Encontro ecuménico e inter-religioso com os jovens, em Skopje
(Vatican Media)
Queridos amigos!
Poder ter estes encontros é sempre motivo de alegria e esperança. Obrigado por o terdes tornado possível e me terdes dado esta oportunidade. De coração, obrigado pela vossa dança, muito linda, e as vossas perguntas. Eu conhecia as perguntas: tinha-as recebido e conheci-as, tendo preparado alguns pontos para refletir convosco sobre estas perguntas.
Começo pela última (como dizia o Senhor, os últimos serão os primeiros). Liridona, depois de teres partilhado connosco as tuas aspirações, perguntavas-me: «Sonho demais?» Uma boa pergunta, à qual gostaria de podermos responder juntos. Na vossa opinião, Liridona sonha demais?
Quero dizer-vos que sonhar nunca é demais. Um dos principais problemas de hoje e de muitos jovens é terem perdido a capacidade de sonhar. Nem muito nem pouco; simplesmente não sonham! E, quando uma pessoa não sonha, quando um jovem não sonha, o respetivo espaço é ocupado pela lamentação e pela resignação ou pela tristeza. «Estas deixemo-las aos que seguem a “deusa lamentação”! (...) É um engano: faz com que te encaminhes pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e estagnante, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 141). Por isso, querida Liridona, queridos amigos, nunca, nunca se sonha demais. Tentai pensar nos vossos sonhos maiores, em sonhos como o de Liridona (ainda o recordais?): dar esperança a um mundo cansado, juntamente com os outros, cristãos e muçulmanos. É, sem dúvida, um sonho muito lindo. Não pensou em coisas pequenas, em coisas terra a terra, mas sonhou em grande. E vós, jovens, deveis sonhar em grande!
Há alguns meses atrás, precisamente com um amigo, o Grande Imã de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyeb, tínhamos, também nós, um sonho muito parecido com o teu que nos levou a querer comprometer-mo-nos assinando juntos um documento que diz que a fé deve levar-nos, a nós crentes, a ver nos outros irmãos que devemos apoiar e amar sem nos deixarmos manipular por interesses mesquinhos (cf. Documento sobre a Fraternidade Humana, Abu Dhabi 4 de fevereiro de 2019). Somos crescidos, mas não há uma idade para sonhar! Sonhai e sonhai em grande!
Isto faz-me pensar naquilo que nos dizia Bozanka: que a vós, jovens, agradam as aventuras. E fico contente que seja assim, porque é a forma linda de ser jovem: viver uma aventura, uma boa aventura. O jovem não tem medo de fazer da sua vida uma boa aventura. E pergunto-vos: haverá aventura que requeira mais coragem do que o sonho partilhado connosco por Liridona, ou seja, dar esperança a um mundo cansado? O mundo está cansado, está envelhecido; o mundo está dividido; e parece vantajoso dividi-lo e dividir-nos ainda mais. Há tantos adultos que querem criar divisão entre nós. Tende cuidado! Como ressoam fortes as palavras do Senhor: «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9)! Que nos poderá estimular mais do que esforçar-nos todos os dias, com dedicação, por ser artesãos de sonhos, artesãos de esperança? Os sonhos ajudam-nos a manter viva a certeza de saber que outro mundo é possível, e que somos chamados a envolver-nos nele e contribuir para ele com o nosso trabalho, o nosso empenho e a nossa atividade.
Neste país, há uma bela tradição: a dos artesãos cinzeladores, hábeis em cortar a pedra e trabalhá-la. Sabem? É preciso fazer como aqueles artistas e tornar-se bons cinzeladores dos próprios sonhos. Precisamos de trabalhar sobre os nossos sonhos. Um cinzelador toma a pedra nas suas mãos e, lentamente, começa a moldá-la e transformá-la, com dedicação e esforço e sobretudo com uma grande vontade de ver como aquela pedra, pela qual ninguém daria nada, se torna uma obra de arte.
«Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, renunciando à pressa [como aqueles artistas]. Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros [isso não, não tenhais medo]; devemos, sim, ter medo de viver paralisados, como mortos ainda em vida, sujeitos que não vivem porque não querem arriscar [e um jovem que não arrisca está morto. Eles] não perseveram nos seus compromissos ou têm medo de errar. Ainda que erres, poderás sempre levantar a cabeça e voltar a começar, porque ninguém tem o direito de te roubar a esperança» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 142). Não deixeis que vos roubem a esperança!
