17 janeiro, 2019

Papa: a Palavra de Deus é vida, não endurece o coração

 
Papa celebra a missa na Casa Santa Marta  (ANSA)
 
O Papa Francisco indicou três palavras que podem ajudar a entender a atitude do cristão de coração fechado: "dureza", "obstinação" e "sedução".
 
Gabriella Ceraso – Cidade do Vaticano

"Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós um coração transviado pela incredulidade, levando-o a afastar-se do Deus vivo". Esta advertência contida na Carta aos Hebreus, extraída da Primeira Leitura, inspirou a homilia do Papa Francisco ao celebrar a missa desta manhã (17/01), na capela da Casa de Santa Marta.

Todos os membros da comunidade cristã, afirmou o Pontífice, padres, freiras e bispos, correm o risco de ficar com o coração endurecido. Mas o que significa para nós esta advertência?

O Papa indicou três palavras, extraídas sempre da Primeira Leitura, que podem ajudar-nos a entender: "dureza", "obstinação" e "sedução".

Cristãos pusilânimes, sem a coragem de viver

Um coração endurecido é um coração “fechado”, “que não quer crescer, defende-se, fecha-se". Na vida, isto pode acontecer na decorrência de inúmeros fatores, por exemplo, uma “forte dor”, porque “os golpes endurecem a pele", notou Francisco. Aconteceu com os discípulos de Emaús e também com Tomé. E quem permanece nesta atitude negativa é "pusilânime", e um "coração pusilânime é perverso":

Podemos questionar: eu tenho o coração duro, tenho o coração fechado? Eu deixo o meu coração crescer? Tenho medo que cresça? E se cresce sempre com as provações, com as dificuldades, se cresce como crescemos todos nós quando crianças: aprendemos a caminhar caindo, do gatinhar ao caminhar quantas vezes caímos! Mas cresce-se com as dificuldades. Dureza e também fechamento. Mas quem permanece nisto… “Quem são, padre?” São os pusilânimos. A pusilanimidade é uma atitude má no cristão, falta-lhe a coragem de viver. Ele fecha-se… 

Cristãos obstinados

A segunda palavra é "obstinação": "animai-vos uns aos outros, dia após dia, para que nenhum de vós se endureça" está escrito na Carta aos Hebreus e é a acusação que Estevão faz àqueles que o lapidarão. A obstinação é "a teimosia espiritual ": um coração obstinado – explicou Francisco - é "rebelde", é "teimoso", está fechado no próprio pensamento, não “aberto ao Espírito Santo". É o perfil dos “ideólogos”, também orgulhosos e soberbos:

A ideologia é uma obstinação. A Palavra de Deus, a graça do Espírito Santo, não é ideologia: é vida que o faz crescer, ir avante e também abrir o coração aos sinais do Espírito, aos sinais dos tempos. Mas a obstinação é também orgulho, é soberba. A teimosia, aquela teimosia que faz muito mal: fechados de coração, duros – primeira palavra – são os pusilânimes; os teimosos, os obstinados, como diz o texto, são os ideólogos. Mas eu tenho um coração teimoso? Cada um que pense. Eu sou capaz de ouvir as outras pessoas? E se penso diversamente, dizer: “Mas eu penso assim…” Sou capaz de dialogar? Os obstinados não dialogam, não sabem, porque se defendem sempre com as ideias, são ideólogos. E as ideologias quanto mal fazem para o povo de Deus, quanto mal! Porque fecham a atividade do Espírito Santo. 

Cristãos escravos da sedução

A última palavra sobre a qual o Papa reflete é a "sedução", a sedução do pecado, obra do diabo, o “grande sedutor”, “um grande teólogo, mas sem fé, com ódio", o qual quer "entrar e dominar" o coração e sabe como fazê-lo. Então, conclui o Papa, um “coração perverso é aquele que se deixa conquistar pela sedução e a sedução leva-o à obstinação, ao fechamento e a tantas outras coisas":

E com a sedução ou te convertes e mudas de vida, ou tentas fazer pactos: um pouco aqui e um pouco ali. “Sim, sim, eu sigo o Senhor, mas eu gosto desta sedução, mas um pouco...” E começas a fazer uma vida cristã dupla. Para usar a palavra do grande Elias ao povo de Israel naquele momento: “Vocês mancam com as duas pernas”. Mancar com as tuas pernas, sem ter uma firme. É a vida de pactos: “Sim, eu sou cristão, sigo o Senhor, sim, mas este eu deixo-o entrar …”. E assim são os mornos, aqueles que sempre fazem pactos: cristãos de pactos. Também nós muitas vezes fazemos isso: o pacto. Quando o Senhor nos indica a estrada, também com os mandamentos, com a inspiração do Espírito Santo, mas eu gosto de outra coisa e busco o modo de caminhar nos dois trilhos, mancando com as duas pernas.

A invocação final do Papa é para que o Espírito Santo nos ilumine para que ninguém tenha um coração perverso: "um coração duro, que o leva à pusilanimidade; um coração obstinado que o leva à rebelião; um coração seduzido, escravo da sedução, que o leva a um cristianismo de pactos”.



VN

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