(RV) O Papa
Francisco recebeu em audiência no final da manhã desta sexta-feira
(16/09), cerca de 170 bispos nomeados durante o último ano.
Em um denso discurso, após saudar a Congregação para os Bispos e a
Congregação para as Igrejas Orientais que organizaram o encontro,
Francisco se disse feliz por estar diante daqueles que foram “pescados”
pelo coração de Deus para guiar o seu Povo Santo.
“Sim – disse o Papa –, Deus os precede no seu amoroso conhecimento.
Ele os “pescou” com o anzol da sua surpreendente misericórdia. Suas
redes foram misteriosamente apertando e vocês não puderam fazer mais
nada a não ser deixarem-se capturar. Eu sei que ainda um calafrio
atravessa vocês quando pensam no seu chamado que veio na voz da Igreja,
Sua Esposa. Vocês não são os primeiros a sentirem essa emoção. Aconteceu
também com Moisés, que acreditava estar sozinho no deserto e se
descobriu, ao invés, encontrado e atraído por Deus que lhe confiou o seu
Nome, não para ele, mas para o seu povo. Hoje continua a subir a Deus o
grito de dor do seu povo, e saibam que desta vez é o nome de vocês que o
Pai quis pronunciar.
Caminho de Deus
Também os Apóstolos, disse o Santo Padre sentiram esse calafrio
quando, revelados “os pensamentos de seus corações”, com fadiga
descobriram o acesso ao secreto caminho de Deus, que habita nos pequenos
e se esconde de quem é autossuficiente. Não se envergonhem das vezes em
que também vocês tocaram levemente este distanciamento dos pensamentos
de Deus.
É muito bonito, continuou o Pontífice, deixar-se traspassar pelo
conhecimento amoroso de Deus. É consolador saber que Ele verdadeiramente
sabe quem somos e não se perturba com a nossa pequenez. Tantos hoje
colocam máscaras e se escondem. Gostam de construir personagens e
inventar perfis. Tornam-se escravos dos míseros recursos que recolhem e
aos quais se agarram como se fosse suficiente para comprar o amor que
não tem preço. Não suportam a emoção de saber serem conhecidos por
Alguém que é maior e não despreza a nossa pequenez, é mais Santo e não
culpa as nossas fraquezas, é realmente bom e não se escandaliza com as
nossas feridas. Não seja assim para vocês: deixem que este calafrio
percorra vocês, não o remova e não o silencie.
Reconciliação
O Papa convidou os novos bispos que no próximo domingo irão passar a
Porta Santa do Jubileu da Misericórdia a viver intensamente uma pessoal
experiência de gratidão, de reconciliação, de entrega total, sem
reservas, da própria vida ao Pastor dos Pastores. “A maior riqueza que
vocês podem levar de Roma no início de seu ministério episcopal – disse
Francisco -, é a consciência da misericórdia com a qual vocês foram
olhados e chamados”. Recordou ainda que eles são bispos da Igreja,
partícipes de um único Episcopado, membros de um indivisível Colégio.
O Santo Padre disse ainda aos novos bispos que eles peçam a Deus, que
é rico de misericórdia, o segredo para tornar pastoral a sua
misericórdia nas suas dioceses. “Não tenham medo de propor a
Misericórdia como síntese daquilo que Deus oferece ao mundo, porque nada
maior pode o coração do homem aspirar”.
Misericórdia
Para que a Misericórdia, no ministério episcopal, seja tangível, são necessárias – segundo indicou o Papa – alguns requisitos.
O primeiro é que os bispos sejam capazes de encantar e atrair; mas
sem seduzir o coração dos homens a eles mesmos, pois o mundo está
cansado de ‘encantadores mentirosos’. As pessoas reconhecem os
narcisistas, manipuladores, defensores de seus interesses.
A segunda recomendação de Francisco é que os bispos devem ser capazes
de ‘iniciar aqueles que lhes foram confiados’ no abismo do amor.
“Sua única perspectiva seja ver seus fiéis em sua unicidade, fazendo
de tudo para chegar até eles e não poupar nenhum esforço para
recuperá-los. Pensem na emergência educativa, na transmissão de
conteúdos e valores, no analfabetismo afetivo, nos caminhos vocacionais,
no discernimento nas famílias, na busca da paz. Tudo isso requer
iniciação e percursos guiados com perseverança, paciência e constância,
que são os sinais que distinguem o bom pastor de um mercenário”.
Vocações
O Pontífice aconselha ainda aos novos bispos a manterem a sua
intimidade com Deus e a cuidarem com atenção especial das estruturas de
iniciação das Igrejas, especialmente dos seminários. “Não se deixem
tentar pelos números e a quantidade das vocações, mas procurem a
qualidade; não privem os seminaristas da firme e carinhosa paternidade;
cresçam-nos até que se sintam ‘tranquilos como crianças nos braços de
suas mães’; livres de acatar o desejo de Deus, mesmo quando não lhes
parece doce como estar no ventre materno”.
Enfim, o Papa apontou uma última consideração para tornar pastoral a
Misericórdia: o verbo ‘acompanhar’. “Acompanhar primeiramente, e com
paciência e solicitude, o clero; tentando reavivar nos sacerdotes a
consciência que Cristo é a ‘sua parte e fonte de herança’”.
Famílias
“Acompanhar também, com prudência e responsabilidade, o acolhimento
de candidatos à incardinação em suas Igrejas. “A relação ente uma Igreja
local e seus sacerdotes é incindível, não se aceita o ‘clero vagante’,
que transita de um lugar para outro”.
Enfim, o acompanhamento de todas as famílias, principalmente as mais
feridas, sem ‘passar além’ de suas fragilidades. “Aproximem-se sem medo,
façam-lhes companhia no discernimento e com empatia.
O discurso aos novos bispos se encerrou com a bênção do Papa, pai e
irmão. “Pedirei a Deus que caminhe com vocês”, concluiu Francisco.
(SP-CM)
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