(RV) Grande expectativa em todo o mundo pela
iminente canonização de Madre Teresa de Calcutá, domingo 4 de Setembro,
com uma Missa presidida na Praça de São Pedro pelo Papa Francisco. A
cerimónia será um dos momentos altos do Ano Jubilar da Misericórdia,
proclamada pelo Papa Bergoglio. Espera-se a participação de uma grande
multidão de fiéis.
A colega italiana, Antonella Palermo, entrevistou a Irmã Mary Prema,
terceira Superiora geral das Missionárias da Caridade, depois de Madre
Teresa e a Irmã Nirmala…
- Madre Teresa morreu à guisa de santidade. Agora que faltam poucos dias para a sua canonização, o que mudou no vosso coração?
“A canonização da nossa mãe é para nós uma grande honra.
Dá-nos a oportunidade de lançar um olhar mais profundo para a sua vida, o
seu trabalho e para a grande atenção que ela deu aos outros, mas também
de olhar para a nossa vida em si. Este é, realmente, um momento de
exame de consciência, um momento para olharmos profundamente para a
forma como vivemos a nossa vocação de Missionários da Caridade e,
sobretudo, a nossa união com Deus na oração e na união com Jesus através
dos mais pobres"
- Madre Teresa foi galardoada com o Prémio Nobel da Paz em 1979. Num
mundo permeado por constantes focos de guerra, como se pode reevocar o
valor daquele reconhecimento na realidade de hoje?
“O Prémio Nobel da Paz foi-lhe atribuído pelos esforços que
fez pela unidade entre todos os povos, como filhos de um único Pai
celeste. Este é um tema de grande actualidade. A paz é desejada por
todos, mas é o resultado do perdão e do empenho na escuta das pessoas,
para as poder compreender. Não se pode sempre pretender ter razão.”
- Na sua opinião, a Igreja de hoje é a que Madre Teresa desejava?
“A madre não usava o seu tempo para pôr quesitos deste tipo: a
Igreja deveria ser isto ou aquilo… Ela não analisava, usava o seu tempo
para transmitir o sentido de responsabilidade, levando Jesus a sério. A
madre dizia: “A Igreja somos tu e eu. Se queres que a Igreja seja
santa, é teu e meu dever ser santas”. Ela viveu isso assim”.
- Madre Teresa tornou-se numa espécie de “santinho”, uma espécie de “amuleto” ?
“Nós vivemos com ela e conhecemo-la. Venerar a sua imagem sem
ver nela um modelo a imitar, seria injusto. A madre é a vida e
permanece em nós. Ela reza por nós. Actuou na vida de muitas pessoas: vi
isto de modo particular em Calcutà, onde os seus são visitados por
milhares e milhares de peregrinos, pela gente pobre. Rezam, e madre
escuta as suas preces. E voltam para as suas casas como a paz no
coração, com a confiança e a esperança de que a vida possa ser melhor. A
madre não é um “santinho”. É uma madre viva, operosa, em todo o lado.
Nós temos necessidade dela, dos seus ensinamentos, da sua intercessão.”
- Ela foi capaz de falar alto e bom som com líderes políticos de todos os níveis…
“A madre não ia de um lado para outro a pregar ou a ensinar a
outras pessoas o que deveriam fazer ou não fazer. Quando ela falava,
fazia-o com a clareza do coração. Não importava com quem falasse, o seu
falar baseava-se sempre nos valores da vida: a espiritualidade, a
oração, a família onde, por vezes, as relações devem ser sustidas pela
aceitação do sofrimento e do perdão. O valor da vida religiosa como
continuação da vida de Jesus. Ela trazia sempre consigo os valores dos
mais pobres entre os pobres, que são grandes pessoas porque nos ensinam a
aceitar o que a vida nos oferece. A madre nunca deu um passo à
retaguarda na defesa da dignidade das pessoas.”
- Temos ainda fixa no coração e na mente a imagem das vossas quatro
missionárias assassinadas em março passado no Yemen por um grupo de
homens armados. “Mártires da indiferença”, disse o Papa na altura.
Olhando para as perseguições das minorias religiosas que continuam a ter
lugar em várias partes do mundo, a esperança de que um martírio do
género possa servir para alguma coisa corre o risco de ser uma
desilusão?
“Se olharmos com os olhos do mundo para a morte das nossas
irmãs, é um desperdício de jovens vidas. Se olharmos com os olhos da fé é
um grande privilégio dar a própria vida por aqueles que estamos a
servir. As persecuções foram parte da cristandade desde o início. As
perseguições são necessárias para que chegue o melhor da nossa vocação.
As nossas irmãs livre e conscientemente permaneceram no serviço aos
doentes em Aden, no Yemen. É uma grande dor, mas ao mesmo tempo uma
grande honra saber que elas atingiram o escopo da sua vocação, que é a
união com Deus, amando Jesus como Ele nos amou, perdoando aqueles que
não sabem o que fazem”.
(DA)
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