13 maio, 2020

“Antes de nós decidirmos vir ao santuário, já ela foi ao nosso coração, às nossas casas e nos atraiu”


 
A celebração aniversária das aparições, num Santuário de Fátima vazio devido aos “riscos da saúde pública”.

Pela primeira desde 1917, o 13 de maio foi celebrado em Fátima sem a presença de fiéis, mas o Bispo de Leiria-Fátima disse acreditar, durante a Missa desta manhã, que é Nossa Senhora quem se faz “peregrina” para se “fazer próxima” das pessoas. “É verdade que não está aqui no recinto a multidão de devotos para saudar Nossa Senhora com o conhecido e amado cântico do Ave de Fátima. Mas reparai: antes de nós decidirmos vir ao santuário, já ela foi ao nosso coração, às nossas casas e nos atraiu. Hoje é ela que abre as portas deste santuário e sai dele, espiritualmente, como peregrina para se fazer próxima das nossas vidas, das nossas casas e levar-nos a consolação do seu coração materno como fez na visita à casa da sua prima Isabel”, garantiu o cardeal D. António Marto.

A celebração aniversária das aparições, num Santuário de Fátima vazio devido aos “riscos da saúde pública”, ficou este ano marcada pela peregrinação do coração. “É possível que muitos pensem que esta peregrinação é triste, por se realizar com o recinto fechado e porque lhe faltam as grandes multidões e o colorido dos anos anteriores. Sem negar um coeficiente de tristeza e dor que vai no coração de todos, sabemos pela fé que ‘para os que amam a Deus tudo serve para o bem’ (Rom 8, 28). Neste sentido, talvez estejamos todos a aprender como é uma peregrinação em estado puro, o peregrinar com o coração, a peregrinação interior no percurso mais íntimo da nossa vida, com a companhia espiritual da mãe celeste, que leva cada um a encontrar-se com Deus santo e misericordioso”, referiu D. António Marto, assegurando o regresso dos peregrinos: “Querida Mãe, queremos agradecer-te esta peregrinação interior, a luz, a esperança, a consolação e a paz de Cristo que levas às nossas casas e aos nossos corações. Hoje fazes tu o caminho da ida; o caminho da volta fá-lo-emos nós, quando superarmos esta ameaça que no-lo impede. Voltaremos, sim, voltaremos! É a nossa confiança e nosso compromisso, hoje. Voltaremos juntos aqui, em ação de graças, para te cantar: ‘aqui vimos, mãe querida, consagrar-te o nosso amor’!”.

Pensar sobre o sentido da vida
Na Missa desta manhã de quarta-feira, que foi concelebrada pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, o Bispo de Leiria-Fátima destacou ainda como, “inesperadamente, um vírus imprevisível, invisível, silencioso, capaz de contagiar tudo e todos, põe o mundo inteiro a vacilar”. “Sentimos o chão a fugir-nos debaixo dos pés. Todas as nossas agendas e programações caíram como um castelo de cartas. Logo foram precisos planos de contingência e de emergência para fazer face a este flagelo global”, apontou, lembrando que esta “situação dramática e trágica, sem precedentes”, convida “a refletir sobre a vida e, em primeiro lugar, a ir ao essencial”. “Às vezes, parecemos tão tremendamente fortes e somos tão tremendamente frágeis e vulneráveis. Leva-nos a pensar sobre o sentido da vida (para quê vivo? para quem vivo?) e sobre a possibilidade e a realidade da morte, da nossa própria morte e da dos entes queridos. Obriga-nos a repensar os nossos hábitos, o nosso estilo de vida, a escala de valores que orienta a nossa vida. Não se pode viver só para produzir e para consumir, para ter e para aparecer. Coloca-nos perante o grande mistério último da vida e da humanidade que nós, os crentes, chamamos Deus, e nós, os cristãos, chamamos o Deus de Jesus Cristo”, esclareceu D. António Marto, sublinhando ainda que a situação atual “exige uma reflexão interior, espiritual e também a abertura do nosso coração a Deus, tão esquecido, ignorado, marginalizado”. “A pandemia é um chamamento à conversão espiritual mais em profundidade. Um chamamento aos fiéis cristãos, mas também a todos os homens, que permanecem criaturas de Deus. Uma vida melhor na nossa casa comum, em paz com as criaturas, com os outros e com Deus, uma vida rica de sentido requer conversão!”, observou. 

Família e solidariedade
Neste 13 de maio, em Fátima, o cardeal Marto destacou ainda a importância da família neste tempo de quarentena. “Descobrimos também quão é importante a família como suporte humano e espiritual, como pequena Igreja doméstica nestes tempos de confinamento”, salientou o Bispo de Leiria-Fátima, frisando depois que “a pandemia, com a longa interrupção da vida normal, traz terríveis consequências económicas, sociais e laborais”. “Já está a gerar uma outra pandemia mais dolorosa, a da extensão da pobreza, da fome e da exclusão social, agravada pela cultura da indiferença e do individualismo. O vírus da indiferença só é derrotado com os anticorpos da compaixão e da solidariedade”, garantiu, sublinhando que os cristãos não podem “ficar indiferentes”, a “olhar para o lado”. “É uma situação que já bate à porta das Caritas diocesanas e de várias paróquias e soa a sinal de grito de alarme! Mas, como lembra o Papa Francisco, é necessário também um impulso de solidariedade que oriente uma resposta mundial perante a anunciada quebra, senão queda, do nosso sistema económico e social”, desejou. 

No final da celebração, foi lida uma mensagem que o Papa Francisco enviou aos “queridos peregrinos de Fátima”, onde assegura a “companhia” de Nossa Senhora junto de cada um.

Jornal Voz da Verdade
Foto: Arlindo Homem

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