Cartagena
(RV) – O Papa Francisco, presidiu o Ângelus deste domingo (10) directo
do Santuário São Pedro Claver, no centro histórico da cidade colombiana
de Cartagena, na Igreja dedicada ao santo missionário espanhol, defensor
dos direitos dos escravos e sob a custódia da Companhia de Jesus.
Pouco antes do meio-dia, hora local na Colômbia, os fiéis e
peregrinos provenientes de diversas partes da Colômbia e de toda a
América Latina, puderam escutar atentamente a alocução do Papa Francisco
a partir da Praça da Aduana. O Santo Padre concentrou a sua reflexão em
volta da figura de Maria, convidando os fiéis a contemplá-La, sob a
invocação de Nossa Senhora de Chiquinquirá, a padroeira da Colômbia.
Como sabeis, disse Francisco, durante um longo período de tempo, essa
imagem esteve abandonada, perdeu a cor e se encontrava quebrada e
esburacada. Era tratada como um pedaço de saco velho, usada sem qualquer
respeito até que acabou entre as coisas descartadas. Foi então que uma
mulher simples (chamada, segundo a tradição, Maria Ramos), a primeira
devota da Virgem de Chiquinquirá, viu naquela tela algo de diferente.
Teve a coragem e a fé de colocar aquela imagem arruinada e quebrada num
lugar de destaque, devolvendo-lhe a sua dignidade perdida. Soube
encontrar e honrar Maria, segurando o Filho nos seus braços,
precisamente naquilo que, para os outros, era desprezível e inútil.
O Papa Francisco ilustrou assim “o exemplo dos humildes e dos que não
contam” que conseguem recuperar a dignidade através das mãos de pessoas
simples, como as de Maria Ramos, que contemplam a presença de Deus, que
se revela com maior nitidez o Mistério do amor de Deus.
Além de Maria, a “escrava do Senhor”, Francisco também pediu uma
oração a São Pedro Claver, “o escravo dos negros para sempre, caritativo
até ao heroísmo. Ele, acrescentou o Papa, esperava os navios que
chegavam da África no principal mercado de escravos no Novo Mundo.
Muitas vezes recebia-os apenas com gestos evangelizadores, devido à
impossibilidade de comunicar pela diferença das línguas. Mas Pedro
Claver sabia que a linguagem da caridade e da misericórdia era entendida
por todos. Na verdade, a caridade ajuda a compreender a verdade, e a
verdade reclama gestos de caridade. Quando sentia repugnância deles,
beijava-lhes as feridas.
Ainda hoje, acrescentou o Papa, “na Colômbia e no mundo, milhões de
pessoas são vendidas como escravos, ou então mendigam um pouco de
humanidade, uma migalha de ternura, percorrem o mar ou metem-se a
caminho porque perderam tudo, a começar pela sua dignidade e os seus
direitos.
Maria de Chiquinquirá e Pedro Claver, concluiu dizendo Francisco, nos
convidam a trabalhar pela dignidade de todos os nossos irmãos,
especialmente os pobres e descartados da sociedade, aqueles que estão
abandonados, os emigrantes, as vítimas da violência e do tráfico humano.
Todos eles têm a sua dignidade, e são imagem viva de Deus. Todos fomos
criados à imagem e semelhança de Deus, e a todos nos sustenta a Virgem
nos seus braços como filhos amados.
Após a oração mariana do Ângelus, o Papa Francisco dirigiu palavras
de encorajamento e também de apelo à Paz no continente latino-americano e
de modo especial na Venezuela. Daqui, disse o Santo Padre, quero
assegurar a minha oração por cada um dos países da América Latina, em
particular pela vizinha Venezuela. Exprimo a minha proximidade a cada um
dos filhos e filhas desta amada nação, e também aos venezuelanos que
encontraram guarida nesta terra colombiana. Daqui, desta cidade sede dos
direitos humanos, faço apelo para que se rejeite todo o tipo de
violência na vida política e se encontre uma solução para a grave crise
que se está a viver e afeta a todos, especialmente aos mais pobres e
desfavorecidos da sociedade. A Santíssima Virgem interceda por todas as
necessidades do mundo e de cada um dos seus filhos.
Saúdo todos os presentes, vindos de diferentes lugares, e também a
quantos acompanham esta visita através da rádio e da televisão. A todos,
desejo um domingo feliz. Por favor, não se esqueçam de rezar por mim.
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