Levanto os olhos e vejo o
deserto à minha frente.
Descalço-me porque quero
sentir os grãos de areia nos meus pés de peregrino.
São tantos como os meus
pecados!
Peregrino no deserto!
Peregrino à procura de mim, ou
melhor à procura de Deus em mim.
Ao fundo vejo-O sentado numa
pedra, em profunda meditação.
O diabo ronda-O, solícito,
feito de palavras mansas, a querer enganar a Verdade.
Mas a Verdade não se engana,
nem é enganada, permanece, porque toda ela é Amor.
Aproximo-me.
Quero ver, sentir aquela
“luta”, que eu acredito e sei, será perdida pelo inimigo.
Acho que Jesus, (é Ele, sim,
que eu vejo ao longe), até olha o inimigo com bondade, com misericórdia, mas
ele insiste em querer enganar, no fundo em querer perder-se, cada vez mais.
Com um simples gesto, Jesus
afasta-o, porque a hora passou e o inimigo já não tem argumentos, foi
derrotado.
Fico quieto, imóvel, quase sem
respirar, porque agora aquele que nos quer fazer perder, volta-se para mim e
aproxima-se envolto numa beleza incrível.
(Ah, quisera eu que ele fosse
horroroso como o pintam!)
Sinto-me vacilar, sei-me
fraco, pecador, frágil e temo, temo muito.
Olho mais ao longe, para
Jesus, e digo-Lhe com o meu olhar: Senhor, salva-me!
Ouço então a Sua voz dentro de
mim, envolta num amor tal, que a beleza do tentador fica ofuscada por este
amor.
Meu filho, estes são os dias
da penitência, diz-me Jesus ao coração.
Não tenhas medo, Eu estou
contigo.
Ouve o tentador, percebe bem
em que falhas, em que te sentes mais fraco, em que sentes que já caíste e podes
voltar a cair, e depois, agarra-te bem à minha mão, entrega-me o teu coração, e
deixa que Eu faça tudo novo em ti.
O inimigo afasta-se, mas vai
olhando para trás, como que dizendo: Vou agora mas hei-de voltar!
E Jesus diz sorridente:
Enquanto estiveres comigo, ele voltará sempre, mas sempre será derrotado,
porque o amor prevalece e é o meu amor maior do que todo o mal.
Baixo a cabeça, sorrio na
alegria de Deus, e digo a Jesus cheio de amor: Obrigado, Senhor, por esta quaresma
que nos permites viver!
Marinha Grande, 20 de
Fevereiro de 2018
Joaquim Mexia Alves
Texto publicado no Grãos de Areia, Boletim mensal da Paróquia da Marinha Grande
Texto publicado no Grãos de Areia, Boletim mensal da Paróquia da Marinha Grande
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