03 maio, 2020

Carta aos sacerdotes ao serviço no Patriarcado de Lisboa



Caríssimos irmãos sacerdotes do clero secular e regular ao serviço do Povo de Deus no Patriarcado de Lisboa

No Domingo do Bom Pastor, tão vocacional também, dirijo-vos estas palavras cheias de proximidade e estima. Revejo e agradeço em cada um de vós a “representação sacramental de Jesus Cristo Cabeça e Pastor” (Pastores dabo vobis, 15), na dedicação demonstrada ao Povo de Deus. Especialmente neste tempo difícil, em que a presença física tem de ser quase substituída pelos meios de comunicação, antigos e novos, ao nosso alcance.

Tem sido grande a vossa ação e criatividade neste sentido. Creio mesmo que, quando pudermos voltar a celebrar com o nosso povo, continuaremos a utilizar esses meios para alargar o que fizermos presencialmente a auditórios mais vastos. Como tenho verificado e ouvido a vários de vós, nunca chegámos a tantas pessoas e a tantos lados como agora. E mesmo a muitos não cristãos ou não praticantes, encetando assim um contacto promissor. Também deste modo se realiza o que nos diz o Evangelho de hoje, porque as ovelhas conhecem, ou começam a conhecer, a voz de Cristo, ressoando em cada um de nós.

Este modo de celebrar sem povo, que perdurará mais algum tempo, é ainda um modo de celebrar por ele, no eterno sacerdócio de Cristo. Reconheço e sinto a dificuldade pessoal de assim ter de ser, a bem de todos. Como vós, fui formado para acompanhar presencialmente o Povo de Deus, em especial na celebração eucarística e demais sacramentos, cuja administração nos define e realiza. Assim voltará a ser, logo que possível, como o Povo de Deus tanto anseia – e nós com ele.

Como sacramentos de Cristo Pastor, existimos para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Sabemos como tal aconteceu: Jesus deu a vida por nós, absolutamente na Cruz e totalmente em cada passo evangélico, quando alimentou e atendeu ao bem corporal de cada um, para lhe poder oferecer depois um bem maior. 

É o que quer fazer através de nós, ministros do seu sacerdócio. No que nos cabe, defendemos a saúde dos fiéis e anunciamos a vida ressuscitada de Cristo. Essa mesma que não precisa que lhe abram a porta para se manifestar perto ou longe. Muitas famílias testemunham como o confinamento obrigatório foi ocasião de se redescobrirem como “igrejas domésticas”, com o Ressuscitado bem presente nos seus lares. Também esta é uma experiência a não perder, complementando as celebrações comunitárias a que voltaremos assim que pudermos, como corpo eclesial de Cristo.
    
Sabemos que o fim do estado de emergência não significou o fim da pandemia e do grande perigo de ela alastrar, se não mantivermos o cuidado necessário. O Governo não autorizou celebrações religiosas em geral até ao fim deste mês; e o Santo Padre pediu para todos nós a graça da prudência e da obediência às orientações oficiais, para que a pandemia não regresse.

Custa-nos certamente, mas temos de cumprir, a bem da saúde pública. Atentos ao bem de todos e de cada um, com o cuidado que a sua vida nos requer, da saúde do corpo à do espírito, totalmente considerada e respeitada, para ser vida em abundância.

Irmãos e amigos sacerdotes, é com este cuidado e atenção que permaneço inteiramente convosco, eu e os meus colegas Bispos ao serviço do Patriarcado. Contai connosco, como nós contamos convosco, em oração e mútua estima. Nossa Senhora, cuja ternura maternal preenche inteiramente o mês de maio, vos acompanhe de perto e a todo o povo que servis.

Um grande abraço a todos vós, extensivo aos nossos estimados diáconos, consagrados/as e fiéis leigos!

Vosso,
 
+ Manuel, Cardeal-Patriarca

Lisboa, 3 de maio de 2020

Patriarcado de Lisboa 

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