Os combates na região síria de Idlib, de facto, podem provocar uma
emergência humanitária sem precedentes. São cerca de 90.000 os civis
deslocados de Idlib nos últimos 5 dias, devido à intensificação da
ofensiva do exército sírio, apoiado por forças russas.
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Preocupado com as informações que chegam da Síria, o Papa Francisco
voltou a lançar um apelo neste domingo pelo diálogo e pela salvaguarda
da vida e o destino dos civis:
"Continuam a chegar notícias dolorosas do noroeste da Síria, em
particular sobre as condições de muitas mulheres e crianças, de pessoas
forçadas a fugir devido à escalada militar. Renovo o meu sincero apelo à
comunidade internacional e a todos os protagonistas envolvidos, para
valerem-se do uso dos instrumentos diplomáticos, do diálogo e das
negociações, no respeito do Direito Humanitário Internacional, para
salvaguardar a vida e o destino dos civis. Rezemos por esta amada e
martirizada Síria: Ave Maria...".
Carta do Papa a Assad
“O Papa acompanha com apreensão e grande tristeza o destino dramático
das populações civis, especialmente das crianças que são envolvidas nos
combates sangrentos. A guerra, infelizmente, continua, não parou,
continuam os bombardeamentos, várias estruturas de saúde foram destruídas
naquela área, enquanto muitas outras tiveram que suspender as suas
atividades total ou parcialmente”, disse o cardeal Pietro Parolin
ao comentar a carta enviada pelo Papa Francisco a Bashar al-Assad em julho de 2019.
Na missiva, o Pontífice tinha pedido ao presidente sírio para que a
vida dos civis fosse protegida e para que as principais infraestruturas,
como escolas, hospitais e centros de saúde, fossem preservadas. E
insistiu para que o mandatário fizesse de tudo para deter essa
catástrofe humanitária e para salvaguardar a população indefesa, em
particular os mais vulneráveis, no respeito ao Direito Humanitário
Internacional.
Na sua carta o Santo Padre citou três vezes a palavra
‘reconciliação’. “Este é o seu objetivo, para o bem daquele país e da sua população indefesa”, tinha explicado o cardeal Parolin. O Papa
também encorajou o presidente sírio a ter gestos significativos
neste processo de reconciliação cada vez mais urgente, dando exemplos
concretos, como as condições para um retorno seguro dos exilados e
deslocados internos e para todos aqueles que querem retornar ao país
depois de terem sido obrigados a abandoná-lo. Citou ainda a libertação
de prisioneiros e o acesso das famílias a informações sobre os seus entes
queridos.
Risco de nova emergência humanitária
Os combates na região síria de Idlib podem provocar uma emergência
humanitária sem precedentes. São cerca de 90.000 os civis deslocados na
região nos últimos 5 dias devido à intensificação da ofensiva do
exército sírio, apoiado por forças russas.
Segundo relatado pela Coordenação para a resposta às operação na
Síria - organização próxima à Ancara - a maior parte dos deslocados
dirigiu-se para a fronteira com a Turquia. Os refugiados fogem das
regiões de Ariha, Saraqeb e Jabal al-Zawiya, no centro da ofensiva das
forças de Damasco, que na última segunda-feira entraram em conflito com
os turcos, num dos incidentes mais graves dos últimos anos.
Segundo a ONU, os deslocados em Idlib desde dezembro são cerca de
meio milhão, 80% dos quais são mulheres e crianças. E as ajudas
escasseiam.
Alta a tensão na região
O exército turco enviou novos reforços à Síria para os seus postos
militares na Província de Idlib. Um comboio com cerca 150 veículos
transportou munições e experts das forças especiais passou pela cidade
fronteiriça turca de Reyhanli na sexta-feira. Outros 20 veículos
blindados foram enviados, segundo a agência Anadolu. "O menor ataque
encontrará uma resposta forte, nossas posições de monitoramento
permanecerão ativas em Idlib", disse o Ministério da Defesa de Ancara em
um comunicado.
No sábado uma delegação russa esteve na Turquia para buscar uma saída
para a crise. Há três dias, o presidente russo Vladimir Putin já havia
discutido sobre a crise com o presidente turco Recep Tayyip Erdoğan.
No contexto militar, as forças do governo sírio apoiadas pelas forças
russas assumiram o controle total de Saraq na sexta-feira, uma cidade
estratégica na região noroeste de Idlib. O cerco à cidade, tomada dos
rebeldes apoiados pela Turquia, durou quase uma semana.
O Observatório Nacional de Direitos Humanos na Síria e outras fontes
no terreno confirmam que Saraqeb, no cruzamento das duas rodovias
Latakia-Aleppo e Hama-Aleppo, "está agora nas mãos das forças de
Damasco". E na última quarta-feira, a mídia do governo anunciou a
retomada de Saraqeb, mas fontes locais e militantes anti-regime negaram
o facto.
A ONU documentou o deslocamento de mais de 200.000 pessoas nas
últimas duas semanas da área de Saraqeb e dos distritos vizinhos, palco
da ofensiva do governo e de forças russas.
(Com L’Osservatore Romano)
VN
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