Que o Senhor nos dê a graça de ter um coração repleto de compaixão e não fechado, duro, ideologizado diante da realidade: esta é a oração que resume a homilia do Papa na missa celebrada na capela da sua residência.
Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa de Santa Marta e na sua homilia comentou o Evangelho de Marcos, que narra o episódio em que os discípulos entraram na barca com Jesus e preocupam-se com a gestão de algo material: “discutiam entre si porque não tinham pão”. Jesus adverte-os: "Por que discutis sobre a falta de pão? Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? Tendo olhos, vós não vedes, e tendo ouvidos, não ouvis? Não vos lembrais de quando reparti cinco pães para cinco mil pessoas? Quantos cestos recolhestes cheios de pedaços?"
Há ideologia quando falta compaixão
A reflexão do Papa partiu destas palavras para mostrar a diferença
entre um "coração endurecido", como o do discípulo, e um “coração
compassivo”, como o do Senhor, que expressa a Sua vontade.
E a vontade do Senhor é a compaixão: “Quero Misericódia, e não
sacrifício”. E um coração sem compaixão é um coração idolátrico, é um
coração auto-suficiente, que vai em frente amparado pelo próprio egoísmo,
que se torna forte somente com as ideologias. Pensemos nestes quatro
grupos ideológicos do tempo de Jesus: os fariseus, os saduceus, os
essênios e os zelotas. Quatro grupos que tinham endurecido o coração
para levar em frente um projeto que não era o de Deus; não havia lugar para
o projeto de Deus, não havia lugar para a compaixão.
Jesus é o remédio para toda dureza do coração
Mas existe um remédio contra a dureza do coração: é a memória. Por
isso, no Evangelho de hoje e em tantos trechos da Bíblia, volta como uma
espécie de “refrão” o chamamento ao poder salvífico da memória, uma
“graça” a ser pedida, disse Francisco, porque “mantém o coração aberto e
fiel”.
Quando o coração endurece, esquece-se... esquece-se a graça da
salvação, esquece-se a gratuiticidade. O coração duro leva às brigas, leva
às guerras, leva ao egoísmo, leva à destruição do irmão, porque não
existe compaixão. E a maior mensagem de salvação é que Deus sentiu
compaixão por nós. Aquele refrão do Evangelho, quando Jesus vê uma
pessoa, uma situação dolorosa: “Sentiu compaixão”. Jesus é a compaixão
do Pai, Jesus é a afronta a toda dureza de coração.
Ter um coração "no ar"
Portanto, pedir a graça de ter um coração "não ideologizado" e
endurecido, mas "no ar", "aberto e compassivo" diante do que acontece no
mundo, porque – recordou o Papa – sobre isto seremos julgados no dia do
juízo, não pelas nossas “ideias" ou pelas nossas “ideologias”.
“Tive fome e me destes de comer; estive preso e viestes visitam-me,
estive aflito e consolaste-me”, está escrito no Evangelho e esta –
afirmou Francisco - é a compaixão, esta é a não dureza do coração”. E a
humildade, a memória das nossas raízes e da nossa salvação que nos ajudará a
mantê-lo assim. Eis então a oração conclusiva do Papa:
Cada um de nós tem algo que endureceu no coração. Façamos memória e
que seja o Senhor a dar-nos um coração reto e sincero que pedimos na
oração da coleta, onde habita o Senhor. Nos corações endurecidos o
Senhor não pode entrar; nos corações ideológicos o Senhor não pode
entrar. O senhor entra somente nos corações que são como o Seu:
os corações compassivos, os corações que têm compaixão, os corações
abertos. Que o Senhor nos dê esta graça.
VN
Sem comentários:
Enviar um comentário