28 setembro, 2016

Papa: rezar com força para vencer a desolação espiritual



(RV) O que acontece no nosso coração quando somos tomados por uma ‘desolação espiritual?’ Foi a pergunta feita por Francisco na missa desta manhã na Casa Santa Marta, centralizada no personagem de Jó. O Papa acentuou a importância do silêncio e da oração para vencer os momentos mais sombrios. Neste dia de São Vicente de Paulo, o Papa ofereceu a missa às Irmãs Vicentinas, as Filhas da Caridade, que trabalham na Casa Santa Marta. 



Jó estava com problemas: tinha perdido tudo”. A partir desta leitura, que apresenta Jó despojado de todos os seus bens, inclusive dos seus filhos, o Papa desenvolveu a homilia. “Jó  sente-se perdido, mas não maldiz o Senhor”.

Todos, cedo ou tarde, vivemos uma grande desolação espiritual

Jó vive uma grande ‘desolação espiritual’ e desabafa com Deus. É o desabafo de ‘um filho diante do seu pai’. O mesmo faz o profeta Jeremias, que desabafa com o Senhor, mas sem blasfemar:

“A desolação espiritual acontece com todos nós: pododerá ser mais forte ou mais fraca... mas é uma condição da alma obscura, sem esperança, desconfiada, sem vontade de viver, que não vê a luz no fim do túnel, que tem agitação no coração e nas ideias... A desolação espiritual faz-nos sentir como se a nossa alma fosse ‘achatada’: quando não consegue, não quer viver: ‘A morte é melhor!’ desabafa Jó. É melhor morrer do que viver assim'. E então nós devemos entender quando o nosso espírito está neste estado de tristeza geral, quando ficamos quase sem respirar. Acontece com todos mas temos que compreender o que se passa no nosso coração”.

Esta, acrescentou o Papa, “é a pergunta que devemos por a nós próprios: ‘O que se deve fazer quando vivemos estes momentos escuros, por uma tragédia familiar, por uma doença, por alguma coisa que nos leva abaixo. Alguns pensam em tomar um comprimido para dormir e ficar distante dos factos, ou beber ‘dois, três, quatro, golinhos’... “Isto não ajuda. A liturgia de hoje mostra-nos como lidar com a desolação espiritual, quando ficamos mornos, abatidos, sem esperança”.



Quando nos sentirmos perdidos, rezar com insistência

No Salmo responsorial 87 está a resposta: “Chegue a ti a minha prece, Senhor”. É preciso rezar – disse o Papa – rezar com força, como disse Jó: gritar dia e noite até que Deus escute:
“É uma oração de bater na porta, mas com força! “Senhor, eu estou cheio de desventuras. A minha vida está à beira do inferno. Estou entre aqueles que descem à fossa, sou como um homem sem forças’. Quantas vezes nos sentimos assim, sem forças... E esta é a oração.  O Senhor  nos ensina como rezar nestes momentos difíceis. 'Senhor, lançaste-me na fossa mais profunda. Pesa sobre mim a Tua cólera. Chegue a Ti a minha oração’. Esta é a oração: assim devemos rezar nos piores momentos, nos momentos mais escuros, mais desolados, mais esmagados, que nos esmagam mesmo. Isto é, a rezar com autenticidade. E também desabafar como desabafou Jó com os filhos. Como um filho”.

O Livro de Jó fala do silêncio dos amigos. Diante de uma pessoa que sofre, disse o Papa, “as palavras podem ferir”. O que conta é estar perto, fazer sentir a proximidade, “mas não fazer discursos”.

Silêncio, oração e presença, por isso realmente ajuda aqueles que sofrem

“Quando uma pessoa sofre, quando uma pessoa se encontra na desolação espiritual – continuou o Papa -, tens que falar o mínimo possível e  ajudar com o silêncio, a proximidade, as carícias, com a sua oração diante do Pai":

“Em primeiro lugar, reconhecer em nós os momentos de desolação espiritual, quando estamos no escuro, sem esperança, e perguntar-nos porquê? Em segundo lugar, rezar ao Senhor, como na liturgia de hoje, com este Salmo 87 que nos ensina a rezar no momento de escuridão. 'Chegue a Ti a minha oração, Senhor'. E em terceiro lugar, quando me aproximo de uma pessoa que sofre, seja por doenças, seja por qualquer sofrimento, mas que está na desolação completa, silêncio; mas silêncio com tanto amor, proximidade, ternura. E não fazer discursos que, depois não ajudam e até podem fazer-lhe mal”.

"Rezemos ao Senhor - concluiu Francisco –, para que nos conceda estas três graças: a graça de reconhecer a desolação espiritual, a graça de rezar quando estivermos submetidos a este estado de desolação espiritual, e também a graça de saber acolher as pessoas que passam por momentos difíceis de tristeza e de desolação espiritual”. (SP)

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