01 novembro, 2016

Papa em Malmö: Santos felizes porque descobriram o amor de Deus


(RV) No segundo e último dia da sua visita à Suécia, para a comemoração conjunta católico-luterana da reforma, o Papa Francisco celebrou a Santa Missa no Swedbank Stadion de Malmö. Na homilia, centrada na solenidade de Todos os Santos que a Igreja celebra neste 1° de novembro, Francisco recordou os santos, não só os proclamados ao longo da história, mas também muitos irmãos e irmãs nossos que viveram a vida cristã através duma existência simples e reservada, entre os quais se contam certamente (disse) muitos dos nossos parentes, amigos e conhecidos.

Celebramos, portanto, a festa da santidade – sublinhou Francisco -  uma santidade que não se manifesta em grandes obras nem em sucessos extraordinários, mas que sabe viver, fiel e diariamente, as exigências do Batismo:

Uma santidade feita de amor a Deus e aos irmãos. Amor fiel até ao esquecimento de si mesmo e à entrega total aos outros, como a vida daquelas mães e pais que se sacrificam pelas suas famílias sabendo renunciar de boa vontade, embora nem sempre seja fácil, a tantas coisas, tantos projetos ou programas pessoais”.

O que caracteriza os santos, continuou o Papa, é que eles são verdadeiramente felizes e descobriram o segredo da felicidade autêntica, que tem a sua fonte no amor de Deus e as bem-aventuranças são o seu caminho e o seu destino, rumo à pátria.

Dentre as bem-aventuranças o Papa destacou a da mansidão -  «Felizes os mansos» - e explicou:

A mansidão é uma maneira de ser e viver que nos aproxima de Jesus e nos faz estar unidos entre nós; faz com que deixemos de lado tudo o que nos divide e contrapõe, a fim de procurar formas sempre novas para avançar no caminho da unidade”.

E Francisco citou o exemplo de filhos e filhas da Suécia, entre os quais Santa Maria Elisabeth Hesselblad e Brígida Vadstena, que rezaram e trabalharam para estreitar os laços de unidade e comunhão entre os cristãos.

As bem-aventuranças são o cartão de identidade do cristão que o identifica como seguidor de Jesus, enfrentando os sofrimentos e angústias do nosso tempo, disse ainda o Papa que também propôs uma nova leitura das mesmas à luz das novas situações:

Felizes os que suportam com fé os males que outros lhes infligem e perdoam de coração; felizes os que olham nos olhos os descartados e marginalizados fazendo-se próximo deles; felizes os que reconhecem Deus em cada pessoa e lutam para que também outros o descubram; felizes os que protegem e cuidam da casa comum; felizes os que renunciam ao seu próprio bem-estar em benefício dos outros; felizes os que rezam e trabalham pela plena comunhão dos cristãos... Todos eles são portadores da misericórdia e ternura de Deus, e d’Ele receberão sem dúvida a merecida recompensa”.

E o Santo Padre terminou a homilia reiterando que a chamada à santidade é para todos e que nós precisamos uns dos outros para nos tornar santos. A Maria, Mãe do Céu e Rainha de todos os Santos, confiamos as nossas intenções e o diálogo em busca da plena comunhão de todos os cristãos, para que sejamos abençoados nos nossos esforços e alcancemos a santidade na unidade – concluiu Francisco.

Antes da oração mariana do Angelus o Papa dirigiu palavras de agradecimento ao Bispo de Estocolmo D. Anders Arborelius, às autoridades e todos os que trabalharam na preparação da visita, tendo saudando em particular o Presidente e o Secretário-Geral da Federação Luterana Mundial e o Arcebispo da Igreja da Suécia, bem como os membros das delegações ecuménicas e do Corpo Diplomático presentes na Celebração.

Como católicos, fazemos parte duma grande família, sustentada por uma mesma comunhão, disse Francisco, encorajando os presentes a viver a própria fé na oração, nos Sacramentos e no serviço generoso a quem passa necessidade e sofre, e a serem sal e luz, nas circunstâncias concretas da vida, agindo com grande respeito e solidariedade para com os irmãos e irmãs doutras Igrejas e Comunidades cristãs e todas as pessoas de boa vontade.

E a todos pediu para não se esquecerem de rezar por ele. “Também eu vos tenho muito presente na minha oração”.

E a todos deu a sua bênção

(BS)

Homilia do Papa na Missa em Swedbank Stadion (Texto integral)




Texto integral da Homilia:

Celebramos hoje, com toda a Igreja, a solenidade de Todos os Santos. Assim recordamos não só aqueles que foram proclamados Santos ao longo da história, mas também muitos irmãos nossos que viveram a sua vida cristã na plenitude da fé.

