Tinham combinado encontrar-se
os três amigos, pois já não se viam há algum tempo.
Quando Tomé chegou perto do
local do encontro, reparou ainda à distância, que os seus dois amigos estavam
envolvidos numa conversa acesa, sentados a uma mesa da esplanada do café, mas
sobretudo reparou na alegria e no entusiasmo com que falavam e se olhavam.
Não se lembrava nada deles
serem assim, (aliás o Pedro era até um pouco taciturno, embora o João fosse
mais aberto e simpático), por isso perguntava-se o que teria acontecido na vida
daqueles dois para todo aquele entusiasmo, para toda aquela demonstração de
vida?
Aproximou-se deles,
abraçaram-se como velhos amigos que eram e perguntou num repente:
O que é vos aconteceu, que me
parecem diferentes, mais animados, mais vivos, se assim posso dizer?
Eles olharam para ele e
disseram a sorrir: «Vimos o Senhor!»
Olhou para eles, espantado, e
perguntou: Referem-se ao Senhor, Senhor? Àquele que nos foi ensinado na catequese
e há muito tempo que não pensamos nEle?
Eles responderam com um
sorriso provocador: Sim, Esse mesmo!
Estão a gozar comigo ou quê?
Há que tempos que não ligamos a essas coisas! – respondeu ele.
Responderam-lhe com uma
convicção que não lhes conhecia antes: Isso é verdade, mas há uns tempos atrás,
por causa de uma doença de um amigo nosso que estava a ficar cego, lembramo-nos
dEle, com outras pessoas começámos a rezar, e com tudo isso aproximamo-nos dEle
e Ele de nós e tudo mudou nas nossas vidas.
Tomé insistiu: E o que é que
isso tem a ver com essa frase «Vimos o Senhor!»?
Muito simples - responderam
eles - é que esse amigo nosso dois dias depois de receber os últimos exames que
tinha feito à vista, soube que ia ficar cego no espaço de pouco tempo. Rezámos então
mais insistentemente, e um dia, depois de rezarmos por ele com mais outras
pessoas pedindo a sua cura se fosse da vontade dEle, ele sentiu uma paz imensa
e um calor estranho nos olhos. Quando fez novos exames já nada tinha de mal! Já
lá vão vários meses e ele continua a ver cada vez melhor! Ora não nos digas que
isto não é «ver o Senhor!»
Olhou para eles, incrédulo, e
disse-lhes: Pois eu não acredito nisso e só se vir com os meus olhos acontecer
uma cura dessas e puder atestar com exames que alguém ficou curado à minha
frente, é que acredito que Ele está connosco.
Conversaram mais um pouco, mas
entretanto Tomé teve que se ir embora, pois nesse dia recebia os exames médicos
que a sua filha tinha feito, e que muito o preocupavam.
Quando se afastava, ainda
ouviu Pedro e João dizerem-lhe para rezar pela sua filha e que acreditasse que
Ele estava mesmo presente nas vidas de cada um.
Em casa as notícias não podiam
ser pior, pois os exames davam como certo que o mal tinha alastrado e o corpo
da sua querida filha estava já todo minado por aquela terrível doença.
A hipótese de sobrevivência
era nula e o desfecho final deveria acontecer muito rapidamente.
Tomé sentiu-se desfalecer e
sem saber o que fazer! Sentiu-se imensamente só!
Passado um momento lembrou-se
da última frase dos seus amigos Pedro e João e decidiu voltar-se para Ele,
rezando e pedindo a cura da sua filha.
Nesses dias mais próximos uma
estranha calma tomou conta dele, mas, embora cada vez rezasse mais e mais
intensamente a sua filha piorava cada vez mais.
Um dia ao fim da tarde, junto
à cama da sua filha no hospital, veio de repente ao seu pensamento, ao seu
coração, uma vontade incrível de ir a uma Missa.
Sabia que havia Missa na
capela do hospital nesse fim de tarde e levantando-se foi para a capela.
Por um lado achava tudo aquilo
ridículo, sem grande sentido, mas por outro lado sentia que ali devia estar e
por isso mesmo concentrou-se na Missa e nas orações que ia fazendo no seu
coração.
Quando chegou a altura da
Comunhão, e não podendo comungar, ajoelhou-se e rezou intensamente, pedindo a
Ele que se fizesse sentir na sua vida e, sobretudo, pedindo-Lhe a cura da sua
filha.
Sentiu então uma enorme
serenidade e admirado com o que estava a sentir no seu coração, ouviu-se dizer:
Seja feita a Tua vontade, Senhor!
Ao chegar ao quarto percebeu
que a sua filha estava diferente, e ela própria lhe disse que se sentia muito
melhor, que um estranho calor tinha percorrido o seu corpo e ela se sentia
agora muito bem.
Chamou o médico e pediu,
insistiu, reclamou por novos exames que foram feitos de seguida.
Esperou um tempo interminável,
de mão dada com a filha, que alguém lhes viesse dizer os resultados dos exames
que tão ansiosamente esperavam.
Passadas largas horas, o
médico entrou no quarto e olhou para os dois com um olhar estranho, um olhar de
admiração, e disse-lhes: Os exames estão todos bem! A doença desapareceu e eu
não sei explicar porquê!
Tomé olhou o médico, olhou a
filha, e apenas pode dizer: «Meu Senhor e meu Deus!»
Marinha Grande, 5 de Abril de
2016
Joaquim Mexia Alves
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