Queridos jovens, não tenhais medo de vos tornar artesãos de sonhos e artesãos de esperança. Estais de acordo? [respondem com um aplauso].
«Certamente nós, membros da Igreja, não precisamos de aparecer como sujeitos estranhos. Todos nós nos devemos sentir irmãos e vizinhos, como os Apóstolos que “tinham a simpatia de todo o povo” (At 2, 47; cf. 4, 21.33; 5, 13). Ao mesmo tempo, porém, devemos ter a coragem de sermos diferentes, mostrar outros sonhos que este mundo não oferece, testemunhar a beleza da generosidade, do serviço, da pureza, da fortaleza, do perdão, da fidelidade à própria vocação, da oração, da luta pela justiça e o bem comum, do amor aos pobres, da amizade social» (Ibid., 36).
Pensai na Madre Teresa! Quando morava aqui, não podia imaginar como haveria de ser a sua vida, mas não cessou de sonhar e esforçar-se por procurar sempre, descobrir o rosto do seu grande amor, que era Jesus: descobri-Lo em todos aqueles que estavam à beira de estrada. Sonhou em grande e, por isso, também amou em grande. Tinha os pés bem firmes aqui, na sua terra, mas não estava ociosa. Queria ser «um lápis nas mãos de Deus». Tal era o seu sonho artesanal. Ofereceu-o a Deus, acreditou nele, sofreu por ele, nunca desistiu dele. E, com aquele lápis, Deus começou a escrever páginas inéditas e estupendas. Uma jovem do vosso povo, uma mulher do vosso povo, sonhando, escreveu coisas grandes. Foi Deus que as escreveu, mas ela sonhou e deixou-se guiar por Deus.
Cada um de vós, como Madre Teresa, é chamado a trabalhar com as próprias mãos, a tomar a vida a sério, para fazer dela algo de bom. Não permitamos que nos roubem os sonhos (cf. Ibid., 17). Não o permitais; estai atentos! Não nos privemos da novidade que o Senhor nos quer dar. Encontrareis muitos imprevistos, muitos..., mas é importante que os possais enfrentar e procurar criativamente o modo de os transformar em oportunidades. Mas nunca sozinhos; ninguém pode combater sozinho. Como nos testemunharam Dragan e Marija: «a nossa comunhão dá-nos a força para enfrentar os desafios da sociedade atual».
Retomo aquilo que disseram Dragan e Marija: «A nossa comunhão dá-nos a força para enfrentar os desafios da sociedade atual». Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente, não se pode viver a fé, os sonhos sem comunidade, apenas no próprio coração ou em casa, fechados e isolados dentro de quatro paredes; precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente.
Como é importante sonhar juntos! Como fazeis hoje: aqui, todos unidos, sem barreiras. Por favor, sonhai juntos, não sozinhos; sonhai com os outros, nunca contra os outros. Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos.
Há poucos minutos, vimos duas crianças a jogar aqui. Queriam jogar, jogar juntas. Não foram jogar no visor do computador, queriam um jogo na realidade concreta! Vimo-las: estavam felizes, contentes, porque sonhavam jogar juntas, uma com a outra. Vistes o que sucedeu depois? A certa altura, uma deu-se conta de que era mais forte que a outra e, em vez de sonhar com a outra, começou a sonhar contra a outra, e procurou vencê-la. E a alegria transformou-se no choro daquela pobre coitada que acabou no chão. Vistes como se pode passar do sonhar com o outro a sonhar contra o outro. Nunca domines o outro; faz comunidade com o outro! Esta é a alegria de continuar por diante. É muito importante.
