O Papa Francisco
visitou o Centro de Reabilitação de Menores "As Garças" na manhã desta
sexta-feira (25/01) em Pacora, região metropolitana da Cidade do Panamá.
Na homilia da liturgia penitencial, o Pontífice motivou a não ter medo
da transformação e da conversão e dos olhares da "murmuração e bisbilhotices":
os rótulos produzem divisão, "aqui os bons, ali os maus; aqui os
justos, ali os pecadores".
Manoel Tavares e Andressa Collet - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco iniciou as atividades na manhã desta sexta-feira
(25/01), terceiro dia da sua viagem ao Panamá, com uma visita ao Centro
de Reabilitação de Menores “As Garças”, em Pacora, situado a cerca de 40
quilómetros da capital panamenha. A penitenciária, que acolhe 192
menores, é considerada um exemplo para o país, porque oferece aos jovens
detidos um percurso de integração social integral, mediante um caminho
educativo, familiar, sanitário e de formação profissional e humana.
O Papa presidiu uma liturgia penitencial no local, com os menores e
jovens, privados de liberdade, partindo da citação evangélica: “Haverá alegria no céu por um só pecador que se converte”. Jesus
acolhe os pecadores e come com eles! Este gesto, disse o Papa, causou
murmuração entre alguns fariseus e escribas, escandalizados e
incomodados com a atitude de Jesus. Eles queriam desqualificá-Lo e
desacreditá-Lo diante do povo.
Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras
razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos –
lembremo-nos de que os publicanos enriqueciam roubando o seu próprio
povo, provocando muita, mas muita indignação – ou o peso das suas
culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por
pecadores. Fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só
pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de
conversão (cf. Lc 15, 7).
O olhar da murmuração e bisbilhotice
Enquanto eles se limitavam a murmurar ou a ficar indignados, sem a
possibilidade de qualquer mudança, conversão e inclusão, explicou o
Papa, Jesus aproxima-se, compromete-se, colocando em risco a sua
reputação, e convida sempre a uma maior renovação da vida e da história.
Dois modos de se comportar, bem diferentes, que se contrapõem: um olhar
estéril e infecundo – murmuração e bisbilhotice – e o outro que convida à
transformação e à conversão, proposta pelo Senhor. Explicando o primeiro
modo de se comportar, Francisco disse parece ser mais fácil colocar
etiquetas e rótulos que produzem divisão: aqui os bons, ali os maus;
aqui os justos, ali os pecadores.
Esse modo de agir dos fariseus e escribas, disse o Papa, contamina
tudo, levanta um muro invisível, marginaliza, separa e isola num círculo
vicioso.
“ Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias
mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por
criar oportunidades e transformação! ”
O olhar da conversão
Aqui, Francisco esclareceu a atitude de Jesus que visa a conversão e a transformação, mediante o amor misericordioso do Pai:
Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o
círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a
complexidade da vida e de cada situação; um amor que inaugura uma
dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades de integração e
transformação, cura e perdão, caminhos de salvação.
Ao comer com os publicanos e pecadores, Jesus rompe a lógica de
separação, exclusão, isolamento e divisão entre bons e maus. Assim,
rompe também com outro tipo de murmuração, a interior, incapaz de
transformação.
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Por isso, o Santo Padre exortou os presentes a percorrer esse caminho
de superação, proposto por Jesus, sem desanimar. A alegria e a
esperança do cristão nasce da experiência do olhar de Deus, que caminha
connosco e nos ajudar a alcançar as nossas metas. "Amigos, cada um de nós é
muito mais do que os rótulos que nos dão", disse o Papa.
Uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela
transformação dos seus filhos, uma comunidade adoece quando vive a
murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é
fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar,
assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que dêem novas
possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com
comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a
impotência de não saber como, nem por isso se arrende, mas tenta de
novo. Todos nós devemos ajudar para aprender, em comunidade, a encontrar
estes caminhos.
O Papa finalizou convidando todos "a lutar sem cessar para encontrar
caminhos de inserção e transformação", e a "experimentar o olhar do
Senhor que vê, não um rótulo ou uma condenação, mas filhos".
Após o rito penitencial, o Papa Francisco deu de presente aos jovens
detidos uma escultura em ferro, de Cristo na Cruz contornado por ramos de
oliveira, de um artesão italiano, Pietro Lettieri.
Ao terminar a celebração, Francisco retornou à Nunciatura Apostólica
da capital panamenha, para o almoço e um breve momento de descanso. Na
parte da tarde, o Santo Padre irá para o Campo de Santa Maria La
Antigua, nas margens do Oceano Pacífico, onde presidirá à Via Sacra com
os milhares de jovens desta 34ª JMJ. Com este encontro, o Papa encerra
seu terceiro dia de atividades em terras panamenhas.
Leia também a homilia integral do Papa Francisco, aos menores do Centro de Reabilitação
"«Este acolhe os pecadores e come com eles» (Lc 15, 2),
acabamos de ouvir no início do trecho evangélico. Assim murmuravam
alguns fariseus e escribas, muito escandalizados e incomodados com o
comportamento de Jesus.
Pretendiam, com esta afirmação, desqualificá-Lo e desacreditá-Lo à
vista de todos, mas tudo o que conseguiram fazer foi destacar um dos
seus procedimentos mais comuns e caraterísticos: «Este acolhe os
pecadores e come com eles».
Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões,
carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos –
lembremo-nos que os publicanos enriqueciam roubando o seu próprio
povo, provocando muita, mas muita indignação – ou o peso das suas
culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por
pecadores. Fá-lo porque sabe que, no Céu, há mais alegria por um só
pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de
conversão (cf. Lc 15, 7).
