Medellín
(RV) – No último compromisso deste sábado (9), em Medellín, o Papa
Francisco encontrou sacerdotes, consagrados, seminaristas e seus
familiares na Praça dos Touros de “La Macarena”.
Para um público formado pelo clero, o Papa Francisco começou seu pronunciamento fazendo
referência ao Evangelho de João, no contexto da Última Ceia de Jesus.
Era noite “eucarística”, de amor, mas também de tensão, e o Pontífice
sugeriu que aquele momento fosse repetido ali, em Medellín, depois de
ouvir os testemunhos da história viva de Jesus, em “vocações genuínas”,
através dos 14 anos de vida consagrada da carmelita contemplativa, Ir.
Leidy de São José; de María Isabel Arboleda Pérez, da Associação de Mães
e Sacerdotes e Seminaristas, ativa há 24 anos; e do Pe. Juan Felipe
Escobar, da Arquidiocese de Medellín, que trabalha nas periferias da
cidade, anunciando o Evangelho.
“Como diz o Documento de Aparecida, ‘conhecer Jesus é o
melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o
melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-Lo conhecido com nossa
palavra e obras é nossa alegria’ (n. 29). [...] Por natureza, os jovens
são ricos de aspirações e, apesar de assistirmos a uma crise do
compromisso e dos laços comunitários, são muitos os jovens que, à vista
dos males do mundo, se mobilizam conjuntamente e se dedicam a diferentes
formas de militância e voluntariado. Quando o fazem por amor de Jesus,
sentindo-se parte da comunidade, tornam-se «caminheiros da fé», felizes
por levar Jesus Cristo a cada esquina, a cada praça, a cada canto da
terra (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 107).”
O Papa Francisco lembrou, assim, da videira mencionada por Jesus no
texto proclamado no encontro, que é a videira do “povo da aliança”: às
vezes expressa uma alegria, outras, uma desilusão, mas jamais o
desinteresse. O Pontífice, então, questionou:
“Como é a terra, o alimento, o suporte onde cresce esta
videira na Colômbia? Em que contextos são gerados os frutos das vocações
de especial consagração? Certamente em ambientes cheios de
contradições, de luzes e sombras, de situações relacionais complexas.
Gostaríamos de contar com um mundo de famílias e vínculos mais serenos,
mas somos parte desta crise cultural; e é no meio dela, contando com
ela, que Deus continua a chamar. [...] Desde o início, foi assim: Deus
manifesta a sua proximidade e a sua eleição; Ele muda o curso dos
acontecimentos, chamando homens e mulheres na fragilidade da história
pessoal e comunitária. Não tenhamos medo! Nesta terra complexa, Deus
sempre fez o milagre de gerar cachos bons, como as torradas para o café
da manhã. Que não faltem vocações em nenhuma comunidade, em nenhuma
família de Medellín!”
A videira, disse o Papa, tem a caraterística de ser verdadeira. “Ora,
a verdade não é algo que recebemos, como o pão ou a luz, mas brota de
dentro. Somos povo eleito para a verdade, e a nossa vocação deve
acontecer na verdade”, prosseguiu.
Mas os percursos podem ser manifestados pela “secura e pela morte”,
impedindo o fluxo da seiva que alimenta e dá vida. Por isso, o Papa
recomenda atenção para que a condição religiosa não seja aproveitada
para se obter benefícios próprios e materiais.
“As vocações de especial consagração morrem quando querem
nutrir-se de honrarias, quando são impelidas pela busca de
tranquilidade pessoal e promoção social, quando a motivação é ‘subir de
categoria’, apegar-se a interesses materiais chegando mesmo ao erro da
avidez de lucro. Como já disse noutras ocasiões, o diabo entra pela
carteira. Isto não diz respeito apenas ao início, todos nós devemos
estar atentos porque a corrupção nos homens e mulheres que estão na
Igreja começa assim, pouco a pouco. [...] O veneno da mentira, da
dissimulação, da manipulação e do abuso do povo de Deus, dos mais
frágeis e especialmente dos idosos e das crianças não pode ter lugar na
nossa comunidade; são ramos que decidiram secar e que Deus nos manda
cortar.”
Os bons exemplos colombianos foram citados pelo Papa Francisco, como o
da Santa Laura Montoya, uma obra missionária a favor dos indígenas, e
do Beato Mariano de Jesús Euse Hoyos, um dos primeiros alunos do
Seminário de Medellín.
O Santo Padre convidou, então, a cortar todos os fatores que
distorcem a vocação e a “permanecer em Jesus”, o que não é uma “atitude
meramente passiva”, mas pode ser efetiva de três maneiras: 1. Tocando a
humanidade de Cristo; 2. Contemplando a sua divindade; 3. Vivendo na
alegria.
Tocar a humanidade, “com o olhar e os sentimentos de Jesus,
que contempla a realidade não como juiz, mas como bom samaritano”, e
também com “os gestos e palavras de Jesus, que expressam amor aos
vizinhos e a busca dos afastados”.
Contemplar a divindade de Cristo, “suscitando e cultivando a
estima pelo estudo, que aumenta o conhecimento de Cristo” e, assim,
privilegiando “o encontro com a Sagrada Escritura”: “gastemos tempo numa
leitura oral da Palavra, ouvindo nela o que Deus quer para nós e para o
nosso povo”. Para contemplar a divindade, o Papa também sugere “fazer
da oração a parte fundamental da nossa vida e do nosso serviço
apostólico”.
“A oração nos liberta das escórias do mundanismo,
ensina-nos a viver com alegria, a escolher a fuga do superficial, num
exercício de liberdade autêntica. Arranca-nos da tendência a nos
concentrar sobre nós mesmos, fechados numa experiência religiosa vazia e
leva a nos colocar docilmente nas mãos de Deus para cumprir a sua
vontade e corresponder ao seu plano de salvação. E, na oração, adorar.
Aprender a adorar em silêncio.”
E, finalmente, permanecer em Cristo para viver na alegria, porque, segundo o Papa, “a nossa alegria contagiante deve ser o primeiro testemunho da proximidade e do amor de Deus”. (AC)
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