23 setembro, 2016

Papa aos jornalistas: honestos e respeitosos da dignidade humana




(RV) O Papa Francisco recebeu no final da manhã desta quinta-feira (22/09) cerca de 400 membros do Conselho da Ordem dos Jornalistas Italianos.

A audiência foi a ocasião para o Pontífice aprofundar as características e a missão do comunicador nos tempos actuais, com os jornais impressos e a televisão que perdem relevância para as redes sociais.

Também a Santa Sé, afirmou o Papa, viveu e está vivendo um processo de renovação do sistema comunicativo, com a Secretaria para a Comunicação que se tornará o ponto de referência para os jornalistas que cobrem os eventos vaticanos.

Consciente da frenesia que a actividade jornalística comporta, sempre atrelada ao “horário de fechamento”, Francisco recorda todavia que o jornalista tem grande responsabilidade, pois de certa maneira escreve “o primeiro esboço da História” e determina a discussão e a interpretação dos eventos. Por isso, é importante “parar e reflectir”. E o Pontífice ofereceu três elementos de reflexão: amar a verdade, viver com profissionalismo e respeitar a dignidade humana.

Amar a verdade não significa somente afirmar, mas viver a verdade. Testemunhá-la com o próprio trabalho. A questão não é ser ou não um fiel, destacou o Papa, mas ser ou não honesto consigo mesmo e com os outros. Na vida não é tudo branco ou preto. Também no jornalismo é preciso saber discernir as nuances de cinza dos factos a serem narrados, sobretudo nos embates políticos e nos conflitos. Por isso, o trabalho do jornalista é de aproximar-se o mais possível da verdade dos factos e jamais dizer ou escrever algo que, se sabe, não corresponde à realidade.

Viver com profissionalismo significa compreender e interiorizar o sentido profundo do próprio trabalho. Isto é, não submeter a própria profissão a lógicas económicas ou políticas. A tarefa do jornalismo, a sua vocação, é promover a dimensão social do homem, favorecer a construção de uma verdadeira cidadania. “Deveria fazer-nos pensar que, no decorrer da história, as ditaduras não só tentaram se apropriar dos meios de comunicação, mas também impor novas regras à profissão jornalística.”

Quanto ao último elemento, respeitar a dignidade humana, o Papa recordou que é importante em qualquer profissão, mas de modo especial no jornalismo, porque atrás de qualquer notícia há sentimentos, emoções. Enfim, a vida das pessoas. Francisco lembrou as inúmeras vezes que falou das bisbilhotices como “terrorismo”, de como é possível matar uma pessoa com a língua. Se isso vale para cada indivíduo, vale mais ainda para o jornalista. Certamente, a crítica é legítima, assim como as denúncias, mas tudo deve ser feito respeitando o outro. “O jornalismo não pode se tornar uma ‘arma de destruição’ de pessoas e, até mesmo, de povos. Nem deve alimentar o medo diante de mudanças e fenómenos como as migrações forçadas pela guerra ou pela fome.”

O Pontífice concluiu o seu discurso fazendo votos de que o jornalismo seja um instrumento de construção, “que não sopre sobre o fogo das divisões”, mas favoreça a cultura do encontro. “Vós jornalistas podeis recordar todos os dias a todos que não há conflito que não possa ser resolvido por mulheres e homens de boa vontade.”

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