Apontar para uma sociedade mais informada e com mais respostas para a
função de cuidador foi o objetivo do I Seminário Escola de Cuidadores,
organizado pelo Centro Social Paroquial de São Romão de Carnaxide. No
passado dia 3 de novembro, vários oradores contaram a sua experiência e
apelaram a uma “cultura nacional” que faça com que a sociedade se
questione sobre o “valor” dos mais velhos, em vez do seu “custo”.

O
número de 120 participantes, maioritariamente técnicos de instituições e
entidades que trabalham, no dia-a-dia, como cuidadores e profissionais
da área da saúde, foi muito significativo e excedeu as expectativas,
confirmou Joana Figueiredo. “Foi muito gratificante perceber o impacto
que teve na nossa estratégia de comunicação e depois a receptividade”,
fora e dentro de portas. “Não faz sentido termos um bom impacto exterior
para depois, aqueles que estão mais perto de nós, não terem ligação. Em
primeiro lugar, estamos na comunidade e esta faz parte da missão do
Centro Social Paroquial”, aponta Joana Figueiredo, antevendo algumas
iniciativas, tais como uma exposição, onde, através da arte, “possa
trazer mais pessoas para refletir sobre esta temática”.
E agora?
No
I Seminário Escola de Cuidadores, no auditório da igreja de São Romão
de Carnaxide, três painéis de convidados apresentaram diversas
perspetivas sobre o tema ‘Uma reflexão sobre o cuidar: da teoria à
prática’. Após as intervenções do pároco de Carnaxide, padre Luciano
Vieira, SCJ, e do presidente do centro social que organizou o encontro,
António Pechirra, teve lugar a primeira conferência, trazida pelo jovem
sacerdote dehoniano padre Antonino Gomes de Sousa, que é autor do livro
‘O Cuidar como Relação de Ajuda. Para uma ética Teológica do cuidar’,
onde foram abordadas os “afetos e emoções” que estão presentes na tarefa
de cuidar.
De seguida, a partir de um testemunho vivido na primeira
pessoa e que deu origem a um livro, a enfermeira Diana Maia partilhou a
sua experiência, enquanto cuidadora da sua mãe, com o objetivo de ajudar
todos os que se tornam imprevistamente e, por vezes, sem muitas ajudas,
no principal apoio de alguém. “Muitos familiares têm dúvidas constantes
nos seus domicílios e muitas dúvidas ficam no ar. Quando os familiares
levam os seus doentes para casa, nós, profissionais de saúde,
preparamo-los para o momento da alta. Mas nem sempre os familiares vão
bem preparados. O que nós podemos fazer para mudar um pouco esta
realidade? Porque não fazer um guia prático?”, questionou a enfermeira,
de 34 anos, salientando que esta pergunta deu origem ao livro ‘Do
Hospital para casa e agora?’ que, juntamente com outras duas colegas,
decidiu publicar. “É um guia prático que se dirige ao cuidador informal,
pessoas dependentes, pessoas idosas e não só. Jovens portadores de
deficiência, por exemplo, pessoas com demência, pessoas com doenças
oncológicas e crónicas”, explicou Diana Maia.
Responsabilidade acrescida
“Estava
tudo bem” na vida de Diana Maia quando se deparou com a necessidade de
ser cuidadora informal, na sua própria casa. O cancro diagnosticado à
sua mãe fez com que “os papéis se invertessem”. “A minha mãe deixou de
ser a cuidadora e eu passei a ser a pessoa que tinha de cuidar dela. Foi
uma doença com uma progressão muito rápida. A nível económico, social,
familiar, tudo se alterou. Era preciso envolver várias pessoas neste
processo e, enquanto filha, passei a ser a cuidadora da minha mãe”,
recorda Diana. “Foram momentos muito difíceis, de angústia, revolta,
muito desespero e solidão. Quem poderia ajudar?”, questionava-se então.
Na
sua intervenção no I Seminário Escola de Cuidadores, a enfermeira Diana
Maia garantiu que, apesar do “excelente trabalho” feito pelos seus
colegas, de forma a preparar o momento de levar a mãe para casa,
deparou-se com o facto de não estar preparada para tudo. “Eu não esqueci
as competências técnicas que tenho como enfermeira, mas era a minha
mãe. Quem ama, cuida mas quando eu tenho de amar e cuidar da melhor
forma, isto torna-se mais difícil, tem uma responsabilidade acrescida. A
minha mãe ensinou-me a dar amor e eu agora tinha de dar o máximo de
amor a ela, e tinha de o fazer da melhor forma possível porque estava
dependente de mim”, referiu esta profissional de saúde.
- Leia a reportagem completa na edição do dia 12 de novembro do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.
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