Enquanto aqueles se limitavam a murmurar ou indignar-se, bloqueando e
fechando assim qualquer possibilidade de mudança, conversão e inclusão,
Jesus aproxima-Se, compromete-Se (coloca em risco a sua reputação) e convida sempre a fixar um horizonte capaz de renovar a vida e a
história. Dois olhares muito diferentes, que se contrapõem: um olhar
estéril e infecundo – o da murmuração e bisbilhotice – e o outro que convida à
transformação e conversão – o do Senhor.
O olhar da murmuração e bisbilhotice
Muitos não suportam nem gostam desta opção de Jesus; antes,
manifestam o seu descontentamento, inicialmente por entre dentes mas no
final aos gritos, procurando desacreditar o seu comportamento e o de
quantos estão com Ele. Não aceitam e rejeitam esta opção de estar
próximo e oferecer novas oportunidades. Sobre a vida do povo,
parece-lhes mais fácil colocar etiquetas e rótulos que congelam e
estigmatizam não só o passado, mas também o presente e o futuro das
pessoas. Rótulos que, em última análise, nada mais produzem senão
divisão: daqui os bons, além os maus; daqui os justos, além os
pecadores.
Este procedimento contamina tudo, porque levanta um muro invisível
que faz pensar que marginalizando, separando e isolando resolver-se-ão,
magicamente todos os problemas. E, quando uma sociedade ou comunidade se decide por isso, limitando-se a criticar e murmurar, entra num
círculo vicioso de divisões, censuras e condenações; entra numa conduta
social de marginalização, exclusão e oposição tal que leva a dizer
irresponsavelmente como Caifás: «Convém que morra um só homem pelo povo,
e não pereça a nação inteira» (Jo 11, 50). E, normalmente, a corda quebra pelo ponto mais fraco: o dos mais frágeis e indefesos.
Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em
murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar
oportunidades e transformação!
O olhar da conversão
Ao invés, todo o Evangelho está marcado pelo outro olhar que nasce
precisamente do coração de Deus. O Senhor quer fazer festa quando vê os
seus filhos que regressam a casa (Lc 15, 11-32). Assim o
testemunhou Jesus, levando até ao extremo a manifestação do amor
misericordioso do Pai. Um amor que não tem tempo para murmurar, mas
procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e
imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação; um amor
que inaugura uma dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades
de integração e transformação, cura e perdão, caminhos de salvação.
Comendo com publicanos e pecadores, Jesus quebra a lógica que separa,
exclui, isola e divide falsamente entre «bons e maus». E fá-lo, não por
decreto ou com boas intenções, nem com voluntarismos ou sentimentalismo,
mas criando vínculos capazes de permitir novos processos; apostando e fazendo festa em cada passo possível.
Deste modo quebra também com outra murmuração difícil de detetar, que
«fura os sonhos» pois repete como sussurro contínuo: tu não consegues,
não consegues… É o murmúrio interior que brota em quem, tendo chorado o
seu pecado e consciente do próprio erro, não crê que possa mudar. É
quando se está intimamente convencido que aquele que nasceu «publicano»
tem que morrer «publicano»; e isto não é verdade!
Amigos, cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão.
Assim Jesus no-lo ensina e convida a acreditar. O seu olhar desafia-nos a
pedir e procurar ajuda para percorrer os caminhos da superação. Por
vezes a murmuração parece vencer, mas não acrediteis, não lhe presteis
ouvidos. Procurai e ouvi as vozes que impelem a olhar para diante e não
aquelas que vos desencorajam.
A alegria e a esperança do cristão – de todos nós, também do Papa –
nasce de ter experimentado alguma vez este olhar de Deus que nos diz: tu fazes parte da minha família e não posso abandonar-te às intempéries,
não posso perder-te pelo caminho, estou contigo aqui. Aqui? Sim, aqui.
Nasce de ter sentido – como partilhaste tu, Luís – que, naqueles
momentos em que tudo parecia ter acabado, algo te disse: Não! Não está
tudo acabado, porque tens uma finalidade grande que te permite entender
que Deus Pai estava e está com todos nós e nos dá pessoas para caminhar
connosco e ajudar-nos a alcançar novas metas.
E, assim, Jesus transforma a murmuração em festa e diz-nos: «Alegrai-vos comigo!» (Lc 15, 6).
Irmãos, vós fazeis parte da família, tendes muito para partilhar.
Ajudai-nos a saber qual é a melhor maneira para viver e acompanhar o
processo de transformação de que todos, como família, temos necessidade.
Uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela
transformação dos seus filhos, uma comunidade adoece quando vive a
murmuração que esmaga e condena, sem sensibilidade. Uma sociedade é
fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar,
assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas
possibilidades aos seus filhos, quando se preocupa por criar futuro com
comunidade, instrução e trabalho. E embora possa experimentar a
impotência de não saber como, nem por isso se arrende, mas tenta de
novo. Todos nós devemos ajudar para aprender, em comunidade, a encontrar
estes caminhos. É uma aliança que temos de animar a realizar: vós,
rapazes, os responsáveis pela custódia e as autoridades do Centro e do
Ministério, e as vossas famílias, bem como os agentes pastorais. Todos
juntos, lutai sem cessar por encontrar caminhos de inserção e
transformação. Isto, o Senhor o abençoa, sustenta e acompanha.
Em breve, continuaremos a Celebração Penitencial, na qual todos
poderemos experimentar o olhar do Senhor, que vê, não um rótulo ou uma
condenação, mas filhos. Olhar de Deus que desmente as desqualificações e
nos dá a força para criar as alianças necessárias que nos ajudem a
desmentir as murmurações, alianças fraternas que permitam à nossa vida
ser sempre um convite à alegria da salvação."
VN
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