carta aos Gálatas 5, 22, e por isso a Igreja usava da paz e se fortalecia cheia de consolos do Espírito Santo, Atos 9, 31.
Isto deveria acontecer nos nossos grupos de oração. Nós deveríamos dizer o mesmo e os nossos grupos gozariam então de paz e se fortaleciam cheios dos consolos do Espírito Santo: das graças, das bênçãos, dos prodígios do Espírito Santo. E os discípulos ficavam cheios de alegria no Espírito Santo. Lembram-se quando falámos no óleo da unção? É a expressão de alegria, da paz; a unção do Espírito Santo.
Nós devia-mos sair, se calhar, no final das nossas orações, quase como que abençoando-nos uns aos outros, fazendo um sinal, quase que ungidos por cada expressão de alegria e da paz e por isso é que esta unção ao longo da história, não admira que significasse a dignidade e a beleza conferida pelo contacto com Deus.
Se eu estou no grupo de oração e o Espírito Santo me leva a ser filho no Filho, para ser filho do Pai, neste contacto tão profundo, eu tenho que sair daqui com esta dignidade de filho e esta dignidade também me confere a alegria, esta esperança, e esta alegria e esperança interior vai-se transmitir exteriormente, na beleza, ao ponto de que nesses dias, tal como eu acho, as senhoras quando vão ao grupo de oração, antes de irem, é o dia em que os maridos ficam mais “chateados”: Lá vai ela outra vez para o grupo de oração! Não sei o que é que ela tem lá tanto que fazer! E isto e aquilo e aquele outro… mas de certeza é o dia em que eles ficam mais contentes, depois de vocês regressam, porque veem com outra beleza e a paz é o regresso ao primeiro amor. Esta é a beleza que o Senhor nos dá através desta unção; esta esperança e esta alegria interior que depois transmite-se ao exterior.
Como eu vos dizia, a mudança não é pelo exterior, é sim, pelo interior e que depois extravasa para o exterior tornando-nos mais belos, levando-nos a gostar mais de nós próprios e ao gostarmos de nós próprios temos a certeza que Deus nos ama tanto que nos deu tudo o que tínhamos de melhor e com este contacto, sendo filhos no Filho, que acabou de dizer, ó meu Pai, olha eu Te agradeço; eu gosto do corpo que Tu me deste; eu gosto da inteligência que Tu me deste; eu gosto dos dons que Tu me deste; dos carismas que Tu me deste; gosto do ministério que Tu me chamas, porque tu me deste tudo o que tinhas de melhor; Tu me deste a tua essência. Eu sou teu e por isso, isto leva-me a gostar mais de mim mesmo e ao gostar de mim, eu vou aceitar que os outros gostem de mim e vou gostar também dos outros.
Termino dizendo-vos, tal como os autores do Credo Niceno, e podemos dizê-lo todos juntos:
Creio no Espírito Santo, o Senhor que dá a vida e procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado.
E por isso, agora quando chegarem aos grupos de oração, ao evocarem o Espírito Santo, digam:
Bem-vindo Espírito santo às nossas vidas!
Bem-vindo aos nossos grupos de oração!
Bem-vindo ao Renovamento Carismático!
Bem-vindo nesta manhã!
Bem-vindo sejas Espírito Santo!
Ao Senhor Jesus Cristo que é o Deus santo, o Deus forte, o Deus imortal, a Ele toda honra, toda a glória e todo o poder, pelos séculos dos séculos. Amém.
TERMINADO ESTE 1.º ENSINAMENTO, OS RESTANTES (DENTRO DO POSSÍVEL) TERÃO CONTINUIDADE, EM CONFORMIDADE COM A DISPONIBILIDADE DE TEMPO

Sem comentários:

Enviar um comentário