14 setembro, 2017

Papa aos novos bispos - Discernimento incarnado e inclusivo




(RV) O Papa Francisco recebeu hoje em audiência na Sala Clementina, os novos bispos, recém-ordenados, que estavam a seguir um curso organizado pela Congregação para os Bispos e pela Congregação para as Igrejas Orientais. Um curso para melhor compreender o mistério do Episcopado mediante uma das suas tarefas principais: oferecer ao próprio rebanho aquele discernimento espiritual e pastoral necessário para que chegue ao conhecimento e à realização da vontade de Deus, no qual reside toda e qualquer plenitude.
O Papa reflectiu depois detalhadamente com os novos bispos sobre o facto de estarmos a viver num tempo marcado pela auto-referencialidade, segundo o qual o papel dos mestres já terminou quando, paradoxalmente, na solidão, o homem concreto continua a gritar a necessidade de ser ajudado a enfrentar questões dramáticas que o afligem.

E é precisamente mediante o autêntico discernimento que se pode responder a esta necessidade humana – disse o Papa citando São Paulo e São Tomás de Aquino.

Francisco recomendou-lhes depois, generosidade e obediência a Deus, e recordou-lhes que “só quem é guiado por Deus tem título e autoridade para ser proposto como guia dos outros.” O Espirito Santo que rege e guia, é como que “uma bússola, dá os critérios  para distinguir, para si e para os outros, os tempos de Deus e da sua graça”.

O Bispo  “não pode não ter em conta a posse de um dom tão alto e transcendente”. “É necessário implorá-lo continuamente como condição primária para iluminar toda a sabedoria humana, existencial, psicológica, sociológica, moral de que nos podemos servir na tarefa de discernir as vias de Deus para a salvação daqueles que nos são confiados” – disse Francisco.

Por isso, é imperativo implorar de Deus não uma vida longa, riquezas, a vida dos inimigos, mas apenas o “discernimento ao julgar no meio do povo”. Sem esta graça “seremos incapazes de “avaliar o tempo de Deus” – frisou Francisco, e continuou:

O discernimento nasce, portanto, no coração e na mente do Bispo através da oração, quando põe em contacto as pessoas e as situações que lhe são confiadas com a Palavra divina pronunciada pelo Espirito. É nessa intimidade que o Pastor amadurece a liberdade interior que o torna firme nas suas escolhas e nos seus comportamentos, tanto pessoais como eclesiais (…)".

E o Papa recomendou aos Bispos a oração como forma de se chegar à verdade, à luz de Deus. Revestido de uma ineludível responsabilidade pessoal, o Bispo é chamado a viver o próprio discernimento de Pastor como membro do Povo de Deus, esse Povo que pelo Baptismo recebeu a graça do Espírito. “O discernimento do Bispo  - disse é sempre uma acção comunitária” que não deve prescindir dos outros, sob pena de se considerar superior aos outros e orgulhosos mesmo perante Deus.

O Papa encoraja, portanto, os bispos a um dialogo sereno, a não ter medo de partilhar e mesmo a modificar o próprio discernimento no dialogo com os irmãos no episcopado, com os próprios sacerdotes, com os fieis leigos… Sem essa partilha – “a fé dos mais cultos pode degenerar na indiferença e a dos mais humildes na superstição”.

Francisco convida, por isso a uma atitude de escuta, a crescer na liberdade de renunciar ao próprio ponto de vista para assumir o de Deus. Convidou-os igualmente a não se contentarem do olhar dos outros, mas a procurarem conhecer pessoalmente os lugares e as pessoas, a “tradição” espiritual e cultural da diocese que é confiada a cada um, lendo o presente à luz do Evangelho. Nada, todavia, de protagonismos ou narcisismos, mas sim dar o próprio testemunho em união com Deus, servindo o Evangelho, porque discernir, afinal de contas, significa humildade e obediência ao Evangelho. É um processo criativo, que evita rigidez,  que não se limita a aplicar esquemas, a dizer “sempre se fez assim”, ou “deixemos passar o tempo”. Evitar ter uma única resposta para todos os quesitos.

O Papa recomendou ainda aos novos Pastores da Igreja uma delicadeza especial para com a cultura e a religiosidade do povo. Não são uma algo a esconder, a tolerar, mas a ter em consideração e como sujeito de dialogo, de evangelização, do qual o discernimento do bispo não pode prescindir. E exortou:

“Recordai-vos que Deus estava já presente nas vossas dioceses quando lá chegastes e estará ainda lá quando fordes embora. E que no fim seremos todos julgados não com base na contabilidade das nossas obras, mas sobre o crescimento da obra de Deus no coração do rebanho que apascentais em nome do “Pastora e custódio das nossas almas”.

Os bispos devem esforçar-se por crescer no discernimento  incarnado e inclusivo que dialoga com a consciência dos fiéis, consciência que deve ser formada e não substituída. Tudo num processo de acompanhamento paciente e corajoso para que todos – fieis, famílias, presbíteros, comunidade e sociedade  – possam progredir na liberdade de escolher e realizar o bem desejado por Deus. Com efeito, disse o Papa – a actividade de discernimento não é reservada aos sábios, aos perspicazes e aos perfeitos. Antes, pelo contrário, Deus muitas vezes resiste aos soberbos e se mostra aos humildes.

O Pastor – Frisou ainda o Papa no seu amplo discurso – sabe que Deus é a Via, a Verdade e a Vida. Por isso, o autentico discernimento, embora definitivo em cada passo, é um processo sempre aberto e necessário, que pode ser completado e enriquecido.

Uma condição essencial para progredir no discernimento é educar à paciência de Deus e aos seus tempos, que não são nunca os nossos – rematou o Papa, rogando os novos bispos a “terem escrupulosamente perante os olhos Jesus e a sua missão, que não era sua mas do Pai”, a darem aos fiéis a possibilidade de encontrar pessoalmente a Deus e de escolher a sua Via e de progredir no seu amor.

(DA)

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