(RV) Acolher os
migrantes segundo as próprias possibilidades, mas com "generosidade".
"Tocar" a carne dos que sofrem e acompanhar o crescimento da fé numa
época de analfabetismo religioso. Repropor com criatividade a vida das
paróquias – alguns dos temas desenvolvidos pelo Papa no seu discurso aos
bispos polacos no passado dia 27 de julho, no início da sua visita
àquele País europeu.
O relativismo religioso, viver a misericórdia num mundo "dominado
pela injustiça", a validade sempre actual do modelo paroquial, a Europa e
o desafio do acolhimento dos migrantes. Quatro perguntas de bispos
polacos, quatro longas respostas do Papa Francisco, que inicia o seu
discurso com uma oração pela morte de Dom Zimowski e continua com uma
outra pelo Cardeal Macharski, que o Papa visitou na clínica de Cracóvia
no dia 28 de julho e que faleceu na manhã desta terça-feira (02/08) aos
89 anos.
Tocar para consolar
Sobre o "perigo" da descristianização - para o Papa o "o problema mais
grave", provocado pela "secularização" – Francisco indica o valor da
"proximidade", do contacto físico "com a carne sofredora de Cristo".
"Ser concretos, diz o Papa," tocar ", ensinar, consolar", "perder o
tempo" para estar próximos do povo de Deus. Mas também os bispos estejam
próximos dos seus sacerdotes, como pais, caso contrário – observa
Francisco - não se pode pedir a eles que sejam pais para as pessoas
que lhes estão à volta. Proximidade é também o oposto da cultura do
descarte e o Papa não renuncia ao seu apelo habitual: não marginalizar
os jovens, não descartar os avós, "memória do povo" e da "fé”.
Mundo doente de injustiça
O convite para a proximidade também de volta na segunda resposta, quando
um prelado pergunta Francisco de que modo ser misericordiosos num mundo
que sufoca pelas muitas injustiças. O Papa ressalta que já com Paulo VI
mas sobretudo com João Paulo II, "gigante da Misericórdia", esta
atitude se foi despertando na Igreja. Aquilo que muda os equilíbrios,
diz Francisco, é também aqui a misericórdia que se faz carne, as "coisas
boas" que, especialmente os cristãos constroem na sociedade, no
ambiente de trabalho, para os doentes ... É claro, reconhecer o Papa, o
mundo marcado pela "terceira guerra mundial em pedaços" é "doente de
injustiça, de falta de amor, de corrupção". Um mundo escravo da
“idolatria do dinheiro", onde "tudo se compra e se vende", e até mesmo
os seres humanos. Um mundo onde até mesmo "a economia líquida" "favorece
a corrupção" e em que "os jovens não têm a cultura do trabalho porque -
exclama - não têm trabalho”.
Analfabetos da fé
Francisco faz também uma consideração sobre o "analfabetismo
religioso", que também está difundido embora - reconheceu antes – se
note um certo despertar religioso. Para combater esta ausência dos
fundamentos da fé é importante, diz o Papa, o acompanhamento do caminho
espiritual com as "três línguas": a "língua da mente, a língua do
coração e a língua das mãos. Todos elas harmoniosamente.
Paróquia, lugar aberto e criativo
A terceira pergunta é feita ao Papa sobre o papel das paróquias. A sua
resposta é directa: "A paróquia é sempre válida", afirma Francisco, não é
uma "estrutura que devemos lançá-la pela janela". A sua vocação é de
ser um lugar "acolhedor" com os Movimentos eclesiais como apoio e não em
"alternativa". A paróquia, reitera, "não se deve tocar: deve permanecer
como um lugar de criatividade, de referência", "capacidade inventiva.
Desde que, acrescenta, seja paróquia "em saída", que saiba "colocar-se
nas dificuldades das pessoas", e não se comporte como uma
"paróquia-escritório”.
Generosos com os migrantes
A última pergunta diz respeito ao nervo exposto da Europa, o acolhimento
dos refugiados, dos migrantes. Francisco condena ainda o tráfico de
armas como causa principal do deslocamento de multidões de pessoas
devido a conflitos e guerras. E denuncia a influência das "colonizações
ideológicas", como a do "gender", que se difundem graças ao dinheiro de
instituições e "Países influentes". Contudo, conclui Francisco, o
acolhimento dos migrantes "depende da situação do País e também da
cultura". Claro, para além de rezar muito, todos "têm a possibilidade de
serem generosos”.(BS)
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