10 novembro, 2017

Cuidar: como fazer?

Apontar para uma sociedade mais informada e com mais respostas para a função de cuidador foi o objetivo do I Seminário Escola de Cuidadores, organizado pelo Centro Social Paroquial de São Romão de Carnaxide. No passado dia 3 de novembro, vários oradores contaram a sua experiência e apelaram a uma “cultura nacional” que faça com que a sociedade se questione sobre o “valor” dos mais velhos, em vez do seu “custo”.

Em Portugal, a informação disponível para quem se vê, de repente, na missão de cuidador ou cuidadora (na maioria dos casos) ainda é “fraca, em qualidade e quantidade”, assinala ao Jornal VOZ DA VERDADE Joana Figueiredo, responsável pelo I Seminário Escola de Cuidadores, que decorreu no passado dia 3 de novembro, no auditório da igreja paroquial de Carnaxide. Este problema é o primeiro ponto de intervenção da Escola de Cuidadores, um projeto inovador nesta área, e o contexto em que surgiu este primeiro seminário. “A nossa missão é agora ir ao encontro dessa necessidade que está perfeitamente identificada. A informação não chega de forma a que as pessoas percebam. Após a alta hospitalar de um familiar ou amigo, os profissionais de saúde esforçam-se e passam a informação sobre o que fazer mas existem momentos em que as pessoas estão sobre uma grande carga emocional. A pessoa vai para casa mas não pode levar apenas um ‘saco’ com informação, que depois não sabe o que fazer com ela”, explica Joana Figueiredo, que é também diretora técnica do Lar e diretora da Divisão de Ação Social e Saúde do Centro Social Paroquial de São Romão de Carnaxide. Para o futuro, esta profissional projeta a criação de iniciativas, destinadas aos cuidadores, onde sejam trabalhadas as “competências instrumentais, ligadas ao saber fazer, mas também as competências pessoais, o saber lidar com. Porque a pessoa pode ter toda a informação, mas não conseguir dar o passo seguinte”, refere.
O número de 120 participantes, maioritariamente técnicos de instituições e entidades que trabalham, no dia-a-dia, como cuidadores e profissionais da área da saúde, foi muito significativo e excedeu as expectativas, confirmou Joana Figueiredo. “Foi muito gratificante perceber o impacto que teve na nossa estratégia de comunicação e depois a receptividade”, fora e dentro de portas. “Não faz sentido termos um bom impacto exterior para depois, aqueles que estão mais perto de nós, não terem ligação. Em primeiro lugar, estamos na comunidade e esta faz parte da missão do Centro Social Paroquial”, aponta Joana Figueiredo, antevendo algumas iniciativas, tais como uma exposição, onde, através da arte, “possa trazer mais pessoas para refletir sobre esta temática”.

E agora?

No I Seminário Escola de Cuidadores, no auditório da igreja de São Romão de Carnaxide, três painéis de convidados apresentaram diversas perspetivas sobre o tema ‘Uma reflexão sobre o cuidar: da teoria à prática’. Após as intervenções do pároco de Carnaxide, padre Luciano Vieira, SCJ, e do presidente do centro social que organizou o encontro, António Pechirra, teve lugar a primeira conferência, trazida pelo jovem sacerdote dehoniano padre Antonino Gomes de Sousa, que é autor do livro ‘O Cuidar como Relação de Ajuda. Para uma ética Teológica do cuidar’, onde foram abordadas os “afetos e emoções” que estão presentes na tarefa de cuidar.
De seguida, a partir de um testemunho vivido na primeira pessoa e que deu origem a um livro, a enfermeira Diana Maia partilhou a sua experiência, enquanto cuidadora da sua mãe, com o objetivo de ajudar todos os que se tornam imprevistamente e, por vezes, sem muitas ajudas, no principal apoio de alguém. “Muitos familiares têm dúvidas constantes nos seus domicílios e muitas dúvidas ficam no ar. Quando os familiares levam os seus doentes para casa, nós, profissionais de saúde, preparamo-los para o momento da alta. Mas nem sempre os familiares vão bem preparados. O que nós podemos fazer para mudar um pouco esta realidade? Porque não fazer um guia prático?”, questionou a enfermeira, de 34 anos, salientando que esta pergunta deu origem ao livro ‘Do Hospital para casa e agora?’ que, juntamente com outras duas colegas, decidiu publicar. “É um guia prático que se dirige ao cuidador informal, pessoas dependentes, pessoas idosas e não só. Jovens portadores de deficiência, por exemplo, pessoas com demência, pessoas com doenças oncológicas e crónicas”, explicou Diana Maia. 

Responsabilidade acrescida

“Estava tudo bem” na vida de Diana Maia quando se deparou com a necessidade de ser cuidadora informal, na sua própria casa. O cancro diagnosticado à sua mãe fez com que “os papéis se invertessem”. “A minha mãe deixou de ser a cuidadora e eu passei a ser a pessoa que tinha de cuidar dela. Foi uma doença com uma progressão muito rápida. A nível económico, social, familiar, tudo se alterou. Era preciso envolver várias pessoas neste processo e, enquanto filha, passei a ser a cuidadora da minha mãe”, recorda Diana. “Foram momentos muito difíceis, de angústia, revolta, muito desespero e solidão. Quem poderia ajudar?”, questionava-se então.
Na sua intervenção no I Seminário Escola de Cuidadores, a enfermeira Diana Maia garantiu que, apesar do “excelente trabalho” feito pelos seus colegas, de forma a preparar o momento de levar a mãe para casa, deparou-se com o facto de não estar preparada para tudo. “Eu não esqueci as competências técnicas que tenho como enfermeira, mas era a minha mãe. Quem ama, cuida mas quando eu tenho de amar e cuidar da melhor forma, isto torna-se mais difícil, tem uma responsabilidade acrescida. A minha mãe ensinou-me a dar amor e eu agora tinha de dar o máximo de amor a ela, e tinha de o fazer da melhor forma possível porque estava dependente de mim”, referiu esta profissional de saúde.
  • Leia a reportagem completa na edição do dia 12 de novembro do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.

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