No discurso aos
participantes da Plenária da Academia das Ciências Sociais, Francisco
recordou que a Igreja exortou sempre “ao amor do próprio povo e da
pátria”, todavia, sempre advertiu para os desvios deste sentimento
quando resulta na exclusão e no ódio pelos demais.
Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano
Os neopopulismos e as suas consequências foram o tema do longo e
articulado discurso do Papa Francisco aos participantes na Plenária da
Pontifícia Academia das Ciências Sociais.
De facto, o tema da Plenária é “Nação, Estado. Estado-Nação”.
Infelizmente, constatou o Pontífice, que alguns Estados nacionais atuam mais
em espírito de contraposição do que de cooperação. As fronteiras de um
país nem sempre coincidem com demarcações de populações homogéneas e
muitas tensões provêm de uma excessiva reivindicação de soberania por
parte dos Estados.
Amor à pátria
O Papa recordou que a Igreja exortou sempre “ao amor do próprio povo e
da pátria”, todavia, sempre advertiu para os desvios deste sentimento
quando resulta na exclusão e no ódio pelos demais, quando se torna
“nacionalismo conflituoso que levanta muros” ou se torna racismo ou
antissemitismo.
Por isso, a Igreja observa com preocupação o reemergir em todo o
mundo de correntes agressivas contra os estrangeiros, especialmente os
imigrantes, como também de um crescente nacionalismo que ignora o bem
comum. Isso pode comprometer formas já consolidadas de cooperação
internacional.
Para Francisco, o modo com que uma nação acolhe os migrantes revela a
sua visão da dignidade humana e da sua relação com a humanidade.
“Quando uma pessoa ou uma família é obrigada a deixar a própria terra,
deve ser acolhida com humanidade”, afirmou Francisco, citando os quatro
verbos sobre os quais os governos têm responsabilidade perante a
migração: acolher, proteger, promover e integrar.
Um Estado que suscita sentimentos nacionalistas do próprio povo
contra outras nações ou grupos de pessoas, não realiza a sua missão. E a
história ensina para onde conduzem semelhantes desvios.
O sonho de Simón Bolivar ainda é válido
O Papa destacou que nenhum Estado pode ser considerado um absoluto,
uma ilha, sobretudo na atual situação de globalização não somente da
economia, mas dos intercâmbios tecnológicos e culturais. O Estado
nacional não é mais capaz de obter sozinho o bem comum para as suas
populações. “O bem comum tornou-se mundial e as nações devem associarem-se
para o próprio benefício”, afirmou Francisco, citando os desafios das
mudanças climáticas, das novas escravidões e da paz.
Neste âmbito, o Pontífice encorajou o caminho de cooperação regional
empreendido, por exemplo, pela União Europeia e o “sonho” de Simón
Bolivar na América Latina de uma Pátria Grande.
Com o multilateralismo a humanidade poderia evitar o perigo de
conflitos armados todas as vezes que surgem disputas entre Estados nacionais,
assim como o perigo da colonização económica e ideológica das
superpotencias.
Já a crescente tendência dos nacionalismos está a enfraquecer o
sistema multilateral, com o êxito de uma escassa credibilidade na
política internacional e de uma progressiva marginalização dos membros
mais vulneráveis da família das nações.
Holocausto nuclear
Neste ponto do discurso, Francisco manifestou a sua preocupação com o
abrir de uma “nova estação de confronto nuclear”, que cancela os
progressos do passado recente e multiplica o risco de guerras.
Portanto, para o Pontífice, é tempo de uma maior responsabilidade e
de uma renovada solidariedade internacional. Hoje, é tarefa do Estado
participar da edificação do bem comum da humanidade, mantendo sempre a
soberania de cada país e preservando a identidade e a riqueza de cada
povo.
VN
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