Dragan e Marija disseram-nos como isto se torna difícil, quando tudo parece isolar-nos e privar-nos da oportunidade de nos encontrarmos, deste «sonhar com o outro». Nos anos que tenho (e não são poucos), sabeis qual foi a melhor lição que vi e conheci em toda a minha vida? O «face a face». Entramos na era das conexões, mas sabemos pouco de comunicações. Tantos contactos, mas comunica-se pouco. Muito conectados e pouco envolvidos uns com os outros. Porque envolver-mo-nos reclama a vida, exige estar presente e partilhar momentos belos... e outros menos belos. No Sínodo do ano passado dedicado aos jovens, pudemos viver a experiência de nos encontrar face a face, jovens e menos jovens, e escutar-nos, sonhar juntos, olhar em frente com esperança e gratidão. Aquele foi o melhor antídoto contra o desânimo, contra a manipulação, contra a cultura do efémero, de tantos contactos sem comunicação, contra a cultura dos falsos profetas que só anunciam desgraças e destruição. O antídoto é escutar e escutar-nos. E agora deixai que vos diga uma coisa que me está muito a peito: aproveitai a oportunidade de partilhar e gozar dum bom «face a face» com todos, mas sobretudo com os vossos avós, com os idosos da vossa comunidade. Talvez algum de vós já me tenha ouvido dizê-lo, mas penso que é um antídoto contra todos aqueles que vos querem encerrar no presente, afogando-vos e sufocando-vos com pressões e exigências duma suposta felicidade, onde parece que o mundo está para acabar e é preciso fazer e viver tudo imediatamente. Com o passar do tempo, isto gera muita ansiedade, insatisfação, resignação. Para um coração doente com a resignação, não há remédio melhor do que escutar as experiências dos idosos.
Amigos, passai tempo com os vossos idosos, com os vossos anciãos; escutai as suas longas histórias, que às vezes parecem fantasiosas, mas na realidade estão cheias duma preciosa experiência, cheios de símbolos eloquentes e sabedoria escondida que é preciso descobrir e valorizar. São histórias que requerem tempo (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 195). Não esqueçamos o provérbio: um anão pode ver mais longe estando aos ombros dum gigante. Desta forma, adquirireis uma visão que nunca alcançastes até agora. Entrai na sabedoria do vosso povo, da vossa gente, entrai sem vergonha nem complexos, e encontrareis uma fonte de criatividade inesperada que tudo preencherá, permitindo-vos ver estradas onde outros veem muros, possibilidades onde outros veem perigo, ressurreição onde muitos anunciam apenas morte.
É por isso, queridos jovens, que vos digo para falar com os vossos avós e com os vossos anciãos. Eles são as raízes, as raízes da vossa história, as raízes do vosso povo, as raízes das vossas famílias. Deveis agarrar-vos às raízes para tirar delas a seiva que fará a árvore crescer e dar flores e frutos, mas sempre a partir das raízes. Não digo que deveis enterrar-vos com as raízes. Não; isto não! Mas deveis escutar as raízes, e tirar de lá a força para crescer, para prosseguir. Se se cortam as raízes a uma árvore, esta morre. A vós jovens, se vos cortarem as vossas raízes, que são a história do vosso povo, morrereis. Sim, continuareis a viver, mas sem fruto: a vossa pátria, o vosso povo não poderão dar fruto, porque vos separastes das raízes.
No meu tempo de criança, na escola diziam-nos que, quando os europeus foram descobrir a América, levavam vidros coloridos: mostravam-nos aos índios, aos indígenas; e estes entusiasmavam-se com os vidros coloridos, que não conheciam. E aqueles índios esqueciam as suas raízes; compravam os vidros coloridos e, em troca, davam ouro. Com os vidros coloridos, roubavam o ouro. Era uma novidade, e davam tudo para ter aquela novidade que não valia nada. Vós, jovens, tende cuidado, porque ainda hoje existem os conquistadores, os colonizadores que nos trarão os vidros coloridos: são as colonizações ideológicas. Virão ter convosco e dir-vos-ão: «Não está bem! Vós deveis ser um povo mais moderno, mais progressista, deveis avançar… Tomai estas coisas, segui por esta estrada, esquecei as coisas antigas: avançai!» Que deveis fazer? Discernir. Aquilo que me traz esta pessoa, é uma coisa boa, que está de harmonia com a história do meu povo? Ou são «vidros coloridos»? E, para não nos enganarmos, é importante falar com os idosos, falar com os anciãos que vos transmitirão a história do vosso povo, as raízes do vosso povo. Falemos com os idosos, para crescer. Falemos com a nossa história, para levá-la ainda mais para diante. Falemos com as nossas raízes, para dar flores e frutos.
