Andressa Collet – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco visitou o Lar do Bom Samaritano neste domingo (27/01), por ocasião da sua participação na Jornada Mundial da Juventude, no Panamá. Ao encontrar os doentes do local e de outros centros de assistência, mas também diretores, colaboradores e agentes pastorais, o Pontífice confessou “o desejo ardente” do encontro na casa-família para se renovar a esperança.
Lembrando um dos testemunhos lidos pelo Pontífice antes da visita que
dizia “aqui nasci de novo”, o Papa afirmou que esse tipo de espaço é
“sinal da vida nova que o Senhor nos quer dar” e são neles que “a
Igreja e a fé nascem e se renovam continuamente por meio da caridade”.
O rosto do próximo
O Papa Francisco, então, fez referência à parábola do Bom Samaritano para dar o exemplo do “nosso próximo”, um “rosto que incomoda maravilhosamente a vida”:
“O próximo é sobretudo um rosto que encontramos ao longo do
caminho e pelo qual nos deixamos mover e comover: mover dos nossos
planos e prioridades e comover intimamente por aquilo que vive aquela
pessoa, para lhe dar lugar e espaço na nossa caminhada. [...] O bom
Samaritano, como todas as vossas casas, mostram-nos que o próximo é,
antes de tudo, uma pessoa, alguém com um rosto concreto e real, e não
qualquer coisa a deixar para trás ou ignorar, seja qual for a sua
situação. É um rosto que revela a nossa humanidade tantas vezes
atribulada e ignorada.”
Criando comunidades
O Papa Francisco disse que visitar o Lar é “tocar o rosto silencioso e materno da Igreja, que é capaz de profetizar e criar casa, criar comunidade”. E, assim, explicou:
E as casas, lembrou o Pontífice, precisam sempre da colaboração de
todos, o que implica também “ter paciência, aprender a perdoar-nos;
aprender em cada dia, a recomeçar”. Então o Papa questionou e respondeu de
seguida: “quantas vezes temos de perdoar e recomeçar? Setenta vezes
sete, todas as vezes que for necessário. Criar relações fortes requer a
confiança, que se alimenta diariamente de paciência e perdão”.
Angelus: coragem para se doar
O Papa Francisco, depois de agradecer o trabalho de todos para manter viva e concretizar “o milagre de experimentar que, aqui, se nasce de novo”, rezou a oração mariana do Angelus. À Virgem Maria, como “Boa Samaritana”, o Pontífice pediu “que nos ensine a estar atentos para descobrir em cada dia, quem é o nosso próximo e nos encoraje a ir prontamente ao seu encontro e dar-lhe uma casa, um abraço onde possa encontrar proteção e amor de irmãos”.
Angelus: coragem para se doar
O Papa Francisco, depois de agradecer o trabalho de todos para manter viva e concretizar “o milagre de experimentar que, aqui, se nasce de novo”, rezou a oração mariana do Angelus. À Virgem Maria, como “Boa Samaritana”, o Pontífice pediu “que nos ensine a estar atentos para descobrir em cada dia, quem é o nosso próximo e nos encoraje a ir prontamente ao seu encontro e dar-lhe uma casa, um abraço onde possa encontrar proteção e amor de irmãos”.
Texto integral do discurso do Papa na Casa-família
"O Bom pastor"
VISITA APOSTÓLICA DO SANTO PADRE AO PANAMÁ
DISCURSO
«Angelus»
(Casa-família «O Bom Samaritano», 27 de janeiro de 2019)
Queridos jovens, Prezados diretores, colaboradores e agentes pastorais, Amigas e amigos!
Obrigado, Padre Domingo, pelas palavras que me dirigiu em nome de todos. Desejei ardentemente este encontro convosco: vós que viveis aqui na Casa-família «O Bom Samaritano» e também os outros jovens presentes vindos do Centro «João Paulo II», da Casa-família «São José» das Irmãs da Caridade e da «Casa do Amor» da Congregação dos Irmãos de Jesus Kkottonngae. Para mim, estar convosco é motivo para renovar a esperança. Obrigado porque o tornastes possível!
Ao preparar este encontro, pude ler o testemunho dum membro desta
casa que me tocou o coração, porque dizia: «Aqui nasci de novo». Esta
casa e todos os centros que representais são sinal da vida nova que o
Senhor nos quer dar. É fácil confirmar a fé dalguns irmãos quando a
vemos em ação ungindo feridas, curando a esperança e encorajando a crer.
Aqui não nascem de novo apenas aqueles que poderíamos designar como
«primeiros beneficiários» das vossas casas; aqui a Igreja e a fé nascem e
se renovam continuamente por meio da caridade.
