(RV) No
âmbito da sua visita pastoral à Diocese de Milão, o Papa Francisco
presidiu neste sábado (25 de março, Solenidade da Anunciação do Senhor) à
Santa Missa no Parque de Monza, com presença de milhares de fiéis. Na
homilia, comentando o Evangelho do dia, Francisco referiu-se antes de
tudo às duas anunciações de que fala S. Lucas: a anunciação de João
Baptista, quando Zacarias estava em plena liturgia no Santuário do
Templo, e a anunciação de Jesus, num lugar apartado, a Galileia, cidade
periférica e no anonimato da casa de Maria.
O contraste entre as duas anunciações – explicou Francisco – diz-nos
que o novo templo de Deus, o novo encontro de Deus com o seu povo
acontece em lugares inesperados, nas margens, na periferia, e que é na
periferia onde Deus se encontrará com o seu povo, Deus se fará carne
para caminhar connosco desde o seio de Maria sua mãe.
E é o próprio Deus – prosseguiu Francisco – que toma a iniciativa e
escolhe de inserir-se, como fez com Maria, nas nossas casas, nas nossas
lutas quotidianas, cheias de ânsias e também de desejos; e é dentro das
nossas cidades, das nossas escolas e universidades, das praças e dos
hospitais que acontece o anúncio mais belo que possamos escutar:
“Alegra-te, o Senhor está contigo!”, uma alegria que se torna
solidariedade, hospitalidade e misericórdia para com todos.
Mas como Maria – observou ainda Francisco - podemos também nós estar
perturbados e, em tempos de ritmo vertiginoso e cheios de especulação,
como os nossos, podermos dizer:
"Como vai isso acontecer" em tempos assim tão cheios de especulação?
Se especula sobre a vida, o trabalho, a família. Se especula sobre os
pobres e os migrantes; se especula sobre os jovens e o seu futuro. Tudo
parece estar reduzido a números, deixando, por outro lado, que a vida
quotidiana de muitas famílias se colore de incerteza e insegurança.
Enquanto a dor bate à porta de muita gente, enquanto em muitos jovens
cresce a insatisfação por falta de oportunidades reais, a especulação
abunda em toda parte”.
Como é possível viver a alegria do Evangelho, hoje, nas nossas
cidades? É possível a esperança cristã nesta situação, aqui e agora? –
se perguntou Francisco.
Estas duas perguntas tocam a nossa identidade, a vida das nossas
famílias, dos nossos países e dos nossas cidades; elas tocam a vida dos
nossos filhos, dos nossos jovens e exigem de nós um novo modo de
situar-nos na história - explicou Francisco, que também acrescentou:
“Se continuam a ser possíveis a alegria e a esperança cristã, não
podemos, e não queremos permanecer perante tantas situações dolorosas
como meros espectadores que olham para o céu esperando que "páre de
chover". Tudo o que acontece exige de nós que olhemos para o presente
com audácia, com a coragem de quem sabe que a alegria da salvação toma
forma na vida quotidiana da casa de uma jovem de Nazaré”.
E perante as nossas perturbações, o Papa mencionou três chaves que o
Anjo nos oferece para nos ajudar a aceitar a missão que nos é confiada:
evocar a memória, a pertença ao povo de Deus e a possibilidade das
coisas impossíveis.
Sobre a memória, o Papa frisou que também nós, hoje, somos convidados
a fazer memória, a olhar para o nosso passado para não esquecer de onde
viemos; para não esquecer os nossos antepassados, os nossos avós e de
tudo aquilo por que passaram para chegar onde estamos hoje. A memória,
disse ainda Francisco, ajuda-nos a não ficar prisioneiros de discursos
que semeiam fracturas e divisões como único modo de resolver os
conflitos.
Mas faz-nos bem recordar ainda que somos membros do povo de Deus,
disse Francisco falando da importância da pertença ao povo de Deus:
“Milaneses, sim, Ambrosianos, certamente, mas parte do grande povo de
Deus. Um povo formado por mil rostos, histórias e proveniências, um
povo multicultural e multiétnico. Esta é uma das nossas riquezas. É um
povo chamado a hospedar as diferenças, a integrá-las com respeito e
criatividade e a celebrar a novidade que vem dos outros; um povo que não
tem medo de abraçar os confins, as fronteiras; um povo que não tem medo
de dar acolhimento a quem dela necessita, porque sabe que lá está o seu
Senhor”.
E sobre a possibilidade das coisas impossíveis, o Papa advertiu que
quando pensamos que tudo depende apenas de nós continuamos prisioneiros
das nossas capacidades, da nossa força e dos nossos horizontes míopes,
mas quando nos deixamos ajudar, aconselhar, e quando nos abrimos à
graça, parece que o impossível começa a tornar-se realidade.
E Francisco concluiu recordando que, como ontem, Deus continua a
procurar aliados, continua a procurar homens e mulheres capazes de crer,
capazes de fazer memória, de sentir-se parte do seu povo para cooperar
com a criatividade do Espírito. Deus continua a caminhar nos nossos
bairros e nas nossas ruas, e em todos os lugares em busca de corações
capazes de ouvir o seu convite e fazer que que se torne carne, aqui e
agora – rematou Francisco. (BS)
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