E agora tenho de terminar, porque o tempo foge. Mas confesso-vos uma coisa: desde o início desta conversa convosco, a minha atenção é atraída para uma situação. Olhava para esta mulher, aqui na frente: espera um bebé. Espera um bebé, e algum de vós poderia pensar: «Oh que desgraça! Pobre mulher, quanto terá de trabalhar!» Alguém pensa assim? Não. Ninguém pensa: «Oh passará tantas noites sem dormir pelo bebé que chora...». Não. Aquele bebé é uma promessa, aponta para a frente! Esta mulher arriscou para trazer um bebé ao mundo, porque olha para a frente, olha a história. Porque ela sente-se com a força das raízes a fim de levar a vida para diante, levar a pátria para diante, levar o povo para diante.
Terminemos, todos juntos, com um aplauso a todas as jovens, a todas as mulheres corajosas que levam a história para diante.
E obrigado ao tradutor, que foi tão bom!
Precisais das minhas mãos, Senhor?
(Oração de Madre Teresa)
Precisais das minhas mãos, Senhor,
para ajudar hoje os doentes e os pobres
que delas necessitam?
Senhor, hoje ofereço-Vos as minhas mãos.
Precisais dos meus pés, Senhor,
para que me levem hoje
àqueles que necessitam dum amigo?
Senhor, hoje ofereço-Vos os meus pés.
Precisais da minha voz, Senhor,
para que eu hoje fale a todos aqueles
que necessitam da vossa palavra de amor?
Senhor, hoje ofereço-Vos a minha voz.
Precisais do meu coração, Senhor,
para que eu ame a quem quer que seja
sem exceção alguma?
Senhor, hoje ofereço-Vos o meu coração.
Poder ter estes encontros é sempre motivo de alegria e esperança. Obrigado por o terdes tornado possível e me terdes dado esta oportunidade. De coração, obrigado pela vossa dança, muito linda, e as vossas perguntas. Eu conhecia as perguntas: tinha-as recebido e conheci-as, tendo preparado alguns pontos para refletir convosco sobre estas perguntas.
Começo pela última (como dizia o Senhor, os últimos serão os primeiros). Liridona, depois de teres partilhado connosco as tuas aspirações, perguntavas-me: «Sonho demais?» Uma boa pergunta, à qual gostaria de podermos responder juntos. Na vossa opinião, Liridona sonha demais?
Quero dizer-vos que sonhar nunca é demais. Um dos principais problemas de hoje e de muitos jovens é terem perdido a capacidade de sonhar. Nem muito nem pouco; simplesmente não sonham! E, quando uma pessoa não sonha, quando um jovem não sonha, o respetivo espaço é ocupado pela lamentação e pela resignação ou pela tristeza. «Estas deixemo-las aos que seguem a “deusa lamentação”! (...) É um engano: faz com que te encaminhes pela estrada errada. Quando tudo parece estar parado e estagnante, quando os problemas pessoais nos preocupam, as dificuldades sociais não encontram as devidas respostas, não é bom dar-se por vencido» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 141). Por isso, querida Liridona, queridos amigos, nunca, nunca se sonha demais. Tentai pensar nos vossos sonhos maiores, em sonhos como o de Liridona (ainda o recordais?): dar esperança a um mundo cansado, juntamente com os outros, cristãos e muçulmanos. É, sem dúvida, um sonho muito lindo. Não pensou em coisas pequenas, em coisas terra a terra, mas sonhou em grande. E vós, jovens, deveis sonhar em grande!
Há alguns meses atrás, precisamente com um amigo, o Grande Imã de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyeb, tínhamos, também nós, um sonho muito parecido com o teu que nos levou a querer comprometer-mo-nos assinando juntos um documento que diz que a fé deve levar-nos, a nós crentes, a ver nos outros irmãos que devemos apoiar e amar sem nos deixarmos manipular por interesses mesquinhos (cf. Documento sobre a Fraternidade Humana, Abu Dhabi 4 de fevereiro de 2019). Somos crescidos, mas não há uma idade para sonhar! Sonhai e sonhai em grande!
