24 novembro, 2018

Papa: mistério da vocação e do discernimento, obra-prima do Espírito Santo

 
 
No discurso preparado - mas não pronunciado - aos 40 seminaristas de Agrigento, Itália, o Papa Francisco resumiu em quatro palavras o ícone do Evangelho dos discípulos de Emaús: caminho; escuta, discernimento e missão.
 
Manuel Tavares - Cidade do Vaticano

O Papa Francisco recebeu na manhã deste sábado (24/11) na Sala do Consistório, no Vaticano,  40 seminaristas da Arquidiocese de o Papa deixou de lado o seu discurso preparado e falou de improviso.

No texto que tinha preparado, o Papa propôs quatro pontos de reflexão, pessoal e comunitária, a partir do recente Sínodo dos Bispos para os Jovens: caminho, escuta, discernimento e missão. 

Caminho

Referindo-se ao ícone bíblico, o Evangelho dos discípulos de Emaús, que guiou os trabalhos sinodais e pode continuar a inspirar o caminho dos candidatos ao sacerdócio. Logo, a primeira palavra-chave, apresentada por Francisco aos seminaristas, foi precisamente o caminho:

Jesus Ressuscitado encontra-nos no caminho, que, ao mesmo tempo, é a realidade na qual cada um de nós é chamado a viver; este percurso interior, o caminho da fé e da esperança, proporciona momentos de luz, mas também momentos de escuridão. Neste caminho, o Senhor encontra-nos, ouve-nos e fala-nos”. 

Escuta

A seguir, o Santo Padre passou à segunda palavra chave: a escuta. O nosso Deus é a Palavra e, ao mesmo tempo, é o Silêncio que escuta. Jesus é a Palavra que se faz escuta e acolhida da nossa condição humana:

Quando Jesus aparece ao lado dos dois discípulos de Emaús, caminha com eles, ouve-os e estimula-os a falar do que sentem dentro de si, as suas esperanças e decepções. Isto significa que, na sua vida no seminário, o diálogo com o Senhor deve ocupar o primeiro lugar, um diálogo feito de escuta mútua: Ele ouv-me e eu ouç-o, sem nenhuma ficção e nenhuma máscara”. 

Discernimento

Esta escuta do coração, na oração, disse Francisco, ensina-nos a sermos pessoas capazes de ouvir os outros e a tornar-nos verdadeiros sacerdotes, que oferecem o serviço da escuta; educa-nos a ser, cada vez mais, Igreja que escuta, uma comunidade que sabe ouvir. Enfim, como Jesus, a Igreja é enviada ao mundo para ouvir o clamor da humanidade, o seu grito silencioso, às vezes, reprimido, sufocado. Aqui, o Papa apresentou a terceira palavra-chave da sua reflexão: o discernimento:

O seminário é lugar e tempo de discernimento. Mas, isto requer acompanhamento, como Jesus fez com os dois discípulos de Emaús e com os outros discípulos, sobretudo com os Doze. Ele acompanhou-os com paciência e sabedoria; educou-os a segui-lo na verdade, dissipando as falsas expetativas dos seus corações. E fez tudo com respeito e decisão, mas também como um bom amigo e bom médico, que, às vezes, precisa de usar o bisturi”.

Tantos problemas que surgem na vida de um sacerdote, afirmou Francisco, são motivados pela falta de discernimento nos anos de seminário. Jesus não finge com os discípulos de Emaús, não é evasivo, não contorna os seus problemas, mas chama-os "insensatos e lentos de coração", porque não acreditaram nos profetas. Por isso, abriu as suas mentes às Escrituras e os seus olhos ao partir do pão. O mistério da vocação e do discernimento é uma obra-prima do Espírito Santo, que exige a colaboração do candidato ao sacerdócio, frisou o Pontífice. 

Missão

Por fim, o Santo Padre refletiu sobre uma quarta palavra-chave para a vida sacerdotal: a missão, uma dimensão muito valorizada durante o Sínodo dos Jovens: ir juntos ao encontro dos outros. E o Papa acrescentou:

Os dois discípulos de Emaús voltaram juntos para Jerusalém e, sobretudo, uniram-se à comunidade apostólica, que, pelo poder do Espírito, tornou-ss missionária. Isto é muito importante, porque muitas vezes somos tentados a ser bons missionários por conta própria. Também os seminaristas podem cair nesta tentação. Inumeras vezes a nossa impostação tem sido individual, mais do que colegial e fraterna”.

VN

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