Agostinho
Manécas e a mulher Maria de Jesus passam este ano a barreira dos 90
anos, vivem em Mafra e vestiram-se a rigor para assistir ao concerto
inaugural dos Carrilhões de Mafra que este domingo voltaram a ouvir-se,
20 anos depois de terem deixado de tocar. Na memória deste casal estão
os dias marcados pelos sons dos sinos do Convento, agora classificado
como Património Mundial da Humanidade. “Juntava muita gente”, recorda
Agostinho.
Foi o que aconteceu neste dia 2 de fevereiro. A
Câmara Municipal de Mafra distribuiu cinco mil bancos de cartão, dispôs
mais 700 cadeiras para convidados de honra, mas foram milhares os que
ficaram de pé. O transito para chegar a Mafra esteve engarrafado, mas
isso não demoveu as vizinhas Lucília Pires e Otília Alegre, que foram de
São João das Lampas, em Sintra, até Mafra para ouvir o concerto.
O
espetáculo começou depois da bênção dos sinos feita pelo Cardeal
Patriarca. D. Manuel Clemente lembrou que foi o primeiro patriarca de
Lisboa que foi a Mafra benzer os sinos, agora coube-lhe a ele, “o décimo
sétimo” patriarca, voltar para a esta cerimónia. “Os sinos estão
intimamente relacionados com a vida do povo de Deus” referiu D. Manuel
Clemente, que explicou que são eles que assinalam “o tempo da oração,
reúnem o povo para as celebrações litúrgicas e advertem os fieis quando
se dá um acontecimento importante”.
Em Mafra, outro dos momentos
assinalados esta tarde foi o de dar nomes a cada um dos sinos
restaurados. Um deles levou o nome de Francisco Jorge, em homenagem ao
Papa, e outro levou o nome de João Baptista, em homenagem ao rei D. João
V, que mandou construir o Convento Nacional de Mafra.
O conjunto
de três grupos de sinos constituído pelos Sinos de Horas (os maiores do
século XVIII), os Sinos Litúrgicos e os dois Carrilhões das Torres Sul e
Norte representam 200 toneladas de bronze fundido e começaram por tocar
o Hino nacional. A população ouviu de pé e aplaudiu. Seguiu-se um
concerto de uma hora em que se ouviu, entre outras coisas, “As Quatro
Estações” de Vivaldi.
Orgulhoso do momento, o diretor do
monumento, Mário Pereira, afirmou no seu discurso que este foi o dia “um
dia de festa” e de “celebrar o regresso da música”. A música irá também
regressar a Mafra de outra forma. A ministra da Cultura, Graça Fonseca,
confirmou que estão já a trabalhar para ali instalar, no espaço que
inspirou José Saramago para o livro “Memorial do Convento”, o Museu
Nacional da Música.
Graça Fonseca explicou à Renascença que “o que
está planeado é durante o ano de 2020 ser adjudicado o projeto de
arquitetura e a empreitada decorrer ao longo de 2020 para abrirmos o
museu em 2021”. Atualmente instalado numa estação de metropolitano no
Alto dos Moinhos, em Lisboa, o Museu Nacional da Música irá assim mudar
de casa e dar uma nova dimensão ao Convento.
Na praça em frente ao
Convento esta tarde, o casal Agostinho e Maria de Jesus explicava à
reportagem da Renascença ao ouvir o concerto dos carrilhões e dos sinos
que “a música é o canto dos anjos”. Este canto só foi possível depois da
intervenção de restauro que esteve a cargo de uma empresa de Braga, a
Augusto de Oliveira Ferreira, que entre 2018 e final de 2019 restituiu
aos sinos e carrilhões, presos por andaimes e em risco de caírem, a
dignidade que os coloca na categoria de conjunto musical do género mais
importante do mundo.
O trabalho de restauro resultou de diversos
apoios financeiros, desde logo do Estado – através da Direção-Geral do
Património Cultural –, mas também verbas do Turismo de Portugal. Abel
Chaves e Liesbeth Janssens foram os artistas que fizeram uma hora de
concerto. A imagem destes carrilhonistas a tocarem foi sendo vista na
praça com a ajuda de dois ecrãs gigantes, que de dentro do Convento
traziam a atuação destes dois artistas.
Texto: Renascença
Fotos: C. M. Mafra
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