(RV) O Papa
recebeu hoje em audiencia, na Sala Clementina, no Vaticano, cerca de 300
membros da ANCI, Associação Nacional dos Presidentes das Câmaras
Municipais Italianas.
Nas palavras que lhes dirigiu, o Papa começou por mencionar duas
cidades de que nos fala a Bíblia: por um lado, Babel, símbolo de algo
inacabado, de confusão e desorientamento, divisão e impossibilidade de
construir algo em comum; e por outro a nova Jerusalém, símbolo de um
mundo renovado, de encontro, de cidadania. Poder habitar nessa cidade é
um dom, e só se pode entrar nela na medida em que se contribui para
gerar relações de fraternidade e comunhão. Isto quer dizer – afirmou o
Papa – que uma sociedade humana só pode reger-se quando se apoia numa
verdadeira solidariedade. Lá onde crescem invejas, ambições desenfreadas
e espírito de adversidade, está-se condenados à violência do caos.
O Papa disse depois querer falar aos Presidentes de Câmara de uma
única cidade que representa todas as que são confiadas às suas
responsabilidades:
“É uma cidade que não admite sentidos únicos de um
individualismo exasperado, que dissocia o interesse privado do interesse
publico. E não suporta os becos sem saída da corrupção onde se aninham
as pragas da desagregação. Não conhece os muros da privatização dos
espaços públicos, onde o “nós” se reduz a slogans, a artifícios
retóricos que mascaram o interesse de poucos.”
Construir essa cidade – continuou o Papa – exige de vós não um elã
presuntuoso em direcção ao alto, mas sim um empenho humilde e quotidiano
em direcção à base. “Não se trata de erguer ulteriormente a
torre, mas de alargar as praças, de criar espaço, de dar a cada um a
possibilidade de se realizar a si próprio e à própria família e de
abrir-se à comunhão com os outros.”
“Para abraçar e servir esta cidade, serve um coração bom e
grande, no qual custodiar a paixão do bem comum. É este olhar que leva a
fazer crescer na pessoa a dignidade de ser cidadão. Promover a justiça
social e, portanto, trabalho, serviço, oportunidades. Cria inumeráveis
iniciativas com que animar o território e cuidar dele. Educa à
co-responsabilidade”.
Francisco recordou ainda que a cidade é um organismo vivo que precisa
de oxigénio em quantidade suficiente e quando isto falta, quer dizer,
quando os serviços não são de qualidade, criam-se bolsas de pobreza e
marginalização e uma cidade a dupla velocidade: uns que têm tudo
garantido e outros (famílias, pobres, desempregados, migrantes) que não
têm em quem contar.
O Papa convidou a recusar esse modelo de cidade, a frequentar as
periferias urbanas, sociais, existenciais, pois que o ponto de vista dos
últimos ajuda a compreender quais são as verdadeiras necessidades e a
encontrar soluções.
“Para mover-se nesta perspectiva, temos necessidade de uma
política e de uma economia centrada de novo na ética: uma ética da
responsabilidade, das relações, da comunidade e do ambiente. Precisamos
também de um “nós” autentico, de formas de cidadania sólidas e
duradouras. Precisamos de uma política de acolhimento e de integração,
que não deixa nas margens quem chega ao nosso território, mas se esforça
por fazer dar frutos os recursos de que cada um é portador”
O Papa disse aos Presidentes de Câmara italiano que compreende as
dificuldades que muitos dos seus cidadãos vivem com a chegada maciça de
migrantes e refugiados, facto que Francisco explica ser devido ao inato
temor do “estrangeiro”, agravado pela crise económica, pela inadequação
de muitas medidas adoptadas num clima de urgência. “Essas dificuldades –
acrescentou – podem ser ultrapassadas mediante a criação de espaços de
encontro pessoal e de conhecimento mútuo”, mediante iniciativas que
promovam a cultura do encontro, mediante trocas culturais e artísticas,
conhecimento dos lugares de origem e comunidades dos recém-chegados.
Francisco mostrou-se satisfeito por alguns dos Presidentes de Câmara
presentes no encontro serem dos que promovem boas práticas de
acolhimento e integração, práticas esssas que merecem ser largamente
difundidas e exprimiu o desejo de que haja muitos seguidores. Deste modo
- rematou - a politica pode desempenhar a sua tarefa fundamental que é a
de ajudar a olhar para o futuro com esperança, aquela esperança que faz
emergir as melhores energias de cada um, especialmente dos jovens. E
desejou que sejam sempre generosos e desinteressados no serviço do bem
comum. Assim a cidade se tornará numa antecipação e reflexo da Jerusalém
celeste.
(DA)
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