29 maio, 2019

Papa na Audiência Geral: a salvação não se compra, é dom gratuito

 
 
O tema da catequese de hoje foi extraído do primeiro capítulo do Livro dos Atos dos Apóstolos, dos versículos dois e três: “Mostrou-se a eles vivo e ordenou-lhes esperar o cumprimento da promessa do Pai”.
 
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco iniciou o seu ciclo de catequeses sobre o Livro dos Atos dos Apóstolos na Audiência Geral, desta quarta-feira (29/05).

O tema da catequese de hoje foi extraído do primeiro capítulo do livro, dos versículos dois e três: “Mostrou-se a eles vivo e ordenou-lhes esperar o cumprimento da promessa do Pai”.

“Este livro bíblico, escrito por São Lucas Evangelista, fala-nos da viagem do Evangelho no mundo e mostra-nos a ligação maravilhosa entre a Palavra de Deus e o Espírito Santo que inaugura o tempo da evangelização. Os protagonistas dos Atos dos Apóstolos são ‘um casal’ vivo e eficaz: A Palavra e o Espírito”, frisou o Papa. 

A Palavra de Deus corre, é dinâmica

“A Palavra de Deus corre, é dinâmica, irriga todo o terreno sobre o qual ela cai. E qual é a sua força? São Lucas diz-nos que a palavra humana torna-se eficaz não graças à retórica, que é a arte do belo discurso, mas graças ao Espírito Santo, que é a dýnamis de Deus, a dinâmica de Deus, a sua força, que tem o poder de purificar a palavra, torná-la portadora de vida. Por exemplo, na Bíblia existem histórias, existem palavras humanas, mas qual é a diferença entre a Bíblia e um livro de histórias? As palavras da Bíblia são tomadas pelo Espírito Santo, que dá uma força muito grande, uma força diferente, e nos ajuda a fim de que aquela palavra seja semente de santidade e de vida, seja eficaz."
“ Quando o Espírito visita a palavra humana, ela torna-se dinâmica, como “dinamite”, capaz de iluminar os corações e anular esquemas, resistências e muros de divisão, abrindo novos caminhos e expandindo os confins do povo de Deus. ”
Segundo Francisco, “Aquele que dá sonoridade vibrante e eficiência à nossa palavra humana tão frágil, capaz até de mentir e fugir das próprias responsabilidades, é somente o Espírito Santo, por meio do qual o Filho de Deus foi gerado. O Espírito que o ungiu e o sustentou na missão, o Espírito graças ao qual escolheu os seus apóstolos e garantiu ao seu anúncio a perseverança e a fecundidade, e que garante também hoje no nosso anúncio”. 

Confiança na espera da realização da promessa do Pai

O Papa frisou que “o Evangelho conclui-se com a ressurreição e ascensão de Jesus e a trama narrativa dos Atos dos Apóstolos parte da superabundância da vida do Ressuscitado derramada sobre a Igreja. São Lucas diz-nos que Jesus ‘mostrou-se vivo depois da sua paixão: durante quarenta dias apareceu-lhes, e falou-lhes do Reino de Deus’.”

“Cristo ressuscitado cumpre gestos humanos, como o de partilhar a refeição com os seus discípulos, e convida-os a viver com confiança a espera da realização da promessa do Pai. Qual é a promessa do Pai?: “Sereis batizados com o Espírito Santo”.

“O batismo no Espírito Santo é a experiência que nos ajuda a entrar numa comunhão pessoal com Deus e participar no seu desejo universal de salvação, adquirindo o dom de parresia, a coragem, ou seja, a capacidade de pronunciar uma palavra “como filhos de Deus”, não somente como pessoas, mas como filhos de Deus: uma palavra límpida, livre, eficaz, cheia de amor por Cristo e pelos irmãos.” 

A salvação não se paga

Segundo o Papa, “não é preciso lutar para ganhar ou merecer o dom de Deus. Tudo é dado gratuitamente e no seu tempo. O Senhor doa tudo gratuitamente. A salvação não se compra, não se paga. É dom gratuito”.

Francisco frisou que “diante da ansiedade de conhecer antecipadamente o tempo em que os eventos anunciados por Ele acontecerão, Jesus responde aos seus: «Não cabe a vós saber os tempos e as datas que o Pai reservou à sua própria autoridade. Mas o Espírito Santo descerá sobre vós, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até aos extremos da terra.»”

Cristo ressuscitado convida os seus discípulos “a não viverem o presente com ansiedade, mas a fazerem uma aliança com o tempo, saber esperar o desenrolar de uma história sagrada que não foi interrompida, mas que avança, a saber esperar os “passos” de Deus, Senhor do tempo e do espaço”.

Francisco disse ainda que o Senhor “ressuscitado convida os seus a não “fabricar” a missão por si mesmo, mas a esperarem que o Pai dinamize os seus corações com o seu Espírito”, a fim de que possam dar um “testemunho missionário capaz de irradiar-se de Jerusalém à Samaria e ir além das fronteiras de Israel a fim de chegar às periferias do mundo”. 

Unidade e perseverança

“Os apóstolos viveram juntos esta expectativa, como família do Senhor, no Cenáculo, cujas paredes ainda são testemunhas do dom com que Jesus se entregou aos seus discípulos na Eucaristia.”

“Como esperam a força, a dýnamis de Deus?”, perguntou o Papa.  “Rezando com perseverança”, juntos. “Rezando na unidade e com perseverança. É com a oração que se vence a solidão, a tentação, a desconfiança e se abre o coração para a comunhão. A presença das mulheres e de Maria, mãe de Jesus, intensifica esta experiência: elas foram as primeiras a aprender do Mestre a testemunhar a fidelidade do amor e a força da comunhão que vence todo medo”.

Francisco concluiu a catequese, pedindo a Deus para que nos conceda “a paciência de esperar pelos seus passos, de não ‘fabricar’ nós mesmos a sua obra e permanecer dóceis, rezando, invocando o Espírito e cultivando a arte da comunhão eclesial”.



VN

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