No discurso
preparado - mas não pronunciado - aos 40 seminaristas de Agrigento,
Itália, o Papa Francisco resumiu em quatro palavras o ícone do Evangelho
dos discípulos de Emaús: caminho; escuta, discernimento e missão.
Manuel Tavares - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco recebeu na manhã deste sábado (24/11) na Sala do
Consistório, no Vaticano, 40 seminaristas da Arquidiocese de o
Papa deixou de lado o seu discurso preparado e falou de improviso.
No texto que tinha preparado, o Papa propôs quatro pontos de
reflexão, pessoal e comunitária, a partir do recente Sínodo dos Bispos
para os Jovens: caminho, escuta, discernimento e missão.
Caminho
Referindo-se ao ícone bíblico, o Evangelho dos discípulos de Emaús,
que guiou os trabalhos sinodais e pode continuar a inspirar o caminho
dos candidatos ao sacerdócio. Logo, a primeira palavra-chave,
apresentada por Francisco aos seminaristas, foi precisamente o caminho:
“Jesus Ressuscitado encontra-nos no caminho, que, ao mesmo tempo, é
a realidade na qual cada um de nós é chamado a viver; este percurso
interior, o caminho da fé e da esperança, proporciona momentos de luz,
mas também momentos de escuridão. Neste caminho, o Senhor encontra-nos,
ouve-nos e fala-nos”.
Escuta
A seguir, o Santo Padre passou à segunda palavra chave: a escuta. O nosso Deus é a Palavra e, ao mesmo tempo, é o Silêncio que escuta. Jesus é a Palavra que se faz escuta e acolhida da nossa condição humana:
“Quando Jesus aparece ao lado dos dois discípulos de Emaús,
caminha com eles, ouve-os e estimula-os a falar do que sentem dentro de
si, as suas esperanças e decepções. Isto significa que, na sua vida no
seminário, o diálogo com o Senhor deve ocupar o primeiro lugar, um
diálogo feito de escuta mútua: Ele ouv-me e eu ouç-o, sem nenhuma
ficção e nenhuma máscara”.
Discernimento
Esta escuta do coração, na oração, disse Francisco, ensina-nos a
sermos pessoas capazes de ouvir os outros e a tornar-nos verdadeiros
sacerdotes, que oferecem o serviço da escuta; educa-nos a ser, cada vez
mais, Igreja que escuta, uma comunidade que sabe ouvir. Enfim, como
Jesus, a Igreja é enviada ao mundo para ouvir o clamor da humanidade,
o seu grito silencioso, às vezes, reprimido, sufocado. Aqui, o Papa
apresentou a terceira palavra-chave da sua reflexão: o discernimento:
“O seminário é lugar e tempo de discernimento. Mas, isto requer
acompanhamento, como Jesus fez com os dois discípulos de Emaús e com os
outros discípulos, sobretudo com os Doze. Ele acompanhou-os com
paciência e sabedoria; educou-os a segui-lo na verdade, dissipando as
falsas expetativas dos seus corações. E fez tudo com respeito e
decisão, mas também como um bom amigo e bom médico, que, às vezes,
precisa de usar o bisturi”.
Tantos problemas que surgem na vida de um sacerdote, afirmou
Francisco, são motivados pela falta de discernimento nos anos de seminário.
Jesus não finge com os discípulos de Emaús, não é evasivo, não contorna
os seus problemas, mas chama-os "insensatos e lentos de coração", porque
não acreditaram nos profetas. Por isso, abriu as suas mentes às
Escrituras e os seus olhos ao partir do pão. O mistério da vocação e do
discernimento é uma obra-prima do Espírito Santo, que exige a
colaboração do candidato ao sacerdócio, frisou o Pontífice.
Missão
Por fim, o Santo Padre refletiu sobre uma quarta palavra-chave para a
vida sacerdotal: a missão, uma dimensão muito valorizada durante o
Sínodo dos Jovens: ir juntos ao encontro dos outros. E o Papa acrescentou:
“Os dois discípulos de Emaús voltaram juntos para Jerusalém e,
sobretudo, uniram-se à comunidade apostólica, que, pelo poder do
Espírito, tornou-ss missionária. Isto é muito importante, porque muitas
vezes somos tentados a ser bons missionários por conta própria. Também
os seminaristas podem cair nesta tentação. Inumeras vezes a nossa
impostação tem sido individual, mais do que colegial e fraterna”.
VN
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