Bogotá (RV) – O Papa Francisco veio dar “o
primeiro passo” entre nós e as pessoas se uniram ao Papa, prontas a dar
os primeiros passos necessários para fazer retornar a paz ao país.
Esta é uma das considerações do Núncio Apostólico na Colômbia,
Arcebispo Ettore Balestrero, ao fazer um balanço à Rádio Vaticano da
viagem apostólica do Papa à Colômbia:
“Uma primeira impressão é o rosto dos colombianos que o esperaram,
que choraram, que o abraçaram, que se apegaram a ele: quase que
significando que o Papa veio para mostrar não somente que devemos dar o
primeiro passo, mas que o primeiro passo pode ser dado e que a Colômbia é
capaz de fazer isto. Portanto, deu a esperança aos colombianos, a
esperança de um futuro diferente. Ele como que representou e recolheu a
vontade dos colombianos de virar a página e a possibilidade de fazê-lo,
porque estamos no momento em que isto é possível e diria também
necessário. Construir um país sobre bases diferentes, sobre bases do
amor, do respeito, das capacidades dos seus habitantes, também sobre a
base de um respeito dos direitos humanos e da dignidade de cada pessoa”.
RV: O Papa quis entrar de certa forma “na carne” – como diria ele –
do processo que a Colômbia se prepara para viver. Considerando também a
sua história, considerando a reconciliação, uma reconciliação
verdadeira, não política, não técnica. Como ele disse: é necessário
partir do coração das pessoas, sobretudo do coração de quem sofre.
Assim, na sua opinião, depois daquilo que o Papa disse, de que modo a
Colômbia se apresenta diante desta necessidade?
“Acredito que a Colômbia se apresenta com uma grande receptividade,
ao menos em nível de povo. No sentido de que existe uma vontade, como eu
dizia antes, de virar página, de redescobrir a outra pessoa; existe
sobretudo uma vontade de olhar para frente. O Papa veio
catalisar este desejo, expressá-lo e dar a ele uma certa orientação,
porque nos explicou como fazer para nos reconciliarmos, nos explicou o
que é necessário: o respeito pela outra pessoa, o reconhecimento das
vítimas, da verdade, o valor da justiça e que a verdade e a justiça são
dois fatores que juntos são indispensáveis para construir um novo país. Me parece que o Papa, de uma forma ou outra, traçou um caminho que a população colombiana deseja percorrer e tem necessidade de percorrer”.
RV: Um tema aparentemente secundário da viagem foi o da
vulnerabilidade. O Papa falou sobre isto ao acolher uma daquelas jovens
com necessidades especiais diante da Nunciatura, com necessidades. No
dia seguinte, durante a Missa em Medellín, retomou este tema. De certa
forma, isto poderia representar de forma simbólica o caminho da
Colômbia. O quanto é importante sentir-se vulneráveis para recomeçar?
“É importantíssimo reconhecer a própria vulnerabilidade, que é
evidente na Colômbia, mas é muito mais importante ainda - como disse o
Papa – tomar consciência de que todos somos vulneráveis, que também
aqueles que aparentemente são mais fortes, são mais violentos, na
realidade têm feridas muito profundas. O Papa nos ensinou que Deus
dentro de nós deseja curar e pode curar esta vulnerabilidade, estas
feridas: sozinhos não conseguimos. O povo colombiano sozinho, abandonado
à própria sorte, não pode. Mas por isto, acredito, houve esta acolhida
tão apoteótica do Papa. Milhões de pessoas na Missa em Bogotá, na Missa
em Medellín, mas também milhões de pessoas pelas ruas. Por que? Porque
vem para expressar no seu hábito branco o desejo, para projetar para o
exterior o desejo interior de mudar, de uma cura profunda. E nos diz que
somos capazes de fazê-lo, nos diz que com Cristo que cura as feridas
humanas, cada um de nós pode curá-las, e nos diz também para olhar para
as feridas dos outros com misericórdia, conscientes de que cada um tem
as suas e que porém, todos juntos, podemos melhorá-las, todos juntos
podemos curá-las e acredito e espero que a partir de agora se possa
começar um caminho de cura dentro do país”.
RV: Para concluir poderíamos dizer assim: o Papa Francisco veio à
Colômbia para dar o primeiro passo. A Colômbia agora, na sua opinião,
como conseguirá dar os passos sucessivos?
“Os passos sucessivos vão depender dos colombianos. Acredito que o
primeiro passo fundamental será o de tomar consciência daquilo que o
Papa nos disse, reviver isto e depois começar a colocar em prática,
começar a colocar isto em prática em nível de família, porque a grande
violência e a vulnerabilidade estão dentro da família, mas colocar isto
em prática também em nível de povoados e como Igreja assumir a mensagem
do Papa e procurar divulgá-lo, de vivê-lo e testemunhá-lo na vida dos
pastores e de todos os fiéis”.
(JE/AdC)
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