Começamos a nascer de novo, quando o Espírito Santo nos dá
olhos para ver os outros – como nos dizia o Padre Domingo – não apenas
como os nossos vizinhos (o que é já tanto), mas como o nosso próximo.
O Evangelho refere que uma vez perguntaram a Jesus: «Quem é meu próximo?» (Lc
10, 29). Não respondeu com teorias, nem fez um discurso lindo e
elevado, mas usou uma parábola – a do Bom Samaritano – um exemplo
concreto de vida real que todos vós conheceis e viveis muito bem. O
próximo é sobretudo um rosto que encontramos ao longo do caminho e
pelo qual nos deixamos mover e comover: mover dos nossos planos e
prioridades e comover intimamente por aquilo que vive aquela pessoa,
para lhe dar lugar e espaço na nossa caminhada. Assim o entendeu o bom
Samaritano à vista daquele homem que fora deixado meio morto, à beira
da estrada, não só por alguns bandidos, mas também pela indiferença de
um sacerdote e um levita que não tiveram a coragem de o ajudar; pois a
indiferença também fere e mata! Uns por umas míseras moedas, outros pelo
medo de se contaminar, por desprezo ou aversão social não tiveram
dificuldade em deixar aquele homem caído na estrada. O bom Samaritano,
como todas as vossas casas, mostram-nos que o próximo é, antes de tudo,
uma pessoa, alguém com um rosto concreto e real, e não qualquer coisa a
deixar para trás ou ignorar, seja qual for a sua situação. É um rosto
que revela a nossa humanidade tantas vezes atribulada e ignorada.
É um rosto que incomoda maravilhosamente a vida, porque nos lembra e
coloca na estrada daquilo que é verdadeiramente importante, livrando-nos
de banalizar e tornar supérfluo o nosso seguimento do Senhor.
Estar aqui é tocar o rosto silencioso e materno da Igreja, que é capaz de profetizar e criar casa, criar comunidade;
o rosto da Igreja, que normalmente não se vê e passa despercebido, mas é
sinal da misericórdia e ternura concreta de Deus, sinal vivo da boa
nova da ressurreição que hoje atua na nossa vida.
Criar «casa» é criar família; é aprender a sentir-mo-nos unido aos
outros, sem olhar a vínculos utilitaristas ou funcionais, de modo que
nos faça sentir a vida um pouco mais humana. Criar casa é permitir que a
profecia encarne e torne as nossas horas e dias menos rudes,
indiferentes e anónimos. É criar laços que se constroem com gestos
simples, diários e que todos podemos realizar. Como todos sabemos muito
bem, uma casa precisa da colaboração de todos. Ninguém pode ficar
indiferente ou alheio, porque cada qual é uma pedra necessária na sua
construção. Isto implica pedir ao Senhor que nos conceda a graça de
aprender a ter paciência, aprender a perdoar-nos; aprender cada dia a
recomeçar. E quantas vezes temos de perdoar e recomeçar? Setenta vezes
sete, todas as vezes que for necessário. Criar relações fortes requer a
confiança, que se alimenta diariamente de paciência e perdão.
Deste modo se concretiza o milagre de experimentar que, aqui, se
nasce de novo; aqui todos nascemos de novo, porque sentimos a eficácia
da carícia de Deus que nos permite sonhar o mundo mais humano e,
consequentemente, mais divino.
Obrigado a todos vós pelo exemplo e a generosidade; obrigado às
vossas Instituições, aos voluntários e aos benfeitores. Obrigado a
quantos tornam possível que o amor de Deus se faça cada vez mais
concreto e real, fixando o olhar nos olhos daqueles que nos rodeiam e
reconhecendo-nos como próximo deles.
Agora, aos rezarmos o Angelus, confio-vos à nossa Mãe, a
Virgem Maria. Como a uma boa mãe que se entende de ternura e
proximidade, pedimos-Lhe que nos ensine a estar atentos para descobrir
cada dia quem é o nosso próximo e nos encoraje a ir prontamente ao seu
encontro e dar-lhe uma casa, um abraço onde possa encontrar proteção e
amor de irmãos. Uma missão, em que todos estamos envolvidos.
Convido-vos agora a colocar sob o manto d’Ela todas as vossas
expetativas e necessidades, as tristezas que trazeis dentro de vós, as
feridas que vos fazem sofrer, para que, como Boa Samaritana, venha a nós
e nos assista com a sua maternidade, a sua ternura, o seu sorriso de
Mãe.
VN
Sem comentários:
Enviar um comentário