Isto faz-me pensar naquilo que nos dizia Bozanka: que a vós, jovens, agradam as aventuras. E fico contente que seja assim, porque é a forma linda de ser jovem: viver uma aventura, uma boa aventura. O jovem não tem medo de fazer da sua vida uma boa aventura. E pergunto-vos: haverá aventura que requeira mais coragem do que o sonho partilhado connosco por Liridona, ou seja, dar esperança a um mundo cansado? O mundo está cansado, está envelhecido; o mundo está dividido; e parece vantajoso dividi-lo e dividir-nos ainda mais. Há tantos adultos que querem criar divisão entre nós. Tende cuidado! Como ressoam fortes as palavras do Senhor: «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» (Mt 5, 9)! Que nos poderá estimular mais do que esforçar-nos todos os dias, com dedicação, por ser artesãos de sonhos, artesãos de esperança? Os sonhos ajudam-nos a manter viva a certeza de saber que outro mundo é possível, e que somos chamados a envolver-nos nele e contribuir para ele com o nosso trabalho, o nosso empenho e a nossa atividade.
Neste país, há uma bela tradição: a dos artesãos cinzeladores, hábeis em cortar a pedra e trabalhá-la. Sabem? É preciso fazer como aqueles artistas e tornar-se bons cinzeladores dos próprios sonhos. Precisamos de trabalhar sobre os nossos sonhos. Um cinzelador toma a pedra nas suas mãos e, lentamente, começa a moldá-la e transformá-la, com dedicação e esforço e sobretudo com uma grande vontade de ver como aquela pedra, pela qual ninguém daria nada, se torna uma obra de arte.
«Os sonhos mais belos conquistam-se com esperança, paciência e determinação, renunciando à pressa [como aqueles artistas]. Ao mesmo tempo, é preciso não se deixar bloquear pela insegurança: não se deve ter medo de arriscar e cometer erros [isso não, não tenhais medo]; devemos, sim, ter medo de viver paralisados, como mortos ainda em vida, sujeitos que não vivem porque não querem arriscar [e um jovem que não arrisca está morto. Eles] não perseveram nos seus compromissos ou têm medo de errar. Ainda que erres, poderás sempre levantar a cabeça e voltar a começar, porque ninguém tem o direito de te roubar a esperança» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 142). Não deixeis que vos roubem a esperança!
Queridos jovens, não tenhais medo de vos tornar artesãos de sonhos e artesãos de esperança. Estais de acordo? [respondem com um aplauso].
«Certamente nós, membros da Igreja, não precisamos de aparecer como sujeitos estranhos. Todos nós nos devemos sentir irmãos e vizinhos, como os Apóstolos que “tinham a simpatia de todo o povo” (At 2, 47; cf. 4, 21.33; 5, 13). Ao mesmo tempo, porém, devemos ter a coragem de sermos diferentes, mostrar outros sonhos que este mundo não oferece, testemunhar a beleza da generosidade, do serviço, da pureza, da fortaleza, do perdão, da fidelidade à própria vocação, da oração, da luta pela justiça e o bem comum, do amor aos pobres, da amizade social» (Ibid., 36).
Pensai na Madre Teresa! Quando morava aqui, não podia imaginar como haveria de ser a sua vida, mas não cessou de sonhar e esforçar-se por procurar sempre, descobrir o rosto do seu grande amor, que era Jesus: descobri-Lo em todos aqueles que estavam à beira de estrada. Sonhou em grande e, por isso, também amou em grande. Tinha os pés bem firmes aqui, na sua terra, mas não estava ociosa. Queria ser «um lápis nas mãos de Deus». Tal era o seu sonho artesanal. Ofereceu-o a Deus, acreditou nele, sofreu por ele, nunca desistiu dele. E, com aquele lápis, Deus começou a escrever páginas inéditas e estupendas. Uma jovem do vosso povo, uma mulher do vosso povo, sonhando, escreveu coisas grandes. Foi Deus que as escreveu, mas ela sonhou e deixou-se guiar por Deus.
