"Rezar é desde agora a vitória sobre a solidão e o desespero. É como ver cada fragmento da criação que fervilha no torpor de uma história que às vezes não entendemos o porquê. Mas está em movimento, no caminho, e no final de cada estrada há um Pai que espera por tudo e todos com os braços bem abertos”. Deus responde sempre à nossa oração, disse o Papa na sua catequese.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
“Podemos estar certos de que Deus responderá. Talvez tenhamos que insistir por toda a vida, mas Ele responderá.”
Dando sequência à sua série de catequeses sobre o Pai Nosso, o Papa
falou na Audiência Geral desta quarta-feira sobre a oração perseverante,
inspirando-se na passagem de São Lucas 11, 9-13: “Batei e vos será
aberto”.
Dirigindo-se aos 7 mil peregrinos presentes na Sala Paulo VI,
Francisco começa recordando que o evangelista descreve “a figura de
Cristo numa atmosfera densa de oração. Nele estão contidos os três
hinos que marcam ao longo do dia a oração da Igreja: o Benedictus, o Magnificat e o Nunc dimittis”.
“Na catequese sobre o Pai Nosso vemos Jesus como orante. Jesus reza",
enfatiza o Pontífice. Cada passo na sua vida “é como que movido pelo
sopro do Espírito que o guia em todas as suas ações”. E o Papa recorda a
Transfiguração, o batismo no Jordão, a intercessão por Pedro. Nas
decisões mais importantes – observa - Jesus “retira-se frequentemente
para a solidão, para rezar. Até a morte do Messias está mergulhada num
clima de oração, tanto que as horas da Paixão parecem marcadas por uma
calma surpreendente.”
Jesus consola as mulheres, reza pelos que o crucificam, promete o
Paraíso ao bom ladrão, expira dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu
espírito”:
Dirigir-se a Deus como Pai
É no Evangelho de Lucas – chama a atenção o Papa – que um dos seus discípulos pede que o próprio Jesus os ensine a rezar (...). Também nós podemos dizer isto ao Senhor: ensina-me a rezar, para que também eu possa rezar".
.
E deste pedido dos discípulos – explica – “nasce um ensinamento
bastante extenso, através do qual Jesus explica aos seus com que
palavras e com que sentimentos devem dirigir-se a Deus”. E “a primeira
parte deste ensinamento é justamente a oração ao Pai (...). O cristão
dirige-se a Deus chamando-o antes de tudo de 'Pai'". Nós podemos estar
em oração "somente com esta palavra, Pai, e sentir que temos um Pai, não
um patrão, nem um padrinho, mas um pai".
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Audiência Geral de 9 de janeiro de 2019
Mas neste ensinamento que Jesus dá aos seus discípulos – prossegue
Francisco - é interessante insistir em algumas instruções que coroam o
texto da oração. Para dar confiança à oração, Jesus explica algumas
coisas: “Elas insistem nas atitudes do crente que reza”
.
E ilustra isso com “a parábola do amigo inoportuno que vai perturbar
toda uma família que dorme, porque de forma inesperada uma pessoa chegou
de uma viagem e não tem pão para oferecer-lhe. Jesus explica que se
ele não se levantar para dar o pão porque é seu amigo, ao menos levantar-se-á por causa da importunação. "Com isto, Jesus quer ensinar a
rezar, a insistir na oração". E ilustra também com “o exemplo de um pai
que tem um filho faminto: "Qual pai entre vós - pergunta Jesus - se o
filho lhe pedir um peixe, lhe dará uma cobra em vez de peixe?".
A oração transforma sempre a realidade
Com estas parábolas – diz o Papa – Jesus faz entender que Deus
responde sempre, que nenhuma oração fica sem ser ouvida, “que Ele é Pai e
não esquece os seus filhos que sofrem”:
“Certamente, estas afirmações colocam-nos em crise, porque muitas
das nossas orações parecem não ter resultado algum. Quantas vezes
pedimos e não obtemos - todos temos experiência disto - batemos e
encontramos uma porta fechada? Jesus recomenda-nos, nesses momentos,
para insistir e a não nos darmos por vencidos. A oração
transforma sempre a realidade, a oração transforma sempre, sempre, transforma a
realidade: se não mudam as coisas à nossa volta, pelo menos muda-nos,
muda o nosso coração. Jesus prometeu o dom do Espírito Santo a todo
homem e mulher que reza”.
Perseverar na oração, Deus responde sempre
“Podemos estar certos – diz Francisco - de que Deus responderá. A
única incerteza – ressalta - é devida aos tempos, mas não duvidamos que
Ele responderá”:
“Talvez tenhamos que insistir por toda a vida, mas Ele responderá.
Ele o prometeu: Ele não é como um pai que dá uma serpente em vez de um
peixe. Não há nada de mais certo: o desejo de felicidade que todos nós
trazemos no coração, um dia se cumprirá. Jesus diz: "Não fará Deus
justiça aos seus eleitos, que clamam dia e noite a ele?" Sim, fará
justiça, escutará-nos-á. Que dia de glória e ressurreição será!”
"É como ver cada fragmento da criação que fervilha no torpor de uma
história que às vezes não entendemos o porquê. Mas está em movimento,
no caminho, e no final de cada estrada, da oração, de um tempo que
estamos a rezar, ao fim da vida, há um Pai que espera por tudo e todos
com os braços bem abertos. Olhemos para este Pai”.
VN
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