03 fevereiro, 2020

Milhares saíram à rua para ouvir os Carrilhões de Mafra



Terminaram 20 anos de silêncio. Os carrilhões do Convento de Mafra estão restaurados e tocaram durante uma hora para milhares de pessoas.

Agostinho Manécas e a mulher Maria de Jesus passam este ano a barreira dos 90 anos, vivem em Mafra e vestiram-se a rigor para assistir ao concerto inaugural dos Carrilhões de Mafra que este domingo voltaram a ouvir-se, 20 anos depois de terem deixado de tocar. Na memória deste casal estão os dias marcados pelos sons dos sinos do Convento, agora classificado como Património Mundial da Humanidade. “Juntava muita gente”, recorda Agostinho.

Foi o que aconteceu neste dia 2 de fevereiro. A Câmara Municipal de Mafra distribuiu cinco mil bancos de cartão, dispôs mais 700 cadeiras para convidados de honra, mas foram milhares os que ficaram de pé. O transito para chegar a Mafra esteve engarrafado, mas isso não demoveu as vizinhas Lucília Pires e Otília Alegre, que foram de São João das Lampas, em Sintra, até Mafra para ouvir o concerto.

O espetáculo começou depois da bênção dos sinos feita pelo Cardeal Patriarca. D. Manuel Clemente lembrou que foi o primeiro patriarca de Lisboa que foi a Mafra benzer os sinos, agora coube-lhe a ele, “o décimo sétimo” patriarca, voltar para a esta cerimónia. “Os sinos estão intimamente relacionados com a vida do povo de Deus” referiu D. Manuel Clemente, que explicou que são eles que assinalam “o tempo da oração, reúnem o povo para as celebrações litúrgicas e advertem os fieis quando se dá um acontecimento importante”.

Em Mafra, outro dos momentos assinalados esta tarde foi o de dar nomes a cada um dos sinos restaurados. Um deles levou o nome de Francisco Jorge, em homenagem ao Papa, e outro levou o nome de João Baptista, em homenagem ao rei D. João V, que mandou construir o Convento Nacional de Mafra.

O conjunto de três grupos de sinos constituído pelos Sinos de Horas (os maiores do século XVIII), os Sinos Litúrgicos e os dois Carrilhões das Torres Sul e Norte representam 200 toneladas de bronze fundido e começaram por tocar o Hino nacional. A população ouviu de pé e aplaudiu. Seguiu-se um concerto de uma hora em que se ouviu, entre outras coisas, “As Quatro Estações” de Vivaldi.

Orgulhoso do momento, o diretor do monumento, Mário Pereira, afirmou no seu discurso que este foi o dia “um dia de festa” e de “celebrar o regresso da música”. A música irá também regressar a Mafra de outra forma. A ministra da Cultura, Graça Fonseca, confirmou que estão já a trabalhar para ali instalar, no espaço que inspirou José Saramago para o livro “Memorial do Convento”, o Museu Nacional da Música.

Graça Fonseca explicou à Renascença que “o que está planeado é durante o ano de 2020 ser adjudicado o projeto de arquitetura e a empreitada decorrer ao longo de 2020 para abrirmos o museu em 2021”. Atualmente instalado numa estação de metropolitano no Alto dos Moinhos, em Lisboa, o Museu Nacional da Música irá assim mudar de casa e dar uma nova dimensão ao Convento.

Na praça em frente ao Convento esta tarde, o casal Agostinho e Maria de Jesus explicava à reportagem da Renascença ao ouvir o concerto dos carrilhões e dos sinos que “a música é o canto dos anjos”. Este canto só foi possível depois da intervenção de restauro que esteve a cargo de uma empresa de Braga, a Augusto de Oliveira Ferreira, que entre 2018 e final de 2019 restituiu aos sinos e carrilhões, presos por andaimes e em risco de caírem, a dignidade que os coloca na categoria de conjunto musical do género mais importante do mundo.

O trabalho de restauro resultou de diversos apoios financeiros, desde logo do Estado – através da Direção-Geral do Património Cultural –, mas também verbas do Turismo de Portugal. Abel Chaves e Liesbeth Janssens foram os artistas que fizeram uma hora de concerto. A imagem destes carrilhonistas a tocarem foi sendo vista na praça com a ajuda de dois ecrãs gigantes, que de dentro do Convento traziam a atuação destes dois artistas.

Texto: Renascença


 Fotos: C. M. Mafra

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