(RV) Na
manhã deste sábado, 09 de Setembro 2017, o Santo Padre presidiu, no
aeroporto Olaya Herrera, da cidade colombiana de Medellin, a celebração
da santa missa. O Papa iniciou a santa missa pedindo perdão aos milhares
de fiéis e peregrinos congregados no aeroporto para assistir a missa,
pelo atraso da sua chegada.
Na Missa de quinta-feira em Bogotá, disse o Papa durante a homilia,
ouvimos a chamada de Jesus aos seus primeiros discípulos; esta parte do
evangelho de Lucas, que começa com aquela narração, culmina com a
chamada dos Doze. Ora, questionou Francisco, entre estes dois
acontecimentos, o que é que nos querem recordar os evangelistas?
Querem recordar-nos, sublinhou o Santo Padre, que este caminho de
seguimento do Senhor, exigiu nos primeiros seguidores de Jesus muito
esforço de purificação. Alguns preceitos, proibições e mandamentos
davam-lhes segurança; cumprir determinados ritos e práticas
dispensava-os da preocupação de se interrogar: Que agrada ao nosso Deus?
Jesus, disse ainda o Papa, indica-lhes que obedecer é caminhar atrás
d’Ele, o que os fazia deparar com leprosos, paralíticos, pecadores.
Estas realidades requeriam muito mais do que uma receita, uma norma
estabelecida. Aprenderam que ir atrás de Jesus implica outras
prioridades, outras considerações para servir a Deus.
Para o Senhor, como também para a comunidade primitiva, é de suma
importância que, se nós nos consideramos discípulos, não estejamos
agarrados a um certo estilo, a certas práticas que nos aproximam mais do
modo de ser de alguns fariseus de então do que do modo de ser de Jesus.
A liberdade de Jesus contrasta com a falta de liberdade dos doutores da
lei daquele tempo, que estavam paralisados por uma interpretação e
prática rigoristas da lei. Jesus não Se limita a uma atuação
aparentemente «correta», mas leva a lei à sua plenitude; e, por isso,
quer colocar-nos nessa direção, nesse estilo de seguimento que implica
ir ao essencial, renovar-se e envolver-se. São três atitudes que devemos
plasmar na nossa vida de discípulos.
A primeira atitude sublinha o Pontífice é ir ao essencial. Isto não
significa «cortar com tudo» o que para nós não se adapta a realidade
hodierna, pois Jesus também não veio revogar a lei, mas levá-la à sua
plenitude (cf. Mt 5, 17); trata-se, antes de mais, de caminhar em
profundidade rumo ao que conta e tem valor para a vida.
Jesus ensina que a relação com Deus não pode ser uma fria aderência a
normas e leis, nem o cumprimento de certos atos exteriores que não
conduzem a uma mudança real da vida. O nosso discipulado não pode ser
motivado simplesmente por um costume, porque dispomos dum certificado de
batismo, mas deve partir duma experiência viva de Deus e do seu amor.
O discipulado, advertiu Francisco, não é algo de estático, mas um
movimento contínuo para Cristo; não é simplesmente a aderência à
explicitação duma doutrina, mas a experiência da presença amorosa, viva e
operante do Senhor, uma aprendizagem permanente através da escuta da
sua Palavra. E esta Palavra, como ouvimos, impõe-nos cuidar das
necessidades concretas dos nossos irmãos: pode ser a fome de quem vive
ao nosso lado (assim o vimos no texto proclamado hoje: cf. Lc 6, 1-5),
ou a doença como se vê na narração que Lucas apresenta a seguir.
A segunda palavra, disse o Papa, é renovar-se. Como Jesus «instava»
com os doutores da lei para que saíssem da sua rigidez, disse, também
agora a Igreja é «instada» pelo Espírito para que deixe as suas
comodidades e amarras. A renovação não nos deve meter medo. A Igreja
está sempre em renovação (Ecclesia semper reformanda). Não se renova
como lhe apetece, mas fá-lo «sólida e firme na fé, sem se deixar afastar
da esperança do Evangelho que ouviu» (cf. Col 1, 23).
Ora, sublinhou o Papa, a renovação implica sacrifício e coragem, não
para nos considerarmos melhores ou impecáveis, mas para respondermos
melhor à chamada do Senhor. O Senhor do sábado, a razão de ser de todos
os nossos mandamentos e preceitos, convida-nos a ponderar as normas
quando está em jogo segui-Lo a Ele; quando as suas chagas abertas, o seu
grito de fome e sede de justiça nos interpelam e impõem respostas
novas. E, na Colômbia, observou Francisco, há tantas situações que
reclamam, dos discípulos, o estilo de vida de Jesus, particularmente o
amor traduzido em atos de não-violência, de reconciliação e de paz.
A terceira palavra e última palavra é envolver-se. Envolver-se, disse
Francisco, ainda que para alguns isso pareça sujar-se, manchar-se. Como
David e os seus homens que entraram no templo porque tinham fome e os
discípulos de Jesus entraram na seara e comeram as espigas, também hoje
nos é pedido que cresçamos em ousadia, numa coragem evangélica que brota
de saber que são muitos os que têm fome, fome de Deus, fome de
dignidade, porque dela foram despojados. E, como cristãos, ajudá-los a
saciar-se de Deus; não lhes dificultar nem proibir esse encontro.
Não podemos ser cristãos advertiu ainda o Papa, que levantam
continuamente a bandeira de «Passagem Proibida», nem considerar que esta
parcela é minha, apoderando-me de algo que absolutamente não é meu. A
Igreja não é nossa, é de Deus; Ele é o dono do templo e da seara; todos
têm um lugar, todos são convidados a encontrar, aqui e entre nós, o seu
alimento. Somos meros «servidores» (cf. Col 1, 23) e não podemos ser
quem dificulta esse encontro. Pelo contrário, Jesus pede-nos como fez
aos seus discípulos: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mt 14, 16); tal é o
nosso serviço. Bem compreendeu isto Pedro Claver, que celebramos hoje
na Liturgia e, amanhã, venerarei em Cartagena. «Escravo dos negros para
sempre»: foi o seu lema de vida, porque compreendeu, como discípulo de
Jesus, que não podia ficar indiferente perante o sofrimento dos mais
abandonados e ultrajados do seu tempo, mas tinha de fazer algo para o
aliviar.
Irmãos e irmãs, a Igreja na Colômbia é chamada a comprometer-se, com
mais ousadia, na formação de discípulos missionários, como foi indicado
por nós, Bispos reunidos em Aparecida no ano de 2007. Discípulos que
saibam ver, julgar e agir, como propunha aquele documento
latino-americano que nasceu nestas terras (cf. Medellín, 1968).
Discípulos missionários que sabem ver sem miopias hereditárias; que
examinam a realidade com os olhos e o coração de Jesus, e julgam a
partir daí. E que arriscam, atuam, comprometem-se.
Vim aqui, recordou Francisco, precisamente para vos confirmar na fé e
na esperança do Evangelho: permanecei firmes e livres em Cristo, de tal
modo que O espelheis em tudo o que fizerdes; abraçai com todas as
vossas forças o seguimento de Jesus, conhecei-O, deixai-vos convocar e
instruir por Ele, anunciai-O com grande alegria.
Peçamos por intercessão da nossa Mãe, Nossa Senhora da Candelária,
que nos acompanhe no nosso caminho de discípulos, para que, colocando a
nossa vida em Cristo, sejamos simplesmente missionários que levem a
todos a luz e a alegria do Evangelho, concluiu dizendo o Santo Padre.
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