(RV) Após a
viagem à Suécia que assinalou os 500 anos da Reforma de Lutero que se
celebram em 2017, Francisco regressou ao Vaticano tendo vivido grandes
momentos de verdadeiro sabor ecuménico no país escandinavo. Foram passos
fortes e longos nestes 50 anos que se celebram de diálogo entre
católicos e luteranos e que possibilitaram uma Comemoração Conjunta
destes cinco séculos da Reforma.
No avião que trouxe o Papa Francisco de Malmö, na Suécia, até Roma,
nesta terça-feira dia 1 de novembro o Santo Padre encontrou-se, como
habitualmente, com os jornalistas que o acompanharam nesta 17ª viagem
apostólica internacional.
Em destaque nesta conferência de imprensa assuntos tão variados como:
migrações, refugiados, secularização, laicidade, ecumenismo e tráfico
de seres humanos. Fazemos aqui uma síntese sobre o essencial deste
encontro do Papa com os jornalistas:
Suécia terra de acolhimento
O primeiro assunto tratado com os jornalistas foi o da imigração após
uma questão colocada por jornalistas suecos. Num momento em que na
Europa são colocados entraves à entrada de refugiados o Papa Francisco
sublinhou que se um refugiado não for integrado pode “guetizar-se”,
tendo aludido à longa tradição de acolhimento dos suecos, em particular,
de tantos sul-americanos no período das ditaduras.
O Santo Padre considerou existir diferença entre ‘migrante’ e
‘refugiado’, pois o migrante tem que respeitar certas regras pois é “um
direito muito regulado”, enquanto que o refugiado é alguém que foge da
fome, da guerra e da angústia. E a Suécia tem tradição em acolher e
integrar – disse o Papa:
“Também nisto, a Suécia sempre deu um exemplo em acolher, no fazer
aprender a língua, a cultura e também integrar na cultura. Nisto da
integração das culturas, não devemos assustar-nos, porque a Europa foi
feita com uma contínua integração de culturas, tantas culturas, não é?”
“Creio que em teoria não se pode fechar o coração a um refugiado, mas
também a prudência dos governantes: devem ser muito abertos a
recebê-los, mas também calcularem como é que os podem acolher, porque a
um refugiado não apenas se deve receber, mas devemos integra-lo. E se um
país tem uma capacidade de vinte, digamos assim, de integração, bem
faça-o até aí. Se outro país tem mais, faça mais. Mas sempre o coração
aberto: não é humano fechar as portas, não é humano fechar o coração e
mais à frente isto paga-se.”
A Igreja é uma mulher
A uma pergunta sobre a possibilidade do sacerdócio para as mulheres
na Igreja Católica, Francisco respondeu que a “última palavra clara foi
dada por S. João Paulo II e esta permanece”. Contudo, sublinhou que as
mulheres podem “fazer tantas coisas, melhor que os homens”. E recordou
que a Igreja é mulher “não existe a Igreja sem esta dimensão feminina
porque ela própria é feminina” – afirmou o Papa.
Secularização e laicidade
Sobre a secularização, tendência que perpassa toda a Europa,
Francisco declarou que não é “uma fatalidade” e “não é um problema de
laicidade”, mas uma debilidade da evangelização – afirmou o Papa:
“ Não é um problema de laicidade porque é preciso uma sã laicidade,
que é a autonomia das coisas, a autonomia sã das coisas, a autonomia sã
das ciências, do pensamento, da política, é preciso uma sã laicidade.
Uma outra coisa é o laicismo, mais ou menos como aquele que nos deixou
em herança o iluminismo. Mas eu creio que estas duas coisas: um pouco a
suficiência do homem criador de cultura mas que vai para além dos
limites e sente-se Deus, e também uma debilidade da evangelização,
torna-se tépida e os cristãos são tépidos. Aí salva-nos retomar a sã
autonomia no desenvolvimento da cultura e das ciências também com a
força de ser criatura, não Deus, e também retomar a força da
evangelização.”
Iniciativas ecuménicas
A propósito das iniciativas ecuménicas com outras Igrejas, Francisco
recordou duas: quando visitou uma Igreja Evangélica na cidade italiana
de Caserta e quando em Turim, também em Itália, visitou uma Igreja
Valdense. Referência do Santo Padre também para as iniciativas
ecuménicas em Buenos Aires: encontros com fiéis evangélicos e católicos
nos quais se alternavam na pregação pastores e sacerdotes católicos.
Encontros que ajudaram muito o diálogo – disse.
Tráfico de seres humanos
Destaque ainda para as palavras do Papa acerca do tráfico de seres
humanos afirmando que se comove com o facto de que “Cristo é sempre
crucificado continuamente nos seus irmãos mais débeis”. O Papa recordou o
empenho, neste particular, de religiosas argentinas que trabalhavam com
“as mulheres da prostituição” e sublinhou que todos os anos celebrava
na “Plaza de la Constituicion” uma missa com estas pessoas e com quem as
ajudava.
Renovamento Carismático
Na conferência de imprensa no avião de regresso da Suécia destaque
ainda para os 50 anos do Renovamento Carismático neste ano de 2017 e que
terão em Roma no Circo Massimo na Vigília de Pentecostes um momento
alto e ao qual o Santo Padre pretende ir.
Venezuela
Francisco falou também aos jornalistas sobre a audiência privada que
concedeu ao presidente venezuelano Nicolás Maduro e reafirmou o diálogo
como único caminho para resolver os conflitos. Também na Venezuela.
(RS)
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