17 setembro, 2017

Igreja no Japão missionária e forte, a exemplo de seus mártires, escreve o Papa aos bispos



(RV) Sempre que penso na Igreja no Japão, me recordo dos testemunhos “dos tantos mártires que ofereceram a própria vida pela fé. Eles sempre tiveram um lugar especial  no meu coração”.



Com uma referência aos mártires japoneses - entre eles São Paulo Miki e companheiros, o Beato Justus Takayama Ukon e os “cristãos escondidos”, que de 1.600 até a metade de 1.800 viveram na clandestinidade para preservar a sua fé – o Papa Francisco inicia uma longa carta endereçada aos Bispos do Japão, por ocasião da visita pastoral ao país do Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, Cardeal Fernando Filoni.

“Vocês irmãos, herdaram o patrimônio espiritual” do testemunho de fé dado por esta longa lista de mártires, e “com delicada solicitude pastoral, dão prosseguimento à missão da evangelização, especialmente cuidando dos mais fracos e favorecendo a integração nas comunidades de fieis de várias proveniências. Desejo agradecer a vocês por isto, assim como pelo empenho na promoção cultural, no diálogo inter-religioso e no cuidado da criação”.

Igreja “em saída”

Em particular, o Pontífice ressalta na mensagem o “empenho missionário da Igreja no Japão”, recordando que “se é católica” é universal, é “em saída”, impelida pelo amor de Cristo e sempre pronta a dar a vida: não portanto ao isolamento e à comodidade, mas sim ao dom de si, por amor a Cristo.

O Papa também sublinha o papel da Igreja como “sal” e “luz do mundo”: como sal, “tem a missão de preservar da corrupção e de dar sabor”. Como luz, “impede às trevas de prevalecer, assegurando uma clara visão da realidade”. Assim, é necessário “que o sal dê realmente sabor e a luz vença as trevas”.

Igreja no Japão tem grande missão espiritual e moral

“O Reino dos Céus, como nos fala Jesus – continua Francisco – é apresentado  inicialmente com a pobreza de um pouco de fermento ou de uma pequena semente. Esta simbologia reproduz bem a atual situação da Igreja no contexto do mundo japonês. À ela, Jesus confiou uma grande missão espiritual e moral”.

“Sei bem – afirmou o Papa -  que existem não poucas dificuldades devido à falta de clero, de religiosos, de religiosas e de uma limitada participação de fieis leigos. Mas a escassez de operários não pode reduzir o empenho da evangelização, antes pelo contrário, é ocasião que estimula a buscá-los incessantemente”.

Os desafios

O Papa reitera aos Bispos japoneses que os tantos desafios atuais não devem resigná-los, nem reduzi-los a um “diálogo irênico e paralisante”, citando situações que preocupam, como “a alta taxa de divórcios, os suicídios entre os jovens, as pessoas que escolhem viver totalmente afastadas da vida social (hikikomori), o formalismo religioso e espiritual, o relativismo moral, a indiferença religiosa, a obsessão pelo trabalho e pelo ganho”. Da mesma forma é preocupante o crescente número de pobres.

Igreja forte e missionária a exemplo dos mártires do passado

Disto – escreve o Papa – a urgência de que a Igreja no Japão seja missionária e forte na evangelização, como foram os mártires e confessores da fé do passado, ressaltando ao mesmo tempo,  “a necessidade de uma sólida e integral formação sacerdotal e religiosa”, capaz de fazer frente à difusão daquela que ele define como “a cultura do provisório”, isto é, a mentalidade “que leva sobretudo os jovens a pensar que não seja possível amar verdadeiramente, que não exista nada de estável”.

Os sacerdotes devem, portanto, “saber ajudar quem segue por tal caminho, aproximando-o ao amor ensinado por Jesus que é gratuito, comporta o sacrifício de si, é perdão misericordioso”. Este, segundo o Papa, “é o testemunho do qual a sociedade japonesa tem tanta sede”.

Acompanhar os movimentos eclesiais

Francisco escreve ainda aos bispos japoneses sobre os “movimentos eclesiais aprovados pela Sé Apostólica”, recordando a ajuda que podem fornecer com o seu “impulso evangelizador e o seu testemunho, no serviço pastoral e na missio ad gentes”.

Neste sentido, o Santo Padre convida os bispos “a conhecerem e a acompanharem estes carismas, tornando-os partícipes da obra da Igreja no contexto da integração pastoral”.  (JE/GC)

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