(RV) A tragédia
humanitária que os imigrantes vivem requer "uma resposta de
solidariedade, compaixão, generosidade, e um imediato e eficaz empenho
de recursos", porque a "protecção de vidas humanas é uma prioridade". É o
que se afirma na Declaração Conjunta assinada em Lesbos pelo Papa
Francisco, o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I e o arcebispo ortodoxo de
Atenas e de toda a Grécia Ieronymos, no fim do seu encontro com os
refugiados na ilha grega. Uma "crise humanitária colossal" como tal o
mundo nunca viu desde os escombros da Segunda Guerra Mundial. E o mundo
deve mover-se com "solidariedade imediata", sobretudo removendo os
motivos que a provocam – guerras e violências várias - que desencadearam
este gigantesco e incontrolável movimento de massa de imigrantes e
refugiados.
Já a seguir o texto integral da Declaração conjunta:
Nós, Papa Francisco, Patriarca Ecuménico Bartolomeu e Arcebispo
Hieronymos de Atenas e de toda a Grécia, reunimo-nos na Ilha grega de
Lesbos para manifestar a nossa profunda preocupação pela situação
trágica de numerosos refugiados, migrantes e requerentes asilo que têm
chegado à Europa fugindo de situações de conflito e, em muitos casos,
ameaças diárias à sua sobrevivência. A opinião mundial não pode ignorar a
crise humanitária colossal, criada pelo incremento de violência e
conflitos armados, a perseguição e deslocamento de minorias religiosas e
étnicas e o desenraizamento de famílias dos seus lares, violando a sua
dignidade humana, os seus direitos humanos fundamentais e liberdades.
A tragédia da migração e deslocamento
forçados afeta milhões de pessoas e é, fundamentalmente, uma crise da
humanidade, clamando por uma resposta feita de solidariedade, compaixão,
generosidade e um compromisso económico imediato e prático. Daqui, de
Lesbos, fazemos apelo à comunidade internacional para responder com
coragem a esta maciça crise humanitária e às causas que lhe estão
subjacentes, por meio de iniciativas diplomáticas, políticas e
caritativas e através de esforços de cooperação simultaneamente no Médio
Oriente e na Europa.
Como líderes das nossas respetivas
Igrejas, estamos unidos no nosso desejo de paz e na nossa
disponibilidade para promover a resolução de conflitos através do
diálogo e da reconciliação. Enquanto reconhecemos os esforços que já se
vão fazendo para fornecer ajuda e assistência aos refugiados, migrantes e
requerentes asilo, apelamos a todos os líderes políticos para que usem
todos os meios possíveis a fim de garantir que os indivíduos e as
comunidades, incluindo os cristãos, permaneçam nos seus países de origem
e gozem do direito fundamental de viver em paz e segurança. Há
necessidade urgente de um consenso internacional mais amplo e um
programa de assistência para sustentar o Estado de direito, defender os
direitos humanos fundamentais nesta situação insustentável, proteger
minorias, combater o tráfico humano e o contrabando, eliminar rotas
inseguras como as do Egeu e de todo o Mediterrâneo, e desenvolver
procedimentos seguros de reinstalação. Deste modo seremos capazes de
ajudar os países diretamente envolvidos na resposta às necessidades de
inúmeros irmãos e irmãs nossos que sofrem. De modo particular, afirmamos
a nossa solidariedade ao povo da Grécia que, não obstante as suas
próprias dificuldades econômicas, tem respondido generosamente a esta
crise.
Juntos, solenemente, imploramos o fim
da guerra e da violência no Médio Oriente, uma paz justa e duradoura e o
regresso honroso daqueles que foram forçados a abandonar as suas casas.
Pedimos às comunidades religiosas que aumentem os seus esforços para
receber, assistir e proteger os refugiados de todas as crenças, e que os
serviços religiosos e civis de assistência se empenhem por coordenar os
seus esforços. Enquanto perdurar a necessidade, pedimos a todos os
países que alarguem o asilo temporário, ofereçam o estatuto de refugiado
a quantos se apresentarem idóneos, ampliem os seus esforços de socorro e
colaborem com todos os homens e mulheres de boa vontade para um rápido
fim dos conflitos em curso.
Hoje, a Europa enfrenta uma das suas
crises humanitárias mais sérias desde o fim da II Guerra Mundial. Para
vencer este grave desafio, fazemos apelo a todos os seguidores de Cristo
para que tenham em mente as palavras do Senhor, segundo as quais
seremos um dia julgados: «Porque tive fome e destes-me de comer, tive
sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e
destes-me que vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes
ter comigo. (…) Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um
destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes» (Mt 25,
35-36.40).
Da nossa parte, em obediência à
vontade de nosso Senhor Jesus Cristo, estamos firme e sinceramente
decididos a intensificar os nossos esforços para promover a plena
unidade de todos os cristãos. Reafirmamos a nossa convicção de que «a
reconciliação [entre os cristãos] envolve a promoção da justiça social
dentro e entre todos os povos (...). Juntos, faremos a nossa parte para
oferecer aos migrantes, refugiados e requerentes asilo uma receção
humana na Europa» (Charta œcumenica, 2001). O nosso objetivo, ao
defender os direitos humanos fundamentais dos refugiados, requerentes
asilo e migrantes e de tantas pessoas marginalizadas nas nossas
sociedades, é cumprir a missão de serviço das Igrejas ao mundo.
O nosso encontro de hoje pretende dar
coragem e esperança a quantos procuram refúgio e a todos aqueles que os
acolhem e assistem. Instamos a comunidade internacional a fazer da
proteção das vidas humanas uma prioridade e a apoiar, em todos os
níveis, políticas inclusivas que se estendam a todas as comunidades
religiosas. A terrível situação de todas as pessoas afetadas pela atual
crise humanitária, incluindo muitos dos nossos irmãos e irmãs cristãos,
clama pela nossa oração constante.
Lesbos, 16 de abril de 2016.
Hieronymos II
Francisco Bartolomeu I
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