(RV) Foi
apresentada na manhã desta sexta-feira (08/04), na Sala de Imprensa do
Vaticano a Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Francisco "Amoris
laetitia", sobre o amor na família, um texto redigido no final dos dois
sínodos sobre a família em 2014 e 2015.
Dois Sínodos para caminhar juntos
Caminhando juntos: o significado da palavra Sínodo dá realmente ideia
daquilo que tem sido o longo, emocionante, e por vezes fadigoso
itinerário que levou à elaboração da Exortação Amoris Laetitia. Não um,
mas dois sínodos quis o Papa sobre a família, "luz nas trevas do mundo".
O primeiro, extraordinário, realizado no Vaticano de 5 a 19 de outubro
de 2014, sobre "Os desafios pastorais sobre a família no contexto da
evangelização", o segundo, ordinário, um ano depois, de 4 a 25 de
Outubro de 2015, sobre "A vocação e a missão da família na Igreja e no
mundo contemporâneo": ao todo cerca de 5 semanas que envolveram, para
além de bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, e casais na
qualidade de peritos ou auditores.
Parresia
Precedidas por questionários difundidos nas paróquias das dioceses de
todo o mundo, ambas as assembleias dos bispos foram expressão da
solicitude da Igreja em relação à família e o sacramento do matrimónio,
cuja verdade fundamental de união indissolúvel entre homem e mulher -
disse o Santo Padre - nunca foi posta em dúvida. Francisco pediu
imediatamente aos Padres, vindos de todos os continentes, para falarem
com "parresia" e olharem para as mudanças nas condições culturais de uma
sociedade em constante mutação com "zelo pastoral".
Famílias feridas
Se a atenção dos media foi excessivamente dirigida à comunhão para
divorciados em segundas núpcias, o tema foi, na verdade, objecto de
intenso debate, de modo que os parágrafos mais discutidos do último
Relatório Final foram os relacionados com as "situações difíceis" e
"famílias feridas" para as quais a palavra-chave foi" discernimento".
Mas o olhar do sínodo abraçou muito mais: da beleza e a força do
testemunho de muitas famílias no mundo, à valorização da mulher; da
importância dos avós à tutela das crianças e dos doentes; das ameaças do
fanatismo, individualismo e do gender, à insegurança no trabalho. Da
tutela da vida desde a concepção até à morte natural; do drama dos
migrantes e refugiados, ao pedido aos governos de políticas familiares.
As sessões também reiteraram o convite do Catecismo a não discriminar os
homossexuais, especificando que o matrimónio é apenas entre um homem e
uma mulher. E ainda os temas relacionadas com a pastoral: o
acompanhamento dos noivos, a exigência de uma linguagem renovada para
anunciar o Evangelho, a Igreja como comunidade de famílias.
O Evangelho não é pedra morta para lançar contra os em outros
Nem todos os desafios encontraram uma solução - observou o Papa - mas
eles foram colocados sob a luz da fé, "enfrentadas sem medo, sem
esconder a cabeça na areia". O Sínodo, enfim, foi uma prova da
vivacidade da Igreja Católica - disse Francisco - "não tem medo de se
sujar as mãos discutindo animadamente". Isto significa termos caminhado
em conjunto, de acordo com o Santo Padre:
Significa ter testemunhado a todos que o Evangelho continua a ser
para a Igreja a fonte viva, de eterna novidade, contra aqueles que
querem doutriná-lo em pedras mortas para lançar contra os outros.
Significa também ter despojado os corações fechados que muitas vezes se
escondem até mesmo por trás dos ensinamentos da Igreja ou por trás das
boas intenções, para se sentarem na cátedra de Moisés e julgar, por
vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as
famílias feridas”.
Deus só quer que todos os homens sejam salvos
Os Sínodos colocaram-se em continuidade com o Jubileu de misericórdia:
"Sem nunca cair no perigo do relativismo, procurámos abraçar plena e
corajosamente a bondade e a misericórdia de Deus, que supera os nossos
cálculos humanos, e que não quer outra coisa se não que todos os homens
sejam salvos”.
Verdadeiro defensor da doutrina não é quem defende a letra, mas o espírito
Muitas as tentações ao longo deste caminho em torno da relação entre
doutrina e pastoral. O Papa mencionou aquela dos tradicionalistas, ou
seja, de "querer fechar-se na letra, na lei, sem se deixar surpreender
por Deus", mas também a dos progressistas e liberais, "que em nome de
uma misericórdia enganosa, ligam as feridas sem primeiro curá-las":
"A experiência do Sínodo fez-nos também compreender melhor que os
verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o
espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade
do amor de Deus e do seu perdão. Isto não significa de forma alguma
diminuir a importância das fórmulas - são necessários - a importância
das Leis e Mandamentos divinos; mas exaltar a grandeza do verdadeiro
Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos, mas unicamente
segundo a generosidade ilimitada da sua misericórdia”.
A Igreja tem as portas abertas
Os Sínodos sobre a família foram expressão de uma Igreja que, para
utilizar mais uma vez as palavras do Papa, "não olha para a humanidade a
partir de um castelo de vidro para julgar as pessoas", mas arregaça as
mangas para derramar óleo sobre as feridas dos homens e indicar-lhes a
verdade:
"Esta é a Igreja: a verdadeira esposa de Cristo, que procura ser fiel
ao seu esposo e à sua doutrina. É a Igreja que não tem medo de comer e
beber com as prostitutas e os publicanos. A Igreja que tem as portas
abertas de par em par para receber os necessitados, os arrependidos, e
não somente os justos ou aqueles que pensam de ser perfeitos”. (BS)
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