26 maio, 2018

“Há uma sociedade que é claramente contra a eutanásia"

“Dar voz” à sociedade que rejeita a eutanásia é o objetivo da concentração junto à Assembleia da República, marcada para terça-feira, 29 de maio. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o porta-voz da organização e da campanha ‘Toda a Vida tem dignidade’, José Maria Seabra Duque, pede o cumprimento da Constituição, deseja mais soluções que ajudem a “cuidar” dos “mais frágeis” e faz um apelo à participação na iniciativa.


No próximo dia 29, na mesma data da discussão parlamentar, a campanha ‘Toda a Vida tem dignidade’ tem agendada uma concentração para decorrer em frente à Assembleia da República. O que pretendem com esta ação? 

Pretende-se, sobretudo, claramente e publicamente, afirmar que existe um povo que não quer a eutanásia, que a rejeita. Defendemos uma sociedade que cuida, que acompanha os mais frágeis, os mais doentes e não uma sociedade que mata. Por isso, queremos que os senhores deputados oiçam e vejam isso. Este assunto, a ser discutido – embora eu tenha sérias dúvidas –, é para ser discutido em campanha eleitoral. Ora, este assunto não esteve em nenhum programa eleitoral. Isto é uma invenção do Bloco de Esquerda que, em vez de o pôr no programa eleitoral, decidiu fazer uma petição, com uma ou duas pessoas da sociedade civil, para fingir que havia uma certa movimentação na sociedade sobre este assunto. Não é verdade. Aquilo que existe na sociedade civil é uma clara a rejeição da eutanásia. Vemos isso, sobretudo naquela parte da sociedade que acompanha os doentes em final de vida: os médicos (os cinco últimos e o atual bastonário da Ordem são contra) e os enfermeiros (a Ordem emitiu um parecer desfavorável a estes projetos de lei). Vimos, na semana passada, representantes das maiores religiões em Portugal a rejeitarem a eutanásia. Há uma sociedade que é claramente contra a eutanásia. É para dar voz a esta sociedade que, no dia 29, estaremos em São Bento.

Na discussão, há um ponto em comum: todos concordam com um maior investimento em cuidados paliativos. Faz sentido essa questão entrar juntamente com o debate que se está a fazer sobre a eutanásia? 
O que não faz sentido é o debate da eutanásia. Existe aqui um claro problema que é preciso enfrentar: vivemos num tempo e numa sociedade que não cuida dos seus mais frágeis. Todos nós conhecemos histórias de idosos abandonados. E aqui não vale a pena culpar a família da pessoa que, muitas vezes, trabalha oito horas e leva o ordenado mínimo para casa e vive numa cidade que não cria condições para esse filho apoiar a mãe, por exemplo, e onde dificilmente se conseguem condições para uma pessoa acamada estar em casa. Esse é o real problema. É um problema de uma sociedade que olha para os doentes idosos e não tem solução para lhes dar. Esse é um problema que vale a pena discutir. É aí que entram os cuidados paliativos, continuados, é aí que entra o papel da família e do apoio às famílias. Infelizmente, o que estamos a discutir é se o Estado pode ou não matar pessoas que pedem para morrer. Por isso, o nosso lema tem sido: “Não mates, cuida”. Arranjemos condições para a sociedade cuidar daqueles mais frágeis.

O facto de a concentração decorrer num dia de semana e à hora do almoço poderá ser um fator desmobilizador?
Sempre que marcamos alguma coisa, há sempre uma razão para ser desmobilizador. Evidentemente que existem sempre inconvenientes para qualquer data. Mas este é o dia! É o dia em que os deputados vão debater e votar. Aquela hora é a hora em que os senhores deputados estão a entrar para a Assembleia da República. Eu percebo todos os inconvenientes, mas aquilo que nos devemos perguntar é: quando, daqui uns anos, acontecer em Portugal o que acontece na Holanda (de 1 hora e 20 minutos em 1 hora e 20 minutos há uma eutanásia) e nós pensarmos no que poderíamos ter feito, o que é que a consciência nos acusará? Se isto for aprovado, quando estiverem pessoas nos hospitais a morrerem de eutanásia e que podiam ser cuidadas, amadas, estimadas – mas, como se oferece esta solução, acabaram por recorrer a ela –, nós pensaremos: há quatro anos, quando os deputados estavam a discutir esta lei, onde é que eu estava

  • Leia a entrevista completa na edição do dia 27 de maio do Jornal VOZ DA VERDADE, disponível nas paróquias ou em sua casa.
Patriarcado de Lisboa

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