(RV) É o diálogo a única chave para abrir uma brecha no coração do humano, encerrado nos dias de hoje por uma “insegurança existencial que nos leva a ter medo do outro” – afirma o Papa Francisco na sua mensagem ao 37º Meeting de Rimini (Itália centro-oriental) para a amizade entre os povos, promovido pelo Movimento católico “Comunhão e Libertação” e que este ano tem por tema “Tu és um bem para mim”.
Um titulo “corajoso” - escreve o Papa na mensagem enviada em seu
nome pelo Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin. Dizer “Tu és um
bem para mim”, ressoa e muito no meio dos medos do mundo actual, onde
se elevam barreiras e se diz salve-se quem puder, cada um por si. É um
título corajoso – prossegue o Papa - porque vai “em sentido contrário”
tanto àquela generalizada tendência humana segundo a qual, muitas vezes,
o outro “se torna em algo supérfluo, ou pior ainda, um fastídio, um
obstáculo”, tanto ao sentido de precariedade da nossa época, em que a
paz e a segurança da nação e dos povos é ameaçada.
Sozinho quem é que se salva?
Se cedermos à tentação do individualismo - sublinha Francisco -
acaba-se por ver nas pessoas sobretudo “defeitos e limites” e isto
enfraquece “o desejo e a capacidade de uma convivência em que cada um
possa ser livre e feliz em companhia de outros com a riqueza da própria
diversidade”. Mas, perante “a mudança de época em que estamos todos
envolvidos” – pergunta-se o Papa – quem pode pensar que se salvará
sozinho e com as próprias forças?”
Ninguém está perdido definitivamente
Isto – frisa Francisco – é “a presunção que está na origem de todos
os conflitos entre os homens”, algo que é contra a lógica do Evangelho,
pois que o cristão – faz notar o Papa – “cultiva sempre um raciocínio
aberto em direcção ao outro, quem quer que seja, porque não considera
ninguém perdido definitivamente.” E aqui o Papa chama, mais uma vez, a
atenção para a parábola do filho pródigo, o qual, enquanto apascenta
tristemente os porcos consciente de ter atraiçoado a confiança do seu
pai, não sabe que o seu pai, pelo contrário “todas as tardes sobe ao
terraço para ver se ele volta para casa e espera, não obstante tudo e
todos.” Como mudaria o nosso mundo – exclama Francisco – se esta
esperança sem medida se tornasse a lente com que os homens se olham um
para o outro!”
Diálogo, identidade e abertura
Para traduzir na vida concreta esta confiança há – escreve Francisco –
“uma palavra que não devemos nunca cansar-nos de repetir e, sobretudo,
de dar testemunho: o diálogo”. Um valor do qual o Papa indica as
vantagens: “Permite-nos reconhecer a verdade do outro, a importância da
sua experiência e a base daquilo que diz, mesmo quando se esconde por
detrás de atitudes e opções com as quais não concordamos”. Em suma – diz
Francisco – o diálogo é riqueza e não empobrecimento à condição de que
em cada encontro haja clareza sobre a própria identidade e, ao mesmo
tempo, disponibilidade a pôr-se no lugar do outro para colher, em
profundidade, o que agita o seu coração e o que procura realmente”.
Não a potência das coisas mas a mansidão do amor
Esta é, portanto – conclui Francisco - “o desafio perante o qual
estão todos os homens de boa vontade”. O Papa convida a considerar as
“numerosas perturbações das quais muitas vezes nos sentimos testemunhos
impotentes” como “um convite misterioso a procurar as bases da comunhão
entre os homens para um novo início”.
O Papa encerra a sua mensagem encorajando os participante no Meeting à
coerência entre vida e fé, baseada nos Sacramentos, expressa com
“testemunho criativo”, conscientes de que “o que atrai, o que conquista e
desata o nó das amarras não é a força dos instrumentos, mas a tenaz
mansidão do amor misericordioso do Pai”.
(ADC / DA)
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