Santuário de Fátima
O Cardeal D. António Marto, lembra: “noite escura que pesa sobre o mundo abatido por uma pandemia global”.
Domingos Pinto – Lisboa
Numa celebração inédita, devido à pandemia de Covid-19, e com o
recinto fechado, sem peregrinos, o Santuário de Fátima acolheu na
última noite a abertura da peregrinação do 13 de maio, presidida pelo
Cardeal D. António Marto, bispo de Leiria e Fátima.
A celebração começou junto à Capelinha das Aparições, com a presença
dos responsáveis pelas três províncias eclesiásticas de Portugal, em
representação das 21 dioceses católicas do país – D. Jorge Ortiga,
arcebispo de Braga; D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa; D.
Francisco Senra Coelho, arcebispo de Évora – juntamente com os capelães
do Santuário de Fátima e um coro de 10 elementos, acompanhado por dois
organistas.
Vigilantes do Santuário transportaram o andor e a cruz luminosa
através do recinto iluminado por mil velas evocando os peregrinos e as
vitimas da pandemia. Também de forma simbólica, 21 leigos levaram uma
vela na mão, em representação das dioceses de Portugal, durante a
procissão para o altar do Recinto, onde foi colocado o andor com a
Imagem de Nossa Senhora de Fátima.
“Fica connosco, Senhor, porque se faz noite! É talvez a primeira
invocação espontânea de quem aqui sente a noite escura que pesa sobre o
mundo abatido por uma pandemia global; a invocação de quem vive uma
noite escura da fé perante o aparente silêncio e ausência de Deus; a
invocação de quem estremece e estranha esta noite tão diferente daquelas
noites inigualáveis de 12 de maio – autênticos mares de luz – e que
hoje mais parece um deserto semiescuro”, assinalou D. António Marto na
homilia da celebração da Palavra que decorreu no altar do Recinto de
Oração.
O prelado lembrou “os defuntos e seus familiares; os doentes; todos
os profissionais de saúde, com a sua abnegação e dedicação, até pôr em
risco a própria vida; todos os cuidadores; os idosos, os pobres, as
famílias que cuidam ou que choram; os sacerdotes; os trabalhadores da
proteção civil, dos transportes, da limpeza, da alimentação; os
bombeiros e tantos outros que não se pouparam a sacrifícios, como bons
samaritanos”.
“Particularmente unido a nós está também um peregrino especial, o
Santo Padre Papa Francisco, por cujas intenções queremos orar a Nossa
Senhora”, sublinhou ainda o cardeal português que desceu as escadarias
para um lava-pés simbólico a três peregrinos convidados para representar
todos aqueles que peregrinam à Cova da Iria.
Antes desta celebração, D. António Marto explicou em conferência de
imprensa a decisão de celebrar com o recinto fechado, anunciada a 6 de
abril e confirmada a 3 de maio, para evitar “o risco de contágio era
muito elevado”, numa manifestação onde era “imprevisível” determinar a
dimensão da multidão que gostaria de participar.
O cardeal português sustentou que a fé “não se mede pelas multidões” e
mostrou-se chocado com emails “agressivos e até ofensivos, ofensivos
até da pessoa do próprio Papa” que contestaram a decisão, acrescentando
que também recebeu felicitações, de vários quadrantes.
“Eu não queria ficar na história, como bispo, não queria ficar na
história como responsável por um agravamento da pandemia, a nível
nacional. Nem eu nem queria que ficasse o Santuário. Foi essa a razão,
simples”, disse D. António Marto.
VN
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