Católicos chineses
Porquê um diálogo com as Autoridades
chinesas? Os católicos na China permanecem fiéis apesar dos graves
sofrimentos causados por um regime hostil à religião. O que este diálogo
pode conseguir?
Sergio Centofanti e Pe. Bernd Hagenkord, SJ
O diálogo é uma dimensão constitutiva na vida da Igreja. Ele ocupa um
lugar primordial no seu modo de agir, tanto no seu interior, quanto no
seu relacionamento com o mundo. Dialogar significa entrar em contacto com
a sociedade, com as religiões, com as culturas… O Concílio Vaticano II
já convidava a assumir o diálogo como estilo de ação pastoral, não só
entre os membros da Igreja, mas também com os não cristãos, as
autoridades civis e as pessoas de boa vontade. Segundo a constituição Gaudium et Spes: “[…] todos
os homens, crentes e não-crentes, devem contribuir para a reta
construção do mundo no qual vivem em comum. O que não é possível sem um
prudente e sincero diálogo” (n. 21).
O diálogo alimenta-se de confiança
Papa Paulo VI também falou de maneira esclarecedora na encíclica Ecclesiam Suam: “A Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se colóquio” (n. 38); a Igreja Católica “deve estar pronta a sustentar o diálogo com todos os homens de boa vontade, dentro e fora do seu âmbito próprio” (n. 53).
O diálogo, entre as pessoas, as instituições, as comunidades humanas,
permite o conhecimento recíproco, que pode também tornar-se amizade. Em
todo o caso, o diálogo nutre-se principalmente de confiança. A confiança
recíproca é o fruto da soma de pequenos passos, gestos e encontros que
acontecem concretamente em várias ocasiões, muitas vezes sem pretensões e
com grande discrição. “há sempre portas que não estão fechadas”, como
dizia o Santo Padre (17 de maio de 2017).
Clima de diálogo entre Santa Sé e China graças aos pequenos passos dos últimos pontífices
O atual clima do diálogo entre Santa Sé e China chegou a este ponto
graças aos pequenos grandes passos realizados pelos últimos Pontífices,
pois cada um abriu um caminho, acrescentou um tijolo à nova construção,
inspirou pensamentos e ações de esperança. Pensemos no equilíbrio de
Paulo VI no seu modo de agir, às claras indicações de Bento XVI e de São
João Paulo II sobre um diálogo pró-ativo com as Autoridades chinesas.
Enfim, pensemos na aceleração que o Papa Francisco, com a sua
personalidade, os seus gestos e o seu magistério, está imprimindo no
processo de aproximação e de encontro entre os povos, incluindo os
chineses.
Um diálogo animado pela busca da verdade e da justiça
Certamente, a escolha eclesial do diálogo não é um método a ser
testado, não é a busca de compromissos a todo o custo ou uma atitude
renunciatória, típica de quem está disposto a “sacrificar” os próprios
princípios por um fácil sucesso político ou diplomático, esquecendo
deste modo, o caminho sofredor da comunidade católica. Para a Igreja, o
diálogo deve ser sempre animado pela busca da verdade e da justiça,
orientado a perseguir o bem integral da pessoa, no respeito dos direitos
fundamentais. Porém, a missão da Igreja, mesmo na China, não é a de
mudar a estrutura ou a administração do Estado, ou ficar contra o poder
temporal que se exprime na vida política. Com efeito, se a Igreja
fizesse da sua missão apenas uma batalha política, trairia a sua
verdadeira natureza e tornar-dr-ia um protagonista político como outros,
renunciando à própria vocação transcendente e reduzindo a própria ação a
um horizonte puramente temporal.
O diálogo ajudará a instaurar um clima mais confiante entre a Santa Sé e a China
O diálogo sincero e honesto consente, ao invés, de agir a partir de
dentro da sociedade, seja para tutelar as legítimas esperas dos
católicos, seja para favorecer o bem de todos. Neste contexto, quando a
voz da Igreja se torna crítica, não acontece para causar polémicas ou
condenar de modo estéril, mas para promover com espírito construtivo uma
sociedade mais justa. Assim também a crítica se torna um exercício
concreto de caridade pastoral, porque reúne o grito do sofrimento dos
mais fracos, dos que não têm a força ou condições de serem ouvidos.
Na opinião da Santa Sé, também na China, o método do diálogo franco e
respeitador, embora levado adiante com fadiga e sempre com alguns
riscos, consentirá a instauração de um clima de confronto mais
confiante, útil para o conhecimento recíproco e capaz de superar
gradualmente as graves incompreensões do passado mesmo recente.
Deus está a trabalhar concretamente para o futuro dos católicos chineses
Atualmente, vários sinais fazem entender que a China está cada vez
mais atenta ao “soft power” que a Santa Sé exerce a nível
internacional. Na China, a história está a fazer o seu caminho e exige
uma obra de discernimento atento por parte dos que têm particular
responsabilidade na Igreja.
Justamente por isto, o diálogo que a Santa Sé adotou há mais de 25
anos nas relações com as Autoridades chinesas, assume hoje linhas de um
verdadeiro dever pastoral para os que querem ler os sinais dos tempos e
reconhecer que Deus está presente na história, guiando-a com a sua
providência, e atuando concretamente pelo futuro dos católicos chineses.
VATICAN NEWS
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