08 abril, 2016

Família: dois sínodos até à Exortação "Amoris Laetitia"




(RV) Foi apresentada na manhã desta sexta-feira (08/04), na Sala de Imprensa do Vaticano a Exortação Apostólica pós-sinodal do Papa Francisco "Amoris laetitia", sobre o amor na família, um texto redigido no final dos dois sínodos sobre a família em 2014 e 2015.

Dois Sínodos para caminhar juntos

Caminhando juntos: o significado da palavra Sínodo dá realmente ideia daquilo que tem sido o longo, emocionante, e por vezes fadigoso itinerário que levou à elaboração da Exortação Amoris Laetitia. Não um, mas dois sínodos quis o Papa sobre a família, "luz nas trevas do mundo". O primeiro, extraordinário, realizado no Vaticano de 5 a 19 de outubro de 2014, sobre "Os desafios pastorais sobre a família no contexto da evangelização", o segundo, ordinário, um ano depois, de 4 a 25 de Outubro de 2015, sobre "A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo": ao todo cerca de 5 semanas que envolveram, para além de bispos e sacerdotes, religiosos e religiosas, e casais na qualidade de peritos ou auditores.

Parresia

Precedidas por questionários difundidos nas paróquias das dioceses de todo o mundo, ambas as assembleias dos bispos foram  expressão da solicitude da Igreja em relação à família e o sacramento do matrimónio, cuja verdade fundamental  de união indissolúvel entre homem e mulher - disse o Santo Padre - nunca foi posta em dúvida. Francisco pediu imediatamente aos Padres, vindos de todos os continentes, para falarem com "parresia" e olharem para as mudanças nas condições culturais de uma sociedade em constante mutação com "zelo pastoral".

Famílias feridas

Se a atenção dos media foi excessivamente dirigida à comunhão para divorciados em segundas núpcias, o tema foi, na verdade, objecto de intenso debate, de modo que os parágrafos mais discutidos do último Relatório Final foram os relacionados com as "situações difíceis" e "famílias feridas" para as quais a palavra-chave foi" discernimento". Mas o olhar do sínodo abraçou muito mais: da beleza e a força do testemunho de muitas famílias no mundo, à valorização da mulher; da importância dos avós à tutela das crianças e dos doentes; das ameaças do fanatismo, individualismo e do gender, à  insegurança no trabalho. Da tutela da vida desde a concepção até à morte natural; do drama dos migrantes e refugiados, ao pedido aos governos de políticas familiares. As sessões também reiteraram o convite do Catecismo a não discriminar os homossexuais, especificando que o matrimónio é apenas entre um homem e uma mulher. E ainda os temas relacionadas com a pastoral: o acompanhamento dos noivos, a exigência de uma linguagem renovada para anunciar o Evangelho, a Igreja como comunidade de famílias.

O Evangelho não é pedra morta para lançar contra os em outros

Nem todos os desafios encontraram uma solução - observou o Papa - mas eles foram colocados sob a luz da fé, "enfrentadas  sem medo, sem esconder a cabeça na areia". O Sínodo, enfim, foi uma prova da vivacidade da Igreja Católica - disse Francisco - "não tem medo de se sujar as mãos discutindo animadamente". Isto significa termos caminhado em conjunto, de acordo com o Santo Padre:

Significa ter testemunhado a todos que o Evangelho continua a ser para a Igreja a fonte viva, de eterna novidade, contra aqueles que querem doutriná-lo em pedras mortas para lançar contra os outros. Significa também ter despojado os corações fechados que muitas vezes se escondem até mesmo por trás dos ensinamentos da Igreja ou por trás das boas intenções, para se sentarem na cátedra de Moisés e julgar, por vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas”.

Deus só quer que todos os homens sejam salvos
 
Os Sínodos colocaram-se em continuidade com o Jubileu de misericórdia:
"Sem nunca cair no perigo do relativismo, procurámos abraçar plena e corajosamente a bondade e a misericórdia de Deus, que supera os nossos cálculos humanos, e que não quer outra coisa se não que todos os homens sejam salvos”.

Verdadeiro defensor da doutrina não é quem defende a letra, mas o espírito

Muitas as tentações ao longo deste caminho em torno da relação entre doutrina e pastoral. O Papa mencionou aquela dos tradicionalistas, ou seja, de "querer fechar-se na letra, na lei, sem se deixar surpreender por Deus", mas também a dos progressistas e liberais, "que em nome de uma misericórdia enganosa, ligam as feridas sem primeiro curá-las":

"A experiência do Sínodo fez-nos também compreender melhor que os verdadeiros defensores da doutrina não são os que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o homem; não as fórmulas, mas a gratuidade do amor de Deus e do seu perdão. Isto não significa de forma alguma diminuir a importância das fórmulas - são necessários - a importância das Leis e Mandamentos divinos; mas exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos méritos, mas unicamente segundo a generosidade ilimitada da sua misericórdia”.

A Igreja tem as portas abertas

Os Sínodos sobre a família foram  expressão de uma Igreja que, para utilizar mais uma vez as palavras do Papa, "não olha para a humanidade a partir de um castelo de vidro para julgar as pessoas", mas arregaça as mangas para derramar óleo sobre as feridas dos homens e indicar-lhes a verdade:

"Esta é a Igreja: a verdadeira esposa de Cristo, que procura ser fiel ao seu esposo e à sua doutrina. É a Igreja que não tem medo de comer e beber com as prostitutas e os publicanos. A Igreja que tem as portas abertas de par em par para receber os necessitados, os arrependidos, e não somente os justos ou aqueles que pensam de ser perfeitos”. (BS)

Sem comentários:

Enviar um comentário