Cada um de vós, como Madre Teresa, é chamado a trabalhar com as próprias mãos, a tomar a vida a sério, para fazer dela algo de bom. Não permitamos que nos roubem os sonhos (cf. Ibid., 17). Não o permitais; estai atentos! Não nos privemos da novidade que o Senhor nos quer dar. Encontrareis muitos imprevistos, muitos..., mas é importante que os possais enfrentar e procurar criativamente o modo de os transformar em oportunidades. Mas nunca sozinhos; ninguém pode combater sozinho. Como nos testemunharam Dragan e Marija: «a nossa comunhão dá-nos a força para enfrentar os desafios da sociedade atual».
Retomo aquilo que disseram Dragan e Marija: «A nossa comunhão dá-nos a força para enfrentar os desafios da sociedade atual». Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente, não se pode viver a fé, os sonhos sem comunidade, apenas no próprio coração ou em casa, fechados e isolados dentro de quatro paredes; precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente.
Como é importante sonhar juntos! Como fazeis hoje: aqui, todos unidos, sem barreiras. Por favor, sonhai juntos, não sozinhos; sonhai com os outros, nunca contra os outros. Sozinho, corres o risco de ter miragens, vendo aquilo que não existe; é juntos que se constroem os sonhos.
Há poucos minutos, vimos duas crianças a jogar aqui. Queriam jogar, jogar juntas. Não foram jogar no visor do computador, queriam um jogo na realidade concreta! Vimo-las: estavam felizes, contentes, porque sonhavam jogar juntas, uma com a outra. Vistes o que sucedeu depois? A certa altura, uma deu-se conta de que era mais forte que a outra e, em vez de sonhar com a outra, começou a sonhar contra a outra, e procurou vencê-la. E a alegria transformou-se no choro daquela pobre coitada que acabou no chão. Vistes como se pode passar do sonhar com o outro a sonhar contra o outro. Nunca domines o outro; faz comunidade com o outro! Esta é a alegria de continuar por diante. É muito importante.
Dragan e Marija disseram-nos como isto se torna difícil, quando tudo parece isolar-nos e privar-nos da oportunidade de nos encontrarmos, deste «sonhar com o outro». Nos anos que tenho (e não são poucos), sabeis qual foi a melhor lição que vi e conheci em toda a minha vida? O «face a face». Entramos na era das conexões, mas sabemos pouco de comunicações. Tantos contactos, mas comunica-se pouco. Muito conectados e pouco envolvidos uns com os outros. Porque envolver-mo-nos reclama a vida, exige estar presente e partilhar momentos belos... e outros menos belos. No Sínodo do ano passado dedicado aos jovens, pudemos viver a experiência de nos encontrar face a face, jovens e menos jovens, e escutar-nos, sonhar juntos, olhar em frente com esperança e gratidão. Aquele foi o melhor antídoto contra o desânimo, contra a manipulação, contra a cultura do efémero, de tantos contactos sem comunicação, contra a cultura dos falsos profetas que só anunciam desgraças e destruição. O antídoto é escutar e escutar-nos. E agora deixai que vos diga uma coisa que me está muito a peito: aproveitai a oportunidade de partilhar e gozar dum bom «face a face» com todos, mas sobretudo com os vossos avós, com os idosos da vossa comunidade. Talvez algum de vós já me tenha ouvido dizê-lo, mas penso que é um antídoto contra todos aqueles que vos querem encerrar no presente, afogando-vos e sufocando-vos com pressões e exigências duma suposta felicidade, onde parece que o mundo está para acabar e é preciso fazer e viver tudo imediatamente. Com o passar do tempo, isto gera muita ansiedade, insatisfação, resignação. Para um coração doente com a resignação, não há remédio melhor do que escutar as experiências dos idosos.
Amigos, passai tempo com os vossos idosos, com os vossos anciãos; escutai as suas longas histórias, que às vezes parecem fantasiosas, mas na realidade estão cheias duma preciosa experiência, cheios de símbolos eloquentes e sabedoria escondida que é preciso descobrir e valorizar. São histórias que requerem tempo (cf. Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 195). Não esqueçamos o provérbio: um anão pode ver mais longe estando aos ombros dum gigante. Desta forma, adquirireis uma visão que nunca alcançastes até agora. Entrai na sabedoria do vosso povo, da vossa gente, entrai sem vergonha nem complexos, e encontrareis uma fonte de criatividade inesperada que tudo preencherá, permitindo-vos ver estradas onde outros veem muros, possibilidades onde outros veem perigo, ressurreição onde muitos anunciam apenas morte.
