10 novembro, 2015

O Papa em Prato: sim ao trabalho digno, não à exploração



(RV) A cidade ‘mais chinesa’ da Itália, e uma das mais multiculturais da Europa, Prato, recebeu o Papa nesta terça-feira (10/11) com sol e muita gente nas ruas. Cerca de 30 mil vieram de localidades vizinhas e desde às 6h, a cidade estava tomada. O helicóptero proveniente do Vaticano aterrou às 7h45 no estádio da cidade e com o papamóvel, Francisco chegou ao adro, de onde se dirigiu à multidão.

A cidade de Prato – como explica o bispo D. Agostinelli – tem 191 mil habitantes, dos quais 34.600 (18,12%) são estrangeiros. A maior parte, 16 mil, são chineses; e outras grandes comunidades são formadas por albaneses, romenos, paquistaneses e marroquinos. A indústria têxtil é o motor desta sociedade.

Antes de proferir o seu discurso, o Papa entrou na Basílica para venerar o ‘Santo Cinto’, relíquia que, de acordo com uma lenda medieval, teria sido lançada do céu pela Virgem Maria a São Tomé durante a Assunção. O Cinto da Virgem é um pedaço de tecido de lã verde, com cerca de 90 centímetros, tendo nas extremidades pequenas cordas para amarrá-lo. A relíquia é exposta à veneração pública cinco vezes por ano: na Páscoa, nos dias 1º de maio, 15 de agosto, 8 de dezembro e no Natal. Nessas ocasiões, ela é colocada no púlpito externo, à direita da Catedral, local de onde falou o Papa.

Este ‘sinal de bênção’ para a cidade sugeriu a Francisco a inspiração para o seu primeiro discurso. O primeiro pensamento leva ao caminho de salvação empreendido pelo povo de Israel, da escravidão do Egipto à terra prometida. Antes de libertá-lo, o Senhor pediu para celebrar a ceia pascal e comê-la ‘com os rins cingidos’: cerrar as vestes significa estar prontos, preparar-se para partir, para colocar-se em caminho.

“É este o convite do Senhor ainda hoje, mais do que nunca: a não ficarmos fechados na indiferença, mas a nos abrirmos, a sentirmo-nos chamados para deixar as nossas coisas e ir até o outro, a partilhar a alegria de encontrar o Senhor e a fadiga de caminhar na sua estrada”.

Prosseguindo, o Papa encorajou os presentes a arriscarem, a aproximarem-se dos homens e mulheres do nosso tempo, a tomar a iniciativa e envolverem-se, sem medo, pois não existe fé sem riscos. E neste sentido, agradeceu a cidadania pelos esforços desta comunidade na integração, contrastando a cultura da indiferença e do descarte. Elogiou ainda as iniciativas de inclusão dos mais frágeis.

O segundo pensamento do Papa se inspirou no convite feito por São Paulo a vestirmos uma couraça ‘particular’, a de Deus, que combate os espíritos do mal cinge com a verdade:

“Não se pode fundar nada de bom sobre as tramas da mentira e da falta de transparência. Procurar e optar sempre pela verdade não é fácil; é uma decisão vital que marca profundamente a existência de cada um e da sociedade, para que seja mais justa e honesta. A sacralidade de todo ser humano requer, para cada um, respeito, acolhimento e um trabalho digno”.

Fora do texto, o Papa recordou os 7 operários chineses mortos há dois anos num incêndio na zona industrial de Prato. Moravam dentro da tenda na qual trabalhavam, num dormitório feito de reboco: uma tragédia da exploração – disse - que representa condições de vida desumanas.

“A vida de toda comunidade exige que se combatam, até ao fim, o ‘cancro’ da corrupção e o veneno da ilegalidade. Dentro de nós e junto aos outros, não nos cansemos de lutar pela verdade!”, prosseguiu.

Terminando, Francisco convidou os jovens a não cederem ao pessimismo e à acomodação, agradecendo-os pelas orações. “Maria é quem transformou o sábado da desilusão no alvorecer da ressurreição. Quem se sente cansado e oprimido pelas circunstâncias da vida, confie na nossa Mãe que está perto de nós e nos consola”.

Um ‘ciao Papa’ escrito em chinês saudou o Papa enquanto o pároco da comunidade, Pe. Roberto, doou ao Pontífice dois quadros em estilo chinês mostrando a Virgem Maria e o Espírito Santo. E a Praça continuou a aplaudir e gritar “Francesco, Francesco”. (BS)

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