Celebramos hoje, com toda a Igreja, a solenidade de Todos os Santos. Assim recordamos não só aqueles que foram proclamados Santos ao longo da história, mas também muitos irmãos nossos que viveram a sua vida cristã na plenitude da fé e do amor através duma existência simples e reservada. Contam-se certamente, entre eles, muitos dos nossos parentes, amigos e conhecidos.

Celebramos, pois, a festa da santidade. Aquela santidade que, às vezes, não se manifeste em grandes obras nem em sucessos extraordinários, mas que sabe viver, fiel e diariamente, as exigências do Batismo. Uma santidade feita de amor a Deus e aos irmãos. Amor fiel até ao esquecimento de si mesmo e à entrega total aos outros, como a vida daquelas mães e pais que se sacrificam pelas suas famílias sabendo renunciar de boa vontade, embora nem sempre seja fácil, a tantas coisas, tantos projetos ou programas pessoais.

Mas, se alguma coisa há que caraterize os Santos, é o facto de serem verdadeiramente felizes. Descobriram o segredo da felicidade autêntica, que mora no fundo da alma e tem a sua fonte no amor de Deus. Por isso, os Santos são chamados bem-aventurados. As Bem-aventuranças são o seu caminho, o seu destino, a sua pátria. As Bem-aventuranças são o caminho de vida que o Senhor nos indica, para podermos seguir os seus passos. Ouvimos, no Evangelho de hoje, como Jesus as proclamou perante uma grande multidão num monte junto do lago da Galileia.

As Bem-aventuranças são o perfil de Cristo e, consequentemente, do cristão. Dentre elas, quereria destacar uma: «Felizes os mansos» (Mt 5, 5). Jesus diz de Si mesmo: «Aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 29). Este é o seu retrato espiritual, e desvenda-nos a riqueza do seu amor. A mansidão é uma maneira de ser e viver que nos assemelha a Jesus e nos faz estar unidos entre nós; faz com que deixemos de lado tudo o que nos divide e contrapõe, a fim de procurar formas sempre novas para avançar no caminho da unidade, como fizeram filhos e filhas desta terra, entre os quais se conta Santa Maria Elisabeth Hesselblad, recentemente canonizada, e Santa Brígida, Brigitta Vadstena, co-padroeira da Europa. Elas rezaram e trabalharam para estreitar os laços de unidade e comunhão entre os cristãos. Um sinal muito eloquente é o facto de ser aqui no seu país, caraterizado pela convivência de populações muito diferentes, que estamos a comemorar em conjunto o quinto centenário da Reforma. Os Santos obtêm mudanças graças à mansidão do coração. Com ela, compreendemos a grandeza de Deus e adoramo-Lo com sinceridade; além disso, é a atitude de quem não tem nada a perder, porque a sua única riqueza é Deus.

As Bem-aventuranças são de algum modo o cartão de identidade do cristão, que o identifica como seguidor de Jesus. Somos chamados a ser bem-aventurados, seguidores de Jesus, enfrentando os sofrimentos e angústias do nosso tempo com o espírito e o amor de Jesus. Neste sentido, poderíamos assinalar novas situações para as vivermos com espírito renovado e sempre atual: felizes os que suportam com fé os males que outros lhes infligem e perdoam de coração; felizes os que olham nos olhos os descartados e marginalizados fazendo-se próximo deles; felizes os que reconhecem Deus em cada pessoa e lutam para que também outros o descubram; felizes os que protegem e cuidam da casa comum; felizes os que renunciam ao seu próprio bem-estar em benefício dos outros; felizes os que rezam e trabalham pela plena comunhão dos cristãos... Todos eles são portadores da misericórdia e ternura de Deus, e d’Ele receberão sem dúvida a merecida recompensa.

Queridos irmãos e irmãs, a chamada à santidade é para todos, e temos que a receber do Senhor com espírito de fé. Os Santos encorajam-nos com a sua vida e intercessão diante de Deus, e nós precisamos uns dos outros para nos tornar santos. Juntos, peçamos a graça de acolher, com alegria, esta chamada e trabalhar unidos para a levar a cumprimento. À nossa Mãe do Céu, Rainha de todos os Santos, confiamos as nossas intenções e o diálogo em busca da plena comunhão de todos os cristãos, para que sejamos abençoados nos nossos esforços e alcancemos a santidade na unidade.

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