É por isso, queridos jovens, que vos digo para falar com os vossos avós e com os vossos anciãos. Eles são as raízes, as raízes da vossa história, as raízes do vosso povo, as raízes das vossas famílias. Deveis agarrar-vos às raízes para tirar delas a seiva que fará a árvore crescer e dar flores e frutos, mas sempre a partir das raízes. Não digo que deveis enterrar-vos com as raízes. Não; isto não! Mas deveis escutar as raízes, e tirar de lá a força para crescer, para prosseguir. Se se cortam as raízes a uma árvore, esta morre. A vós jovens, se vos cortarem as vossas raízes, que são a história do vosso povo, morrereis. Sim, continuareis a viver, mas sem fruto: a vossa pátria, o vosso povo não poderão dar fruto, porque vos separastes das raízes.
No meu tempo de criança, na escola diziam-nos que, quando os europeus foram descobrir a América, levavam vidros coloridos: mostravam-nos aos índios, aos indígenas; e estes entusiasmavam-se com os vidros coloridos, que não conheciam. E aqueles índios esqueciam as suas raízes; compravam os vidros coloridos e, em troca, davam ouro. Com os vidros coloridos, roubavam o ouro. Era uma novidade, e davam tudo para ter aquela novidade que não valia nada. Vós, jovens, tende cuidado, porque ainda hoje existem os conquistadores, os colonizadores que nos trarão os vidros coloridos: são as colonizações ideológicas. Virão ter convosco e dir-vos-ão: «Não está bem! Vós deveis ser um povo mais moderno, mais progressista, deveis avançar… Tomai estas coisas, segui por esta estrada, esquecei as coisas antigas: avançai!» Que deveis fazer? Discernir. Aquilo que me traz esta pessoa, é uma coisa boa, que está de harmonia com a história do meu povo? Ou são «vidros coloridos»? E, para não nos enganarmos, é importante falar com os idosos, falar com os anciãos que vos transmitirão a história do vosso povo, as raízes do vosso povo. Falemos com os idosos, para crescer. Falemos com a nossa história, para levá-la ainda mais para diante. Falemos com as nossas raízes, para dar flores e frutos.
E agora tenho de terminar, porque o tempo foge. Mas confesso-vos uma coisa: desde o início desta conversa convosco, a minha atenção é atraída para uma situação. Olhava para esta mulher, aqui na frente: espera um bebé. Espera um bebé, e algum de vós poderia pensar: «Oh que desgraça! Pobre mulher, quanto terá de trabalhar!» Alguém pensa assim? Não. Ninguém pensa: «Oh passará tantas noites sem dormir pelo bebé que chora...». Não. Aquele bebé é uma promessa, aponta para a frente! Esta mulher arriscou para trazer um bebé ao mundo, porque olha para a frente, olha a história. Porque ela sente-se com a força das raízes a fim de levar a vida para diante, levar a pátria para diante, levar o povo para diante.
Terminemos, todos juntos, com um aplauso a todas as jovens, a todas as mulheres corajosas que levam a história para diante.
E obrigado ao tradutor, que foi tão bom!
Precisais das minhas mãos, Senhor?
(Oração de Madre Teresa)
Precisais das minhas mãos, Senhor,
para ajudar hoje os doentes e os pobres
que delas necessitam?
Senhor, hoje ofereço-Vos as minhas mãos.
Precisais dos meus pés, Senhor,
para que me levem hoje
àqueles que necessitam dum amigo?
Senhor, hoje ofereço-Vos os meus pés.
Precisais da minha voz, Senhor,
para que eu hoje fale a todos aqueles
que necessitam da vossa palavra de amor?
Senhor, hoje ofereço-Vos a minha voz.
Precisais do meu coração, Senhor,
para que eu ame a quem quer que seja
sem exceção alguma?
Senhor, hoje ofereço-Vos o meu coração.
VN
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