(RV) A nossa
vida é um mistério cuja chave de interpretação está nas mãos de Deus e
do homem. A nossa missão é perceber a chamada de Deus e aceitar a sua
vontade. Então há que perguntar-se: “qual é a vontade de Deus na minha
vida?” A esta pergunta deve seguir-se uma outra: “O que lhe agrada?” E a
resposta é que “Deus não quer sacrifícios, mas sim misericórdia” –
disse o Papa, apoiando-se nas leituras bíblicas deste domingo, segundo
as quais “Para Deus são agradáveis todas as obras de misericórdia,
porque no irmão reconhecemos o rosto de Deus que ninguém pode ver”, a
carne de Cristo. Não existe alternativa à caridade, se queremos pôr em
prática a nossa fé, o que significa ir para além da simples ajuda nos
momentos de necessidade. Isto seria solidariedade, mas seria estéril,
porque “careceria de raízes”. O que o Senhor nos pede é “uma vocação
para a caridade”, frisou Francisco.
E neste dia do Jubileu dos Voluntários e Operadores da Misericórdia, o
Papa evocou o Evangelho de Lucas, lido neste domingo, para comparar o
“vasto mundo do voluntariado de hoje às multidões que seguiam Jesus”
dizendo-lhes:
“Sois aquela multidão que segue o Mestre, e que torna visível
o seu amor concreto por cada pessoa (…). Quantos corações os
voluntários confortam! Quantas mãos apoiam; quantas lágrimas enxugam;
quanto amor é derramado no serviço escondido, humilde e desinteressado!
Este serviço louvável dá voz à fé, dá voz à fé, e manifesta a
misericórdia do Pai que se faz próximo daqueles que passam por
necessidades.”
O Papa prosseguiu recordando aos voluntários que “seguir Cristo é um
compromisso sério e ao mesmo tempo alegre: exige radicalidade e coragem
para reconhecer o divino Mestre no mais pobre e colocar-se ao seu
serviço” sem esperar agradecimentos ou gratificações. É simplesmente um
imitar o Senhor que se inclina sobre cada um de nós nos momentos
difíceis, pormenorizou o Papa:
“Como o Senhor veio até mim e se inclinou sobre mim na hora
da necessidade, assim também vou ao seu encontro e me inclino sobre
aqueles que perderam a fé ou vivem como se Deus não existisse, sobre os
jovens sem valores e ideais, sobre as famílias em crise, sobre os
enfermos e os prisioneiros, sobre os refugiados e imigrantes, sobre os
fracos e desamparados no corpo e no espírito, sobre os menores e
abandonados à própria sorte, bem como sobre os idosos deixados
sozinhos. Onde quer que haja uma mão estendida pedindo ajuda para
levantar-se, ali deve estar a nossa presença e a presença da Igreja, que
apoia e dá esperança.”
Exemplo de tudo isso foi Madre Teresa de Calcutá, “dispensadora
generosa da misericórdia divina” – disse o Papa sublinhando que ela se
fez disponível a todos, desde os nascituros, aos abandonados e
descartados. Em relação aos nascituros punha-se claramente do lado da
defesa da vida, dizendo que “quem ainda não nasceu é o mais fraco, o
menor, o mais miserável”. Em todos reconheceu a dignidade que Deus lhes
dera” – frisou Francisco, recordando que Madre Teresa fez também “ouvir
a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem a sua culpa
perante os crimes, perante os crimes da pobreza criada por eles
próprios. A misericórdia foi para ela o “sal” que dava sabor a todas as
suas obras, e a luz que iluminava a escuridão de todos aqueles que nem
sequer tinham mais lágrimas para chorar pela sua pobreza e sofrimento” .
Indicando na missão de Madre Teresa nas periferias das cidades e nas
periferias existênciais um testemunho eloquente da proximidade de Deus
junto dos mais pobres entre os pobres, o Papa concluiu desejando que ela
seja um modelo para o mundo do voluntariado de hoje:
“Hoje entrego a todo o mundo do voluntariado esta figura
emblemática de mulher e de consagrada: que ela seja o vosso modelo
santidade! Acho que teremos,
talvez, um pouco de dificuldades em chamá-la Santa Teresa, a sua
santidade está tão próxima de nós, tão tenra e fecunda que
espontaneamente continuaremos a dizer Madre Teresa (aplausos…). Que
esta incansável agente de misericórdia nos ajude a entender mais e mais
que o nosso único critério de acção é o amor gratuito, livre de
qualquer ideologia e de qualquer vínculo e que é derramado sobre todos
sem distinção de língua, cultura, raça ou religião. Madre
Teresa gostava de dizer: “Talvez não fale a língua deles, mas posso
sorrir”. Levemos no coração o seu sorriso (aplausos) e o ofereçamos a
quem encontrarmos no nosso caminho, especialmente àqueles que sofrem.
Assim abriremos horizontes de alegria e de esperança numa humanidade tão
desesperançada e necessitada de compreensão e ternura”.
(DA)
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