16 maio, 2019

Papa aos Lassalistas: a educação não pode ser apenas um trabalho, mas uma missão

 
 
São João Batista de La Salle "foi um inovador brilhante e criativo na visão da escola, na concepção do professor e nos métodos de ensino. A sua visão da escola levou-o a reconhecer cada vez mais que a educação é um direito de todos, também dos pobres".
 
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (16/05), na Sala Clementina, no Vaticano, os Irmãos das Escolas Cristãs, conhecidos também como Lassalistas, por ocasião dos trezentos anos da morte do seu fundador, São João Batista de La Salle, um pioneiro no campo da educação que na sua época criou um sistema educacional inovador.

“O seu exemplo e o seu testemunho confirmam a atualidade original da sua mensagem para a comunidade cristã de hoje, iluminando o caminho a seguir. Ele foi um inovador brilhante e criativo na visão da escola, na concepção do professor e nos métodos de ensino. A sua visão da escola levou-o a reconhecer cada vez mais que a educação é um direito de todos, também dos pobres.”

Não obstante a sua rica herança de família, São João Batista de La Salle deixou tudo “para se dedicar inteiramente à educação da classe social mais baixa. Criou uma comunidade de leigos para levar adiante o seu ideal, convencido de que a Igreja não pode ficar alheia às contradições sociais dos tempos com as quais é chamada a confrontar-se”. 

A escola é uma realidade séria

Segundo o Papa, “esta convicção levou-o a instituir uma experiência original de vida consagrada: a presença de religiosos educadores que, sem seem sacerdotes, interpretassem de maneira nova o rosto dos ‘monges leigos’, imergindo-se totalmente na realidade do seu tempo e contribuindo para o progresso da sociedade civil.”

“O contacto cotidiano com o mundo escolar amadureceu nele a consciência de identificar uma nova concepção do professor. Ele estava convencido de que a escola é uma realidade séria, que precisa de pessoas adequadamente preparadas”, mas ele tinha diante de si “todas as carências estruturais e funcionais de uma instituição precária que precisava de ordem e forma”.

São João Batista de La Salle “percebeu que a educação não pode ser apenas um trabalho, mas uma missão. Por isso, circundou-se de pessoas adequadas para a escola popular, inspiradas pelo cristianismo, com aptidão para a educação. Dedicou todas as suas energias na formação dessas pessoas, tornando-se um exemplo e modelo para elas, que tiveram que exercer um serviço ao mesmo tempo eclesial e social”. 

Uma escola aberta a todos

“A fim de dar respostas concretas às demandas de seu tempo no campo da educação, São João Batista de La Salle empreendeu reformas audaciosas dos  métodos de ensino. Nisso, ele foi movido por um extraordinário realismo pedagógico”, sublinhou Francisco.

“Substituiu a língua francesa pela latina, que era normalmente usada no ensino, dividiu os alunos em grupos homogéneos de aprendizagem com vista a um trabalho mais eficaz, instituiu os seminários para os professores rurais, ou seja, para os jovens que queriam tornar-se professores sem fazerem parte de nenhuma instituição religiosa, fundou as Escolas dominicais para adultos e duas casas, um para jovens delinquentes e a outra para a recuperação de encarcerados. Ele sonhava uma escola aberta a todos. Por isso, enfrentou também as necessidades educacionais extremas, introduzindo um método de reabilitação através da escola e do trabalho. Nessas realidades de formação, iniciou uma pedagogia corretiva que, em contraste com o uso dos tempos, levava aos jovens punidos o estudo e o trabalho, com atividades artesanais, em vez de meras celas ou chibatadas.” 

Protagonistas de uma cultura da ressurreição

O Papa exortou os filhos espirituais de São João Batista de La Salle a “aprofundar e imitar a sua paixão pelos últimos e descartados”.

“Seguindo o seu testemunho apostólico, sejam protagonistas de uma ‘cultura da ressurreição’, especialmente nos contextos existenciais em que prevalece a cultura da morte. Não se cansem de procurar aqueles que se encontram nos ‘sepulcros’ modernos da confusão, degradação, desconforto e pobreza, para oferecer uma nova esperança de vida. O impulso pela missão educacional, que fez do seu fundador um mestre e testemunha para muitos do seu tempo, e o seu ensinamento, possam ainda hoje alimentar os vossos projetos e a vossa ação.”

“A sua figura, sempre muito atual, é um dom para a Igreja e um precioso estímulo para a sua Congregação, chamada a uma adesão a Cristo renovada e animada. Que vocês possam cumprir a vossa missão entre as gerações jovens com vigor renovado e com a audácia reformadora que caracterizou São João Batista de La Salle: anunciem a todos o Evangelho da esperança e da caridade”, concluiu Francisco.

VN

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