Caríssimos irmãos sacerdotes do clero secular e regular ao serviço do Povo de Deus no Patriarcado de Lisboa
No
Domingo do Bom Pastor, tão vocacional também, dirijo-vos estas palavras
cheias de proximidade e estima. Revejo e agradeço em cada um de vós a
“representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor” (Pastores dabo vobis,
15), na dedicação demonstrada ao Povo de Deus. Especialmente neste
tempo difícil, em que a presença física tem de ser quase substituída
pelos meios de comunicação, antigos e novos, ao nosso alcance.
Tem
sido grande a vossa ação e criatividade neste sentido. Creio mesmo que,
quando pudermos voltar a celebrar com o nosso povo, continuaremos a
utilizar esses meios para alargar o que fizermos presencialmente a
auditórios mais vastos. Como tenho verificado e ouvido a vários de vós,
nunca chegámos a tantas pessoas e a tantos lados como agora. E mesmo a
muitos não cristãos ou não praticantes, encetando assim um contacto
promissor. Também deste modo se realiza o que nos diz o Evangelho de
hoje, porque as ovelhas conhecem, ou começam a conhecer, a voz de
Cristo, ressoando em cada um de nós.
Este modo de celebrar sem
povo, que perdurará mais algum tempo, é ainda um modo de celebrar por
ele, no eterno sacerdócio de Cristo. Reconheço e sinto a dificuldade
pessoal de assim ter de ser, a bem de todos. Como vós, fui formado para
acompanhar presencialmente o Povo de Deus, em especial na celebração
eucarística e demais sacramentos, cuja administração nos define e
realiza. Assim voltará a ser, logo que possível, como o Povo de Deus
tanto anseia – e nós com ele.
Como sacramentos de Cristo Pastor,
existimos para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Sabemos
como tal aconteceu: Jesus deu a vida por nós, absolutamente na Cruz e
totalmente em cada passo evangélico, quando alimentou e atendeu ao bem
corporal de cada um, para lhe poder oferecer depois um bem maior.
É
o que quer fazer através de nós, ministros do seu sacerdócio. No que
nos cabe, defendemos a saúde dos fiéis e anunciamos a vida ressuscitada
de Cristo. Essa mesma que não precisa que lhe abram a porta para se
manifestar perto ou longe. Muitas famílias testemunham como o
confinamento obrigatório foi ocasião de se redescobrirem como “igrejas
domésticas”, com o Ressuscitado bem presente nos seus lares. Também esta
é uma experiência a não perder, complementando as celebrações
comunitárias a que voltaremos assim que pudermos, como corpo eclesial de
Cristo.
Sabemos que o fim do estado de emergência não
significou o fim da pandemia e do grande perigo de ela alastrar, se não
mantivermos o cuidado necessário. O Governo não autorizou celebrações
religiosas em geral até ao fim deste mês; e o Santo Padre pediu para
todos nós a graça da prudência e da obediência às orientações oficiais,
para que a pandemia não regresse.
Custa-nos certamente, mas temos
de cumprir, a bem da saúde pública. Atentos ao bem de todos e de cada
um, com o cuidado que a sua vida nos requer, da saúde do corpo à do
espírito, totalmente considerada e respeitada, para ser vida em
abundância.
Irmãos e amigos sacerdotes, é com este cuidado e
atenção que permaneço inteiramente convosco, eu e os meus colegas Bispos
ao serviço do Patriarcado. Contai connosco, como nós contamos convosco,
em oração e mútua estima. Nossa Senhora, cuja ternura maternal preenche
inteiramente o mês de maio, vos acompanhe de perto e a todo o povo que
servis.
Um grande abraço a todos vós, extensivo aos nossos estimados diáconos, consagrados/as e fiéis leigos!
Vosso,
+ Manuel, Cardeal-Patriarca
Lisboa, 3 de maio de 2020
Patriarcado de Lisboa
Sem comentários:
Enviar um comentário